Fábrica de acidentes
A organização criminosa tinha um modus operandi definido no momento de comprar um determinado carro, circular com ele por alguns meses e depois planejar a colisão. As batidas sempre ocorriam em locais ermos e escuros, para dificultar a presença de testemunhas. Os integrantes do esquema adquiriam veículos importados de certo tempo de uso e de difícil comercialização, alguns ainda avariados.
Os investigadores descobriram que os veículos eram consertados e, logo depois, os criminosos contratavam seguros, sempre com valor de indenização correspondente a 100% da tabela Fipe, muito superior ao valor de aquisição e conserto dos carros. Para driblar o mercado segurador e dificultar a descoberta de vínculos criminosos, o bando se revezava na condição de proprietário, contratante do seguro, condutor, terceiro envolvido no acidente e recebedor da indenização, às vezes via procuração.
Da mesma forma, para dificultar a apuração policial, os membros da organização criminosa registravam as ocorrências dos acidentes por meio da Delegacia Eletrônica, afastando questionamentos da polícia judiciária sobre as circunstâncias dos supostos acidentes. Em seguida, o bando dava entrada no processo para o recebimento da indenização do seguro, sempre com base na tabela Fipe.
Viagens e curtição
A Polícia Civil não confirmou a identidade dos seis alvos da operação. No entanto, a coluna descobriu quem são os líderes da organização criminosa. Um dos chefes do esquema é o empresário Glauber Henrique Lucas de Oliveira. Nas redes sociais, ele coleciona uma rotina de viagens internacionais que retrata o lucro amealhado com os acidentes forjados.
O empresário e a mulher dele — a advogada também presa na operação — costumam viajar para capitais europeias, como Roma, Paris e Madri. Estadias em belas estações de esqui pelo mundo ou em resorts paradisíacos à beira-mar também costumam figurar no roteiro dos criminosos. A ostentação é exposta em fotos e vídeos no Instagram.
Outro cabeça da organização criminosa é o ex-policial militar Rosemberg de Freitas Silva. Ele foi expulso da PMDF por causa da emissão de 150 cheques sem fundos. Os veículos em nome do ex-militar chamam a atenção pelos altos valores. A coluna apurou que Rosemberg é dono de duas Porsches Cayenne, uma moto BMW R1250 e outra Honda PCX, além de três carros de menor valor, como um Honda Fit e um Hyundai HB20.
Esta é quinta operação da PCDF contra fraudes no recebimento de indenização de seguro de veículos. As anteriores ocorreram nos anos de 2011 (Operação BR Segura, da 18ª DP de Brazlândia); 2013 (Operação Perda Total, da extinta Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco), atualmente Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor); e 2020 (Operação Total Loss e Navio Fantasma, ambas da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri).