A agência informou ainda iniciar uma operação assistida com a companhia aérea para “manter a prestação do serviço da Voepass em condições adequadas”. Ela não detalhou, porém, como funcionará esse tipo de operação.
“O gerenciamento da segurança na aviação civil é uma atividade contínua […]. Os operadores aéreos, entre eles a Voepass, têm que enviar constantemente dados de desempenho de sua frota à Anac, o que inclui eventuais interrupções mecânicas, indisponibilidades de aeronave ou dificuldades em serviço”, afirma.
A nota divulgada pela Anac ainda aconselha os passageiros que têm voos cancelados com a Voepass a entrarem em contato com a companhia aérea. “A empresa aérea deve oferecer assistência material gratuitamente, de acordo com o tempo de espera no aeroporto, contado a partir do momento em que houve o atraso, o cancelamento ou a interrupção”, diz.
Desde o dia do acidente, no último dia 9, a Anac recolhe toda a documentação do avião modelo ATR 72-500 da Voepass para envio de informações ao Ministério Público e ao Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), ligado à Força Aérea.
Do ponto de vista da agência reguladora, não havia nenhum problema com a empresa aérea, o avião e a tripulação que estava no voo.
Os documentos mostram que a última vistoria da Anac no avião de marca PS-VPB foi realizada nos dias 19 a 25 de junho de 2023.
O laudo da vistoria foi utilizado para a emissão do Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade ainda naquele mês —documento que, aprovado pela Anac, dava autorização para o uso comercial até junho de 2026.
O documento apresenta diversos dados sobre as horas de voo da aeronave, a condição dos motores e das hélices e o prazo de validade dos equipamentos utilizados no avião.
Ele mostra, por exemplo, que o avião foi adquirido em 2022 pela Voepass e passou por serviços de manutenção que exigiram a troca de um dos motores. O laudo conclui que a aeronave não havia passado por grandes modificações ou reparos e tinha condições adequadas de aeronavegabilidade.
Em nota divulgada na quinta-feira (15), a Voepass afirmou que a manutenção de aeronaves faz parte da rotina das companhia aéreas e que nenhum avião da empresa decola sem “estar em estrita conformidade com o que estipula a regulamentação”.
“Somente as investigações oficiais poderão apontar as causas do acidente. Especulações sobre reparos técnicos realizados no passado servem apenas para aumentar o sofrimento e a imensa dor das famílias dos 58 passageiros e 4 tripulantes envolvidos neste trágico acidente”, diz a empresa.
A Voepass também tinha atualizado em 26 de julho deste ano seu certificado com as especificações operativas. Trata-se de documento emitido pela Anac para verificar quais tipos de operação são autorizadas para determinada empresa aérea.
Para dar autorização, a Anac analisa uma série de procedimentos adotados pela companhia, como o gerenciamento de risco de fadiga humana e a adequação do Manual Geral de Operações.
Os quatro tripulantes “se encontravam devidamente habilitados e aptos para a operação da aeronave acidentada”. O piloto Danilo Santos Romano possuía licença de Piloto de Linha Aérea desde 2015, e sua habilitação para comandar aeronaves tipo ATR 72-500 estava válida até fevereiro de 2025.
O copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva tinha cença ativa desde 1984. As comissárias de bordo Rubia Silva de Lima e Débora Soper também estavam com as habilitações atualizadas.
Como foi o acidente
O voo 2283 da Voepass seguia de Cascavel (PR) para Guarulhos (Grande São Paulo) quando caiu na área de uma casa no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, em Vinhedo. O avião, que decolou às 11h50 e tinha previsão de chegada às 13h40, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 13h21.
Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), o avião deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo às 13h21. O piloto não teria declarado emergência. Isso, porém, será esclarecido e confirmado somente ao fim da análise das caixas-pretas.
Especialistas levantam a possibilidade de que gelo tenha se acumulado nas asas da aeronave.
O avião atravessou uma zona crítica para a formação de gelo por quase dez minutos antes da queda, mostrou uma análise do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).
Vídeos do momento da queda gravados por diversos moradores de Vinhedo mostram que a aeronave desceu rodopiando no ar, mantendo-se em posição horizontal, manobra conhecida como “parafuso chato”.
Essas condições, segundo especialistas, indicam que o piloto havia perdido o controle da aeronave e as condições de arremeter —ou seja, apontar o nariz da aeronave para baixo e usar os motores para ganhar novamente sustentação no ar.