Amazônia perde umidade e área nativa e pode se tornar vulnerável a incêndios ‘naturais’ nos próximos anos, diz Marina Silva

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Marina Silva. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou na quarta-feira (4) que dados apontam uma mudança no “perfil” dos incêndios que atingem a Floresta Amazônica.

Segundo Marina, com o avanço da crise climática, a Amazônia vem perdendo umidade. E se isso continuar, pode inclusive ficar vulnerável a incêndios naturais.

🔥 A principal causa de um incêndio natural é a descarga elétrica de uma tempestade de raios. É uma ocorrência comum em matas secas como do Cerrado – mas não na Amazônia, que é uma floresta tropical úmida.

Marina participou de uma sessão da Comissão de Meio Ambiente do Senado nesta quarta para falar sobre as queimadas e a estiagem prolongada que atinge a maior parte do país – com prejuízo maior ao Pantanal e à Amazônia.

De acordo com a ministra do Meio Ambiente:

  • 27% das áreas atingidas por queimadas (cerca de 900 mil hectares) estão em regiões de atividade agropecuária;
  • outros 41% (1,4 milhão de hectares) estão em áreas de vegetação não florestal – “pastagem ou uma capoeira rala”, nas palavras da ministra;
  • e 32%, pouco mais de 1 milhão de hectares, em área de vegetação florestal.

Esse percentual de queimada em área de floresta, segundo Marina Silva, é muito maior do que a série histórica recente. E indica uma mudança no perfil do fogo e da floresta.

“Até pouco tempo, acho que isso representava no máximo 15% a 18%. Agora, 32%. No Amazonas, ano passado, 37% [dos incêndios] dentro de floresta primária”, comparou.

“O que isso significa? Significa que nós estamos num processo severo de mudança do clima, a floresta entrando num processo de perda de umidade e se tornando vulnerável a incêndio. Seja por ignição humana ou até no futuro, se isso permanecer, por fenomenos naturais, em função da incidência de raios. É uma química altamente deletéria, inimaginável”, disse Marina Silva.

Mais esforços e mais orçamento

Na audiência com senadores, a ministra do Meio Ambiente que, diante dos dados, será preciso ampliar — cada vez mais — os esforços e recursos de combate a consequências das mudanças climáticas.

Marina mencionou altas orçamentárias em relação ao governo de Jair Bolsonaro (PL) fez apelos a congressistas para “quem quiser contribuir” com recursos à pasta.

A ministra defendeu, ainda, que o Congresso crie um marco regulatório de emergência climática – que exclua da meta fiscal do governo federal os recursos gastos nessas condições.

“Se tenho que agir preventivamente, como é o entendimento de Vossas Excelências e nosso, tenho que ter cobertura legal para isso”, afirmou.

Marina avaliou que o governo vive um “paradoxo” com cobranças simultâneas de investimento em medidas de combate ao incêndio e em empreendimentos que são “altamente retroalimentadores do fogo”.

Ela não especificou quais investimentos seriam esses, mas, em outro momento de sua participação, rebateu críticas sobre seus posicionamentos contrários a obras de infraestrutra e exploração mineral, como a margem equatorial.

“Nós temos condições de fazer esse enfrentamento com os meios que dispomos? Vamos ter que ampliar cada vez mais o nosso esforço. Ao mesmo tempo somos cobrados que tenha-se medidas para fazer medidas de combate ao fogo e, ao mesmo tempo, somos cobrados para que se faça investimentos que são altamente retroalimentadores do fogo. É um paradoxo. Não preciso citar aqui os empreendimentos”, declarou.

Esforço é para ‘empatar o jogo’

A ministra disse ainda que o esforço do governo federal no enfrentamento às queimadas e à seca histórica no país é para “empatar o jogo” – ou seja, para mitigar os danos e reverter o que ela chama de “condições muito desfavoráveis”.

Segundo Marina, o trabalho feito pelo governo desde janeiro de 2023 evitou uma “situação completamente incontrolável”.

“Eu diria que o esforço que está sendo feito nesse momento é de tentar ‘empatar o jogo’, com essas condições totalmente desfavoráveis”, disse Marina.

Queimadas e seca

Em agosto, o Brasil registrou o maior número de focos de queimadas desde 2010. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 68.635 registros. De acordo com o Inpe, mais de 80% desses focos ocorreram na Amazônia e no Cerrado.

A marca é a quinta pior, desde o início da coleta pelo Inpe, para o período. E os números também são maiores do que o total observado em agosto de 2023. Em comparação direta com o mesmo mês, os focos de queimadas pelo país dobraram — eram 28.056 no último ano.

As queimadas não são o único fenômeno climático ocorrendo no Brasil. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o país também enfrenta a maior seca desde 1950. A estiagem tem afetado, de acordo com o órgão, todo o país, com exceção do Rio Grande do Sul.

Nas últimas semanas, uma face mais visível das queimadas e do clima seco atingiu parte do país. Cidades ficaram encobertas por fumaças, que tiveram, segundo especialistas, origem em incêndios florestais de regiões como a Amazônia e o Pantanal.

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