O retorno da Política (por Antônio Carlos de Medeiros)

0
Lula-Alckmin

Geraldo Alckmin e Lula, Foto: Divulgação/ Ricardo Stuckert

A aproximação de Lula e Alckmin, que pode resultar numa chapa presidencial, é outro sinal de que o Brasil trilha o caminho de volta da antipolítica para a Política. Já são nítidos os sinais de esvaziamento do discurso da negação da Política. Ainda que restrita às elites políticas, a viagem de volta ao leito da Política, no lócus simbólico da polis grega, já começou. Deixou de ser “velha política” para ser simplesmente Política. A narrativa de 2018 perdeu impulso. Mas o caminho de volta tem barreiras. No Brasil, também, a sociedade não confia mais nos governos, nos políticos e na política.

Eis o enigma a ser decifrado ao longo da sucessão de 2022. Como é que as candidaturas presidenciais – e também as candidaturas para as governadorias nos Estados – vão conseguir “conversar com a sociedade”, despertar a esperança, diminuir o medo do futuro e engajar o grande absenteísmo político-eleitoral? Em 2018, a alienação eleitoral (brancos, nulos e abstenções) nas eleições presidenciais chegou a 30,87%. E nas eleições para as governadorias chegou à média de 32,44%. Fortes sinais de desconfiança nos governos, nos políticos e na política.

Esse absenteísmo contribuiu para a ida do pêndulo político para o populismo de extrema direita e ajudou a eleger Jair Bolsonaro com a bandeira da antipolítica e da corrupção. Mas agora a demanda central do eleitorado é a socioeconomia. Para conseguir conversar melhor com a sociedade, as candidaturas vão precisar convergir para o centro e centro-esquerda do espectro político. O pêndulo vai nesta direção. Quem vai, e como vai, fazer este movimento e atrair a atenção dos eleitores? A aproximação Lula-Alckmin já pode ser um primeiro movimento.

O tabuleiro político está se mexendo. Estamos na fase de agregação de forças e alianças. Alguns atores políticos já enxergam e estimulam a movimentação do pêndulo. Convém, por exemplo, prestar atenção nas costuras de Gilberto Kassab (PSD). Ele percebeu bem a tendência política pendular para o centro e centro-esquerda, bem como a necessidade de “agregação dos contrários”. Não será candidato a nada e, como presidente do PSD, já atua para eleger 55 deputados federais e costurar alianças para 2022. Se tiver sucesso, vai fazer parte da construção da governabilidade em 2023. Sem um mínimo de “convergência dos contrários” – como agora na Alemanha -, será difícil governar o Brasil em 2023.

Convém perguntar como é que as candidaturas vão conseguir dialogar com a sociedade. Como engajar o absenteísmo e diminuir a alienação eleitoral? Como conseguir conversar com o eleitorado mais jovem (16 a 24 anos), que representa aproximadamente 15% do total de eleitores e que conviveu mais com a antipolítica, a partir de 2013?

Adam Przeworski mostra que as democracias não têm conseguido melhorar a vida das pessoas. Isso deixa parte do eleitorado vulnerável às “soluções mágicas” de populistas. Ao mesmo tempo, mudanças nas sociedades e no modo de vida das pessoas levam ao medo do futuro. O engajamento do absenteísmo passa pela capacidade convocatória de candidaturas com empatia e experiência. Vem daí a volta para a Política. A solução passa pela Política.

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

About Author

Compartilhar

Deixe um comentário...