Americanas: Os bastidores da prisão de ex-CEO, que teve campana e ambulância
A prisão do ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, capturado em Madri na manhã da sexta-feira (28), ocorreu depois de uma campana de dois dias e precisou da assistência de uma ambulância para atender o executivo, que passou mal ao chegar na unidade policial.
O executivo prestou depoimento e foi liberado na noite da própria sexta (28), conforme prevê a lei espanhola nesses casos. Gutierrez, que tem cidadania espanhola, teve o passaporte recolhido, terá que se apresentar a cada 15 dias na unidade policial local e não pode sair da Espanha até a conclusão da investigação.
A captura de Gutierrez começou a ser planejada na Espanha dois dias antes de a Polícia Federal desencadear, no Brasil, a operação sobre os 14 investigados pela fraude bilionária nos balanços da rede varejista.
O ex-CEO é apontado pela investigação como o líder do grupo de executivos que falsificou informações e inflou os resultados financeiros da Americanas para gerar lucro e manipular o valor das ações no mercado. A fraude é estimada em R$ 25,7 bilhões.
Além dele, também teve ordem de prisão decretada a ex-CEO do braço digital da Americanas, Anna Saicali, que também deixou o Brasil em meados de junho. Os dois foram incluídos na lista de foragidos da Interpol, conhecida como difusão vermelha.
Os advogados de Gutierrez sustentam que ele não é um foragido porque tem endereço conhecido na Espanha. Mas investigadores ouvidos pela equipe da coluna dizem que, enquanto a ordem de prisão contra ele estiver em vigor no Brasil, ele é um foragido da Justiça brasileira.
Fontes ligadas à operação relataram à equipe da coluna que as autoridades espanholas foram informadas de que o nome de Gutierrez seria incluído na difusão vermelha da Interpol na quarta-feira, e então acionaram a divisão de localização de fugitivos para a preparar a abordagem.
O contato entre as duas polícias era feito por um agente do Centro de Cooperação Policial Internacional, o CCPI, um núcleo de inteligência que fica na superintendência do Rio de Janeiro, com policiais de vários países que acessam seus bancos de dados de origem em tempo real.
Esse agente vinha alimentando os espanhois com informações sobre Gutierrez desde fevereiro de 2024, a pedido da delegacia de crimes financeiros da PF, que conduz o inquérito e sabia que o ex-CEO estava em Madri.
Nessa época, os policiais o localizaram e ele passou a ser monitorado permanentemente.
Nesta semana, os espanhóis montaram uma campana que começou na quinta-feira (27), antes de a operação da PF ser desencadeada no Brasil, e durou até a manhã de sexta (28), quando o nome de Gutierrez efetivamente entrou na difusão vermelha e eles bateram na porta do prédio onde o executivo mora com a família.
De acordo com o relato feito pelos espanhóis às autoridades brasileiras, ao perceber que seria preso, Miguel passou mal e parecia estar tendo um infarto. Foi necessário chamar uma ambulância para dar assistência ao executivo, que tem 62 anos e já apresentou atestado médico para não depor à CPI da Americanas, no ano passado, para não ter que depor.