Entenda conexões entre indícios descobertos pela PF e falas do bolsonarismo em 2022

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General Mário Fernandes, à época comandante de Operações Especiais do Exército, cumprimenta o então presidente Jair Bolsonaro – Isac Nóbrega – 26.jul.19/Presidência da República

Um dia após reunião para discutir uma minuta golpista para reverter o resultado das eleições de 2022, em 7 de dezembro daquele ano, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrou com o general da reserva Mário Fernandes, responsável por um plano para matar autoridades, segundo a Polícia Federal.

O planejamento previa o assassinato do presidente eleito, Lula (PT), de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

A articulação da execução, prevista para 15 de dezembro de 2022, havia começado no mês anterior, período em que auxiliares de Bolsonaro elaboraram a proposta de decreto que buscava instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A trama, sempre de acordo com as investigações, reforça as provas e relatos obtidos em fases anteriores sobre minutas golpistas e pressões para os chefes das Forças Armadas apoiarem um golpe que evitasse a posse de Lula, com a participação de Bolsonaro e aliados.

Entenda as conexões reveladas pelas investigações até aqui:

Articulação do plano na casa de Braga Netto

Em 9 de novembro, segundo as investigações, Mauro Fernandes imprimiu no Planalto o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. Cerca de 40 minutos depois, ele teria ido até o Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência então ocupada por Bolsonaro.

Ainda de acordo com a PF, no dia 12 de novembro, o ajudante de ordens Mauro Cid, o então major do Exército Rafael Martins de Oliveira e o tenente-coronel Ferreira Lima se reuniram na residência do general Walter Braga Netto, que havia sido vice na chapa de Bolsonaro.

No local, “o planejamento operacional para a atuação dos chamados ‘kids pretos’ foi apresentado e aprovado”, segundo relatório da PF. A partir dessa data, começou o monitoramento do ministro Moraes.

Em troca de mensagens dias depois, Martins indicou a Cid o custo de R$ 100 mil para cobrir despesas de hospedagem, alimentação e materiais para executar o plano. O detalhamento foi feito em um documento protegido por senha intitulado “Copa 2022”, que ele envia em outra conversa.

No dia 18 de novembro daquele mesmo mês, Braga Netto se aproximou de bolsonaristas que estavam em frente ao Planalto e disse: “Vocês não percam a fé. É só o que eu posso falar agora”. Uma mulher disse a ele que estavam sob a chuva, ao que o militar respondeu: “Eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”.

Do rascunho à reunião da minuta golpista

Bolsonaro recebeu uma minuta de golpe das mãos do ex-assessor Filipe Martins e do advogado Amauri Saad em novembro de 2022, segundo a investigação da PF, com base no depoimento de Mauro Cid. O então presidente teria solicitado alterações —mantendo a previsão de novas eleições e a prisão de Moraes. Essas modificações foram apresentadas a ele dias depois.

Ao longo de novembro e dezembro, os registros de acesso do Palácio da Alvorada mostram que Martins esteve ali diversos dias, quase sempre por muitas horas, segundo relatado em decisão de Moraes.

As investigações da PF dizem que, após concordar com as alterações na minuta, Bolsonaro convocou uma reunião para 7 de dezembro para buscar adesão ao plano golpista com os comandantes Almir Garnier (Marinha) e Freire Gomes (Exército), o então ministro Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e os assessores Filipe Martins, Amauri Saad e Mauro Cid.

Rastreamento das antenas de celular indica que, na véspera daquele dia, Cid, o major Rafael Martins de Oliveira (Exército) e Bolsonaro estavam na região do Planalto na mesma ocasião em que o general Mário Fernandes mais uma vez imprimiu, no palácio, o que seria o plano para assassinar Moraes, Lula e Alckmin.

Em áudios enviados a Cid em 7 e 8 de dezembro, Fernandes pede a ele para mostrar um vídeo ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, para convencê-lo a aderir à ruptura institucional.

O assessoramento a Bolsonaro

A Polícia Federal encontrou mensagens do general da reserva Mário Fernandes para Mauro Cid, trocadas horas após Bolsonaro falar a apoiadores no Palácio do Alvorada em 9 de dezembro de 2022.

Fernandes afirma que, em encontro na véspera, 8 de dezembro de 2022, o então presidente teria aceitado o seu “assessoramento”. “Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento”.

O discurso para apoiadores

Naquele dia, após passar 40 dias em silêncio, Bolsonaro fez um discurso dúbio em que atiçou os apoiadores. “Sempre disse, ao longo desses quatro anos, que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo”, afirmou.

Pela manhã, segundo mensagem que consta em uma decisão de Moraes, haviam sido feitas alterações no texto da minuta golpista. Na mesma data, Bolsonaro teria recebido a adesão do general Estevam Theophilo, que teria lhe prometido colocar tropas na rua para garantir o golpe.

À época, Theophilo estava à frente do Comando de Operações Terrestres.

Plano frustrado

Mensagens sequenciais enviadas a Mauro Cid indicam que Moraes estava sendo monitorado na data da diplomação de Lula, em 12 de dezembro de 2022, e nos dias seguintes.

Em 15 de dezembro, quando ocorreria a suposta execução, o plano foi levado a campo, mas abortado de última hora. Segundo mensagens, a motivação foi o adiamento de uma sessão do STF naquele dia.

 

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