Instituições ouvidas pelo BC projetam piora na oferta de crédito e aumento da inadimplência

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© Antonio Cruz/Estadão. Sede do Banco Central

Instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central projetam para este ano piora nas condições de oferta de crédito, sobretudo no setor habitacional, e aumento da inadimplência de famílias e de micro, pequenas e médias empresas.

A avaliação pessimista consta na pesquisa trimestral de condições de crédito divulgada na quinta-feira (13), com dados referentes a dezembro de 2024 coletados entre 13 e 24 de janeiro.

Segundo os participantes da pesquisa, as condições de oferta de crédito se deterioraram de forma generalizada no último trimestre de 2024 e as expectativas de inflexão se confirmaram.

Custo e disponibilidade de funding (fonte de recursos), preocupação com inadimplência e menor tolerância ao risco estão entre os fatores apontados pelas instituições pela piora nas condições de crédito.

Para o primeiro trimestre deste ano, espera-se um agravamento nas condições de oferta em todos os segmentos, com mais força no crédito habitacional. Há expectativa também de demanda mais fraca nesse segmento.

Em novembro, o diretor de Fiscalização BC, Ailton de Aquino, afirmou que está em discussão na autoridade monetária uma nova fonte de recursos para crédito imobiliário em meio ao saque líquido da poupança, mas ele não quis antecipar as medidas em debate.

As instituições, por sua vez, preveem que a demanda deve continuar positiva para o consumo das famílias e neutra para as empresas. Quanto à inadimplência, projetam elevação no primeiro trimestre deste ano, especialmente nos segmentos de famílias e de micro, pequenas e médias empresas.

Na pesquisa, o BC divide as instituições financeiras em quatro segmentos: consumo de pessoas físicas (17 participantes), crédito habitacional para pessoas físicas (sete participantes), grandes empresas (22 participantes) e micro, pequenas e médias empresas (26 participantes).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem defendendo a necessidade de novas medidas “em todos os tipos de créditos” para incentivar o consumo do país.

O movimento expansionista vai na contramão da postura adotada pelo BC, que aplicou um choque de juros visando esfriar a economia para controlar a inflação. A taxa básica de juros (Selic) está em 13,25% ao ano. A previsão é de outro aumento de um ponto percentual, a 14,25% ao ano, no encontro de março.

Nas comunicações oficiais, o BC tem feito alertas sobre a expansão de crédito e os efeitos desse comportamento sobre o ciclo de alta de juros.

Em sua primeira declaração sobre política monetária desde que assumiu o comando da autoridade monetária, Gabriel Galípolo destacou o papel desempenhado pelo crédito como impulso fiscal.

“Foi um ano de bastante apetite para concessão de crédito”, disse. “O impulso fiscal, para o mesmo nível de gasto, foi maior do que se imaginava.”

“Talvez porque existe um componente distributivo na política de transferência de renda, que acaba colocando o dinheiro na mão de quem tem uma propensão a consumir mais elevada, e isso apresenta uma resiliência maior e um impulso maior do ponto de demanda, que me parece ter sido traduzido nas questões das pressões inflacionárias”, acrescentou.

 

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