Hoje, a produtividade do trabalhador brasileiro fica atrás daquela observada em outros países com menor carga laboral. Reportagem de novembro do jornal Folha, a partir de dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), mostrou que o Brasil tem média semanal de 39 horas de trabalho.
Com relação aos países do G20, o Canadá aparece com a menor média de carga de trabalho, com 32,1 horas por semana, e apenas 9% dos trabalhadores do país exercem uma jornada de mais de 49 horas. No entanto, cada canadense gera cerca de 68 dólares PPC por hora trabalhada, três vezes o registrado pelo Brasil.
Dentro desse grupo, e também com produtividades maiores que a dos brasileiros, os canadenses são acompanhados por Austrália, Alemanha e França, com médias de 32,3; 34,2 e 35,9 horas de trabalho semanal, respectivamente.
A carga horária, porém, não reflete a produtividade de cada país, isto é, o valor produzido por hora trabalhada, que leva em conta fatores como tecnologia e escolaridade. Do lado dos trabalhadores, os especialistas veem lacunas na formação; do lado das empresas, dificuldade para renovar suas estruturas.
A baixa produtividade é apontada como um dos principais entraves para a redução da carga de trabalho no Brasil, uma discussão que ganhou fôlego no ano passado, a partir de uma proposta pelo fim da chamada escala 6×1 (seis dias de trabalho e um de descanso semanal).
Uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), apresentada em maio, propõe o fim da escala e a adoção de uma jornada de 36 horas semanais, dividida em quatro dias.
A redução é apoiada por 64% dos brasileiros, segundo o Datafolha, enquanto 33% se disseram contra a mudança e 3% não souberam responder.
Na pesquisa, feita nos dias 12 e 13 de dezembro, a maioria dos entrevistados apontou que a jornada ideal teria de ser de cinco dias por semana e de no máximo oito horas por dia.
O pesquisador Naercio Menezes Filho, do Insper, pondera que países ricos altamente produtivos conseguem diminuir a jornada de trabalho, mas esse passo também depende de características locais.
“Nos Estados Unidos, mesmo sendo um país produtivo, se trabalha muito, por ter uma cultura de trabalho. Na Dinamarca, a cultura é terminar o trabalho cedo. O Brasil tem essa dificuldade de baixa produtividade, por isso a discussão da redução de jornada chegou mais tarde aqui.”
Para Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, é importante considerar que o Brasil teve em 2024 seu segundo ano consecutivo de crescimento industrial, e que isso coloca o país em condições de dar um salto em termos de produtividade.
“Precisamos insistir no outro lado, fazer uma transição que tem de estar associada a uma oferta contínua de formação. O nosso grande desafio é ter uma inovação que se espraie por toda economia, que possa também ser alcançada pelo trabalhador autônomo e pelo conta-própria.”
Segundo Duque, outro ponto importante é reduzir a rotatividade do mercado de trabalho. “A gente está vendo isso agora, por exemplo, com os gastos do seguro-desemprego que aumentam em meio a uma mínima histórica do desemprego. As pessoas ficam pouco tempo em um mesmo trabalho e isso impede severamente o aprendizado.”
Para tentar contornar o problema, as empresas podem tentar oferecer salários competitivos, planos de carreira estruturados e incentivo à formação dos funcionários.
Duque acrescenta que o Brasil enfrenta desafios de infraestrutura, com gargalos em transportes e energia, afetando a produtividade, e que a legislação rígida e alta carga tributária sobre salários dificultam contratações, promovendo a informalidade e reduzindo a produtividade.
As medições internacionais comparam dados do PIB com o número de trabalhadores empregados. Países mais populosos e com industrialização tardia acabam aparecendo em posições piores, embora estejam melhorando seus indicadores.
“É até esperado que a China ainda esteja atrás do Brasil, mas logo mais isso vai mudar, os chineses já ultrapassaram o país em PIB per capita (Produto Interno Bruto por habitante)”, diz Duque.
Apesar de estar abaixo da média global, a produtividade do trabalho por pessoa ocupada no Brasil, na comparação anual, aumentou 3,9% em 2024 ante 2023, o melhor resultado desde 2020 e o único avanço por dois anos consecutivos desde o biênio 2017-2018.
De acordo com o relatório do Conference Board, do primeiro semestre do ano passado, a produtividade global do trabalho deve se recuperar, com uma maior contribuição para o crescimento do PIB, refletindo uma normalização das condições macroeconômicas pós-pandemia.
Nos anos após 2020, a recuperação nas horas trabalhadas foi a principal responsável pelo crescimento do PIB, mas agora a expectativa é de que a maior parte do crescimento venha de ganhos de produtividade do trabalho.
A sustentabilidade dessa tendência, no entanto, depende de superar desafios, como a escassez de mão de obra especializada e o crescimento populacional desacelerando.