Em entrevista amigável à Fox News, Trump volta a falar em fraude na Usaid

O presidente Trump durante o evento de posse, em Washington, D.C., nos Estados Unidos - Greg Nash/via REUTERS
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar em entrevista divulgada no domingo (9) que vê fraude na Usaid, a agência de ajuda externa americana —uma afirmação que vem fazendo sem provas.
Na quinta-feira (7), ele determinou o fechamento da agência em uma publicação em sua rede social, a Truth Social. A Usaid virou alvo do bilionário Elon Musk, à frente da iniciativa de profundo corte de gastos do governo Trump.
A entrevista publicada no domingo foi concedida à Fox News, emissora simpática ao republicano, e teve um tom amigável e sem contestação ao que era dito. Apenas um trecho da conversa foi divulgado, e o restante deve ser exibido nesta segunda (10).
“Se você olhar o tipo de fraude no Usaid, estamos falando de centenas de milhões de dólares que vão para lugares que não deveriam ir. Se eu ler uma lista, você vai dizer que é ridículo”, afirmou Trump. O jornalista que o entrevistava, o âncora Bret Baier, não questionou as informações dadas pelo presidente.
Durante a campanha eleitoral, Baier protagonizou uma entrevista combativa com a então candidata do Partido Democrata à Casa Branca, Kamala Harris, chegando a interrompê-la para exibir vídeos nos quais a democrata tropeçava nas palavras.
Principal órgão de ajuda humanitária de Washington e importante ferramenta de soft power americano, a Usaid apoiou iniciativas em 160 países em 2023 e tem sido um dos principais alvos de Musk. O bilionário chamou a agência de maligna e divulgou notícias falsas para atacá-la, como a de que o órgão teria gasto US$ 50 milhões na compra de camisinhas destinadas à Faixa de Gaza.
O desmonte da Usaid está inserido em um enorme programa de cortes do governo Trump e faz parte da política conhecida como “América Primeiro”, que ordenou um congelamento global na maior parte da ajuda externa dos EUA, impactando grupos humanitários de todo o mundo.
Na entrevista divulgada no domingo (9), Trump disse esperar que Elon Musk encontre “bilhões de dólares em fraudes e abusos” também no Pentágono durante auditoria que será chefiada pelo bilionário.
Musk controla o Doge, sigla em inglês para Departamento de Eficiência Governamental, uma iniciativa criada por Trump para coordenar o corte de gastos federais e reestruturação do governo.
No sábado (8), um juiz federal ordenou o bloqueio emergencial do acesso do Doge ao sistema de pagamentos do Tesouro americano.
Válida até o dia 14 de fevereiro, para quando está marcada uma audiência, a decisão do juiz Paul A. Engelmayer proíbe “todos os indicados políticos, todos os agentes especiais do governo e todos os funcionários do governo indicados para uma agência fora do Tesouro” de ter acesso ao sistema de pagamento.
A ordem diz ainda que qualquer pessoa que tenha acessado esses registros desde que Trump assumiu o cargo, em 20 de janeiro, deve destruir imediatamente todas as cópias dos materiais baixados.
Em uma publicação na rede social X, de Musk, o vice-presidente J. D. Vance criticou a decisão e disse que “juízes não estão autorizados a controlar o poder legítimo do Executivo”.
“Se um juiz tentar dizer a um general como conduzir uma operação militar, isso vai ser ilegal. Se um juiz tentar comandar o procurador-geral sobre como usar seu poder, isso também é ilegal”, exemplificou.
Na entrevista do domingo, Trump disse que Musk também irá verificar setores como o Departamento de Educação e, em seguida, as Forças Armadas.
O orçamento do Pentágono se aproxima de US$ 1 trilhão por ano (mais de R$ 5,7 trilhões) —os EUA são o país que mais gasta com suas Forças Armadas no mundo. Em dezembro, o então presidente Joe Biden assinou um projeto de lei autorizando US$ 895 bilhões em gastos com defesa para o ano fiscal que termina em 30 de setembro.
Líderes de todo o espectro político há muito tempo criticam o desperdício e a ineficiência do Pentágono. Mas os democratas e os sindicatos de funcionários públicos dizem que o Doge não tem a experiência necessária para reestruturar o órgão. Ademais, empresas de Musk mantêm contratos com o Departamento de Defesa, o que levanta preocupações sobre conflitos de interesse.
Na entrevista à Fox News, Trump também voltou a afirmar que gostaria que o Canadá fosse o 51º estado dos EUA e disse erroneamente que Washington paga US$ 200 bilhões em subsídios ao país vizinho —uma cifra repetida pelo republicano em outras ocasiões que, na verdade, se refere ao déficit da balança comercial e a gastos militares dos EUA dos quais o Canadá também se beneficia.
O presidente dos EUA disse ainda que os reforços às fronteiras anunciados pelo México e pelo Canadá, que o levaram a suspender tarifas sobre importações ainda não são suficientes.