Convergir para restaurar (por Antônio Carlos de Medeiros)
As candidaturas presidenciais estão assumindo mais nitidez no tabuleiro político. De pronto, elas mostram ao distinto público que sem convergência política será praticamente impossível enfrentar o desafio histórico de trilhar o caminho da restauração do Estado no Brasil. Os paradoxos da nossa regressão civilizatória colocam a convergência como imperativo de realidade. O círculo vicioso da recessão, do desemprego, da inflação, e da pobreza faz germinar o imperativo da convergência.
Na undécima hora, sob pressão do acúmulo de crises e problemas que se tornaram incontornáveis, cresce a força de um pensamento mediano que está implícito nos resultados das pesquisas e nas manifestações das lideranças da sociedade civil: o fundo do poço não tem mais amortecedor e chegou a hora de enfrentar as dores políticas e sociais de um processo de restauração do Estado. O que significa enfrentar o problema do conflito distributivo e do pacto de poder.
Sem convergência, o próximo presidente do Brasil corre o risco de não ter a sua vitória reconhecida e de não tomar posse. Se tomar posse, corre o risco de não governar. Essa espada de dâmocles paira sobre as candidaturas presidenciais. Esse cenário de beco sem saída impulsiona iniciativas de convergência. É uma questão de sobrevivência política e contenção da regressão civilizatória. Para além das hipérboles, nossos economistas, por exemplo, já começam a contornar a antiga dicotomia entre a ortodoxia monetarista e o keynesianismo heterodoxo. Contornam, também, o infrutífero debate do Estado máximo “versus” Estado mínimo.
Cresce a possibilidade de convergência em torno de três pontos cruciais: reestruturar os gastos públicos com foco em investimentos transformadores e transversais; estimular a economia para criação de valor voltado para novos mercados da economia verde e para o capitalismo de “stakeholders”; e promover a reforma do Estado, para além da reforma administrativa. Armínio Fraga mostrou que seria possível ajustar o país em 8 anos, com as reformas tributária, administrativa e de orçamento da União, se houver estabilidade política.
Só que a convergência entre os formuladores de políticas públicas e formadores de opinião é condição necessária, mas não suficiente. Ela precisa estar apoiada por, digamos, uma convergência maior. Refiro-me à vontade política das candidaturas presidenciais para articular nova coalizão polìticamente dominante. Isto é, construir candidaturas com capacidade para reestruturar o pacto de poder, na direção da restauração do Estado e da reformulação do Contrato Social. Sem esta direção, será muito difícil reverter a regressão do Brasil.
Por isto, é fundamental que as candidaturas tenham capacidade convocatória e capital social, capital político e capital simbólico. Para dialogar com as forças sociais, políticas e empresariais que poderão configurar um novo Bloco de Poder. É este o nome do jogo: novo Bloco de Poder. O Brasil é uma Nação adolescente. Precisa passar por novas escolhas de novos caminhos históricos. Na terceira década do Século XXI, ainda é possível.