Americanas: Ex-CEO acusado de comandar fraudes é preso em Madri

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Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas que vive na Espanha — Foto: Reprodução

O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, foi preso na sexta-feira (28) em Madri pela polícia espanhola. Ele foi alvo da operação Disclosure, da Polícia Federal, e tinha mandado de prisão expedido pela Justiça brasileira desde quinta-feira. Gutierrez estava sob vigilância desde que seu nome passou a constar da difusão vermelha da Interpol como foragido.

De acordo com o Ministério Público Federal, o executivo acompanhava e participava das fraudes no balanço da companhia “desde o seu planejamento até a publicação dos resultados”.

A Justiça do Rio havia decretado a prisão preventiva de Gutierrez diante dos “fortes indícios” de fuga do executivo do Brasil. Mas a decisão observava que a medida “poderá ser revista” caso o executivo se apresentasse espontaneamente às autoridades brasileiras, o que afastaria a presunção de fuga.

Ele e outros 14 executivos da Americanas foram alvo na quinta-feira de uma operação que buscava mais provas e evidências de um esquema que escamoteou nos balanços da varejista um rombo estimado em R$ 25 bilhões.

A investigação revelou crimes como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os ex-executivos da empresa podem pegar até 26 anos de prisão.

A operação foi baseada em e-mails e mensagens apreendidas pela Polícia Federal e nas delações dos ex-executivos Marcelo Nunes e Flávia Carneiro, que destrincharam o modus operandi da fraude. Nunes foi diretor financeiro e Flávia, diretora de controladoria.

A prisão de Gutierrez foi comunicada nesta manhã à Polícia Federal. Como Gutierrez tem cidadania espanhola e estava no país desde o ano passado, seu nome foi incluído na difusão vermelha, a lista de foragidos internacionais da Interpol.

Ainda não está definido se ele será enviado ao Brasil ou se ficará preso na Espanha, uma vez que o país não extradita seus cidadãos.

Além do ex-CEO, também é considerada foragida a ex-presidente da B2W, Anna Saicali, que viajou para Portugal no último dia 15 e está com ordem de prisão decretada. Ela não tem cidadania portuguesa e está no país com visto de trabalho, segundo fontes.

Saicali estava na Americanas desde 2013, onde atuou como diretora de 2013 a 2018, e presidiu a B2W, o braço de varejo digital do grupo, entre 2018 e 2021. Também foi CEO da AME, a plataforma fintech da Americanas, de 2021 a 2023.

As irregularidades na Americanas foram reveladas em janeiro de 2023, pouco depois de a companhia passar por uma troca de comando. O esquema consistia na maquiagem de operações de risco sacado, mecanismo pelo qual os bancos abrem linhas de crédito para que os fornecedores abatam faturas com desconto e depois cobrem o valor da Americanas.

É um financiamento comum no varejo. Via de regra, o volume de empréstimos feitos nessa modalidade deve aparecer no balanço da empresa como passivo, mas as dívidas não apareciam nas demonstrações financeiras ao menos desde 2016.

Segundo os investigadores, Gutierrez tomava medidas para tentar se blindar de uma eventual apuração sobre o esquema e só recebia as versões fraudulentas do orçamento em pen drives entregues em suas mãos.

As mensagens mostram que os executivos da Americanas discutiam por WhatsApp e por e-mail a inclusão de números falsos nos balanços da empresa para fabricar lucros que não existiam – e para diferenciar os dados reais dos inventados, criavam apelidos.

O conjunto de planilhas e cálculos que embasavam as diferentes versões do balanço era chamado de “kits de fechamento”. Era através deles que Gutierrez acompanhava a evolução das mudanças.

As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre a fraude contábil na Americanas também revelaram que a sinalização interna sobre a troca no comando da empresa provocou uma corrida de Gutierrez e outros 10 executivos para se livrarem de ações da companhia antes que fosse descoberto o esquema de inserir números falsos para maquiar os resultados financeiros.

Entre julho de 2022 e janeiro de 2023, onze executivos venderam R$ 258 milhões em ações da Americanas, o que configura crime de uso de informação privilegiada (“insider trading”), segundo o Ministério Público Federal (MPF).

Só Gutierrez vendeu R$ 158,5 milhões em ações desde que soube que seria trocado do posto de CEO, em julho de 2022, até janeiro de 2023, quando a companhia revelou ao mercado a descoberta do rombo contábil de R$ 20 bilhões.

Em nota divulgada após a operação da PF de quinta-feira, a defesa do ex-CEO Miguel Gutierrez informou que não teve acesso aos autos e “por isso não tem o que comentar”. Ele reitera “que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.

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