Senado dos EUA confirma o antivacina Kennedy Jr. como secretário de Saúde

Robert F. Kennedy Jr. — Foto: Thomas Machowicz/Reuters
A despeito da oposição da comunidade médica e de membros do Congresso americano, Robert F. Kennedy Jr., um conspiracionista defensor do movimento antivacina, foi confirmado pelo Senado dos Estados Unidos como secretário de Saúde e Serviços Humanos na quinta-feira (13).
A votação foi de 52 a 48 —o senador Mitch McConnell, de Kentucky, foi o único republicano a se juntar aos 47 democratas para votar contra o advogado, conhecido também como RFK Jr. e que, nos últimos dias, prometeu proteger programas de vacinação na tentativa de garantir os votos de legisladores em cima do muro.
Ele assume um departamento com mais de 80 mil funcionários e um orçamento de US$ 1,7 trilhão (quase R$ 10 trilhões) em um momento em que cientistas alertam para o perigo de uma nova pandemia, desta vez de gripe aviária, e para as taxas de vacinação que estão em declínio.
O advogado estará ainda na supervisão de várias agências importantes, como a FDA (que regula remédios e medicamentos), que prometeu desmantelar.
Após RJK Jr. ser empossado, ainda nesta quinta, Trump deve assinar um decreto para estabelecer uma comissão que se chamará Maha, em homenagem ao movimento “Make America Healthy Again” (torne a América saudável novamente), criado pelo novo secretário como uma paródia do slogan do presidente.
Sobrinho de 71 anos do ex-presidente John F. Kennedy, RJK Jr. é conhecido por semear mentiras sobre a segurança e eficácia de vacinas. O advogado passou grande parte das últimas duas décadas promovendo teorias da conspiração que ligam ao autismo vacinas infantis que preveniram milhões de mortes. Além disso, ele é acusado de conduta sexual inapropriada e chegou a vincular ataques a tiros em escola ao uso de antidepressivos.
Durante a campanha, quando RJK Jr. lançou uma candidatura independente para a Presidência, alguns de seus comentários causaram espanto. Ele afirmou, por exemplo, que tem um verme parasitário no cérebro e que depositou um filhote de urso morto no Central Park, em Nova York. Seu histórico também inclui o uso de uma motosserra para decapitar uma baleia morta.
Em 2024, 77 ganhadores do prêmio Nobel escreveram uma carta aberta ao Senado se opondo à sua confirmação. Eles afirmam que Kennedy Jr. poderia “colocar em perigo” a saúde pública.
Ele agora comandará um departamento que direciona mais de US$ 3 trilhões (R$ 17,3 trilhões) em gastos com saúde. Também sob a supervisão da secretaria estão os programas Medicare e Medicaid, que fornecem seguro saúde para mais de 140 milhões de americanos.
O novo secretário disse que quer trabalhar para acabar com doenças crônicas, romper quaisquer laços entre funcionários da FDA e a indústria e direcionar os sistemas de água dos EUA a remover o flúor.
O caminho de RJK Jr. para a confirmação foi conturbado —em alguns momentos, ele parecia não ter nem sequer os votos necessários entre os republicanos. Para conseguir ganhar a pasta, ele precisou se afastar de seu passado como democrata de longa data, de falas antigas a favor do direito ao aborto, e de sua defesa do movimento antivacina. A oposição veio até mesmo de membros proeminentes de sua própria família, tradicional na política americana e, em geral, crítica dos posicionamentos de Kennedy Jr.
Durante as acaloradas audiências de confirmação, os democratas denunciaram, por exemplo, possíveis conflitos de interesses de RJK Jr., que recebeu honorários como consultor de escritórios de advocacia que processam empresas farmacêuticas.
No final, os republicanos do Senado aprovaram o advogado, repetindo o apoio que deram a todas as escolhas de gabinete de Trump até agora.
Alinhado aos planos de Trump para enxugar o Estado, Kennedy Jr. disse que quer se livrar de muitos funcionários que agora estarão sob seu guarda-chuva, tanto da FDA quanto dos NIH (Institutos Nacionais da Saúde).