Após dar à luz, mulher morre por Covid-19 e irmã adota a criança: ‘não vou deixar dúvida que não foi por causa dele’

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Este sábado (28) é o Dia Internacional da Luta Contra a Mortalidade Materna. Paraíba registra a segunda menor taxa de mortalidade do Nordeste em 2022.

Por Lua Lacerda

“Ela sempre fez o pré natal bem direitinho”, relembra Jucinara Fernandes, irmã de Jéssica Fernandes, que está entre as 54 mortes maternas registradas na Paraíba em 2020. Ela era nutricionista e estava grávida de 8 meses quando foi diagnosticada com Covid-19. Jéssica deu entrada na maternidade Frei Damião no dia 19 de outubro, deu à luz a Bryan já no dia seguinte e, após 19 dias internada, faleceu devido às complicações da doença.

Sua irmã, Jucinara Fernandes, adotou o bebê Bryan, que hoje está com 1 ano e sete meses: “Já me perguntaram um milhão de vezes, ‘você não tem medo dele achar que foi por causa dele que ela morreu?’, mas não vou deixar nenhuma dúvida, não foi por causa dele”, diz Jucinara.

Grávidas e puérperas foram incluídas pelo Ministério da Saúde como grupo de risco da Covid-19. A pandemia fez com que a Paraíba saltasse de 36 mortes maternas em 2019, para 54 em 2020 e 72 em 2021. Jéssica Fernandes não possuía comorbidades e sempre realizou todos os exames relacionados a sua gravidez que foram solicitados pela médica.

“Antes da Covid ela era normal de saúde, não tinha hipertensão, não sentia nada. Um dia ela sentiu dor e febre, foi pro médico e descobriu esse problema. Primeiro ela fez dois testes e deu negativo, mas no terceiro deu positivo. Ela mal saia de casa, quando saia era de máscara. Ela era fisioterapeuta, sabia todos os riscos que corria”, diz Jucinara Fernandes, irmã de Jéssica.

Jéssica ao lado de suas três irmãs. — Foto: Arquivo pessoal

“Como ela sabia, ela evitava. Não tinha contato com muita gente. O esposo dela era farmacêutico, só que ele tinha todo o cuidado quando chegava em casa. Se você me perguntar onde ela pegou ou como foi, não sabemos dizer. Ninguém testou positivo, só ela.”

Jucinara perguntou aos médicos se Jéssica chegou a conhecer seu filho Bryan, mas foi informada que eles foram separados sem se verem. “Ela não viu ele, ele não viu ela. Ela passou 19 dias em coma induzido entubada e não teve retorno, infelizmente”, diz Jucinara. Depois disso, a vida de Juciana e sua família mudou completamente: “foi do zero a 100”.

Me vi em uma situação de não saber o que fazer, não tinha estrutura.

“O mundo da minha mãe e do meu pai acabaram. Eu já tinha um filho pequeno, mas ela era como uma filha pra mim. Com ela, éramos quatro irmãs, todas muito unidas. Ela era a caçula, morou comigo, então eu disse: não vou deixar o bebê dela com ninguém mais. Falei com o esposo dela, pedindo pra trazer Bryan pra cá. Como já tem um berço, ele fica. Ele perguntou: e seu trabalho? Eu respondi que não trabalho mais, meu trabalho agora é cuidar de Bryan”, diz Jucinara Fernandes, que se emociona ao falar da irmã: “não sei se um dia vou superar” .

“Bryan é minha vida. Ele é um pedaço de mim, não saiu de mim, mas ele é tudo pra mim. É um filho que eu adotei. Nunca pensei em amar tanto uma pessoa que não saiu de mim tanto quanto amo ele.”

Jucinara faz questão de falar de Jéssica para Bryan. “Eu faço questão de dizer que a mãe dele é Jéssica. Mamãe Gel, como eu digo. Mostro foto, a gente vai ver a estrelinha e a que mais brilha é a mãe dele, olhando pra ele. Sempre faço questão de mostrar vídeo para ele ouvir a voz dela, ele reconhece. É um dia de cada vez”, diz Jucinara.

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