Na entrevista, Garcia também relatou que recebeu ordens de Deltan Dallagnol, que teve a cassação confirmada na terça-feira (6) pela Câmara dos Deputados. De acordo com o ex-parlamentar, ele foi incitado pelo ex-procurador a continuar obtendo provas mesmo depois de já ter cumprido o acordo que o favorecia.
“Depois que meu acordo já tinha sido todo cumprido, o Deltan chegou a suprimir depoimento de gente que levei para revelar algumas coisas que aconteciam aqui. Ele queria continuar comigo com a faca no pescoço. Eles foram fazendo isso e começaram a escalar isso em 2014, quando veio a Lava Jato”, explica.
O que vem à tona
As novas mensagens vazadas que decorrem da Operação Spoofing e que foram validadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que o método de utilizar agentes infiltrados acontece pelo menos desde 2005, com o mesmo personagem, Tony Garcia, que foi usado como exemplo de sucesso por procuradores do Ministério Público Federal (MPF).
De acordo com os diálogos de 4 de agosto de 2015 e que resultaram na prisão de José Antunes Sobrinho, na 19ª fase da Operação Lava Jato, sócio da empreiteira Engevix, o procurador Athayde Ribeiro Costa se mostra preocupado.
Mensagem enviada às 19:48:04: “O colaborador vai ligar para o investigado e perguntar sobre documentos q [sic] seriam produzidos para lastrear contrato fictício. A gravação da ligação seria autorizada judicialmente e operada na sede da PF. Seria flagrante preparado/esperado? Teríamos problemas com essa prova?”
O procurador Januário Paludo, destinatário da mensagem, tranquiliza o colega e diz que já faz isso desde 2005.
Mensagem enviada às 20:17:40: “Em 2005 fizemos várias escutas ambientais a partir do escritório do colaborador (operação tnt). O colaborador marcava reunião e a conversa fluía sem provocação direta. Não anularam. Teria que recuperar a jurisprudência. O colaborador era o Tony Garcia.”
Depois de ser tranquilizado pelo colega, Athayde comemora prevendo o que iria acontecer.
Mensagem enviada às 21:08:20: “A medida já foi deferida… Heheh”.
De acordo com documentos, apesar de se utilizar de a figura do agente infiltrado e se valer desse método para atingir alvos, o MPF não anexou as provas no processo em um primeiro momento, o que indica a ilegalidade do cenário.
“No entanto, quando do encaminhamento do feito a este Juízo, parte dos registros audiovisuais da diligência de monitoramento não foi apensada aos autos, tendo sido expedido ofício ao Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR solicitando tal encaminhamento”, diz o documento.
Outro Lado
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do MPF para comentar a suposta associação e, até o momento, não obteve respostas.
A assessoria de Deltan Dallagnol optou por não comentar o caso.
Os procuradores Athayde Ribeiro Costa e Januário Paludo não retornaram os contatos feitos pela reportagem.