A encruzilhada do Facebook (por Valéria França)
Desde o início deste mês, as empresas de tecnologia, que puxam a nova economia do mercado, estão no centro de um grande furacão financeiro. Para ter uma ideia do tamanho do problema, o setor desvalorizou 20% de um dia para o outro. O prejuízo das cinco maiores empresas – Meta, Apple, Microsoft, Tesla e Amazon – foi de US$ 879 bilhões. Quem perdeu mais, no entanto, foi Mark Zuckerberg, fundador do Facebook – atual Meta, um conglomerado, que abriga marcas de redes sociais conhecidas como WhatsApp, Messenger e Instagram. Na quinta-feira, 3, quando ele acordou, a companhia tinha perdido US$ 251 bilhões. A ação caiu de US$ 323 para US$ 237,76. E continuou caindo. Cinco dias depois do tombo, chegou a US$ 225,10.
Para os especialistas do setor, a queda era esperada e tem a ver com a conjuntura internacional da economia. “Nos dois últimos anos, houve excesso de liquidez no mercado, que convivia com juros baixos”, diz George Wachsmann, CIO da Vitreo, empresa de investimentos. “Com a pandemia, houve a última arrancada.” Nessa época, nos EUA o FED (Federal Reserve System) dizia que a inflação provocada pelo coronavírus era temporária e não sinalizava preocupação. “Na virada do ano, quando a inflação atingiu 7%, a mais alta desde 1982, a mudança de narrativa foi grande. A taxa de juros que está em 0,25% pode subir para 1%. Isso foi um soco no fluxo de investimento nas empresas de tecnologia”, explica Wachsmann.
A fortuna de Zuckerberg encolheu US$ 31 bilhões. Ele caiu da 7ª para a 10ª posição do ranking dos bilionários da Bloomberg. É verdade que quanto maior a empresa, maior o estrago. Isso explica, em parte, o fato de a Meta acumular mais prejuízos que as concorrentes. Sabe-se, no entanto, que ela vive um momento perigoso e cheio de dificuldades. Na véspera da queda das ações, pela primeira vez, a empresa registrou diminuição do número de usuários ativos, pessoas que visitam a plataforma ao menos uma vez ao dia, nos EUA, país onde a Meta arrecada o maior volume de verba publicitária. Mais de 500 mil usuários evaporaram da plataforma. Outra rede social da Meta, o Instagram, teve aumento de 10,2%, mas o concorrente Tik Tok cresceu 42%.
Se não bastasse a concorrência direta, no fim de 2021, a Apple mudou a política de privacidade para os usuários do iOS, sistema operacional do iPhone. Os internautas ganharam o direito de decidir se querem ou não que as suas atividades sejam rastreadas pelas redes sociais. Ter essa informação é uma questão estratégica para os negócios de publicidade da Meta. Com base na nova política, a companhia prevê prejuízos de US$ 10 bilhões para esse ano.
E o metaverso?
E os problemas não param por aí. No dia em que suas ações despencaram, a Meta enviou um relatório para a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, em inglês) alertando que talvez fosse necessário tirar alguns serviços do ar na Europa, como o Facebook e o Instagram. A empresa está impedida de compartilhar os dados dos usuários europeus com a sede americana, de acordo com a decisão da Corte de Justiça da União Europeia de julho de 2020. Até então a empresa trabalhava com uma brecha da lei, chamada de Escudo de Privacidade.
No meio a tantas incertezas, a maior aposta da empresa, o metaverso, tecnologia que permite a replicação do mundo real no espaço virtual, ainda não decolou. “O metaverso ainda é uma incógnita”, diz o economista Roberto Dumas. “Isso também cria instabilidades no mercado e consome recursos da Meta.” Para o economista e professor do Insper, Alexandre Chaia, “as empresas de tecnologia sempre estão endividadas, porque os projetos futuros são essenciais e vultosos”. O problema, porém, é que não dá para prever se esses ambiciosos projetos darão certo.