Ex-comissário relata medo de colegas em aeronaves da Voepass: ‘Não tinha explicação de como um avião daquele estava voando’

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Equipes trabalham no resgate de corpos nos destroços do avião modelo ATR 72-500, da companhia aérea Voepass, que caiu dentro de um condomínio residencial em Vinhedo, interior de São Paulo, deixando 62 mortos - Bruno Santos/Folhapress

O avião turboélice modelo ATR-72-500 da Voepass Linhas Aéreas passou por uma série de manutenções antes de cair repentinamente na cidade de Valinhos, no interior de São Paulo, matando todos os 62 ocupantes na última sexta-feira (9).

Após o acidente, relato de passageiros sobre problemas com ar-condicionado ou pelas condições do avião ganharam evidência. Para entender um pouco mais sobre a aeronave, o Fantástico conversou com o comandante Ruy Guardiola, pioneiro no uso de ATR no Brasil e um ex-comissário da empresa, que pediu para não ser identificado.

“A empresa colocava a segurança em segundo ou terceiro plano. Visava mais o lucro e a gente tinha um avião que apelidava de Maria da Fé, pra você ter ideia. Porque só voava pela fé. Porque não tinha explicação de como um avião daquele estava voando”, diz o ex-comissário da Voepass.

O comandante Guardiola voou 15 mil horas nesse avião e trabalhou um mês na Passaredo. Foi pouco mas ele nunca se esqueceu de uma situação inusitada com o sistema que controla a quantidade de geno na fuselagem.

“O problema foi detectado no nível de aquecimento de um dos sistemas. A solução encontrada pela manutenção foi a colocação de um palito de fósforo, ou sei lá, um palito de dente”, conta.

O diretor-presidente dos aeronautas, Henrique Haaklander, diz que há relatos de fadigas e falhas na manutenção das aeronaves da Voepass.

“Depois da pandemia, os tripulantes têm percebido níveis de fadiga ainda maiores. Os relatos mais recentes da Passaredo com relação à área de manutenção são por conta dos sistemas de ar-condicionado, que vinham apresentando algumas precariedades”, diz o diretor-presidente dos aeronautas, Henrique Haaklander.

É sempre importante lembrar que as investigações sobre o desastre em vinhedo ainda estão no começo e que novos dados, principalmente das caixas pretas, podem mudar o rumo das apurações. Mas, por enquanto, pelo que o programa Fantástico da TV Globo ouviu dos especialistas, as hipóteses principais, de uma maneira bem geral e simplificada, são as seguintes:

Por algum motivo técnico, os pilotos não perceberam o acúmulo do gelo na asa e seguiram voando na mesma altitude até perder a sustentação;

Os pilotos perceberam o acúmulo de gelo, mas os procedimentos seguidos não resolveram e o avião perdeu a sustentação;

Além da questão do gelo, pode ter havido algo relacionado ao “dano estrutura” que os mecânicos detectaram em março passado.

“Eu queria encorajar todo mundo que já passou pela empresa a poder relatar, para poder evitar que alguma outra coisa possa acontecer no futuro. Tem muita negligência com a segurança”, diz o ex-comissário da empresa.

O que diz a empresa

O programa Fantástico questionou a Voepass Linhas Aéreas sobre as ocorrências que colocaram a aeronave em manutenções antes do acidente. A empresa respondeu que informações relacionadas à investigação serão restritas à Aeronáutica e outras autoridades.

A empresa não respondeu sobre o que disse à reportagem do Fantástico um dos mais experientes pilotos de ATR do Brasil, que uma espécie de palito foi improvisado numa manutenção.

Sobre o dispositivo antigelo e o ar condicionado, a companhia afirmou que o ATR estava “aeronavegável”, com todos os sistemas requeridos em funcionamento, cumprindo requisitos e exigências das autoridades.

A Voepass disse que cumpre e respeita as legislações trabalhistas, e que o esforço principal da companhia, neste momento de dor, está em apoiar e dar assistência às famílias dos passageiros e tripulantes que estavam a bordo.

Veja a reportagem completa abaixo:

 

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