Após negociação, Turquia apoia candidatura da Suécia e da Finlândia à Otan

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A Turquia concordou em apoiar as candidaturas da Finlândia e da Suécia à adesão à Otan, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, nesta terça-feira (28).

“Tenho o prazer de anunciar que agora temos um acordo que abre caminho para a Finlândia e a Suécia se juntarem à Otan”, disse ele a repórteres durante uma cúpula da Otan em Madri.

“Turquia, Finlândia e Suécia assinaram um memorando que aborda as preocupações da Turquia, inclusive em torno das exportações de armas e da luta contra o terrorismo”, acrescentou.

Esses dois países próximos geograficamente à Rússia solicitaram sua adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) poucas semanas depois da invasão russa da Ucrânia, mas a Turquia, membro da Aliança, se opunha porque eles dão abrigo a separatistas curdos.

A Rússia já disse anteriormente que não tem problemas com Suécia e Finlândia, mas que responderá se houver expansão de infraestrutura militar nesses países, sem detalhar como reagiria (veja mais abaixo).

Espera-se que Erdogan e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também conversem na quarta-feira sobre este assunto, aproveitando a cúpula da Otan em Madri, que se prolongará até quinta-feira e que estará dominada pelo desafio russo da invasão da Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro.

Suécia e Finlândia ficam próximas à Rússia — Foto: Arte g1
Suécia e Finlândia ficam próximas à Rússia — Foto: Arte g1

Stoltenberg disse que os 30 líderes da Otan agora convidariam a Finlândia, que compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia, e a Suécia para se juntarem à Otan e que se tornariam “convidados” oficiais. Ele disse a repórteres: “A porta está aberta – a adesão da Finlândia e da Suécia à OTAN ocorrerá”.

No entanto, mesmo com o convite formal concedido, os 30 parlamentos aliados da Otan devem ratificar a decisão dos líderes, processo que pode levar até um ano.

Termos do acordo

As principais demandas da Turquia, que surpreenderam os aliados da Otan no final de maio, eram que os países nórdicos parassem de apoiar os grupos militantes curdos presentes em seu território e levantassem as proibições de algumas vendas de armas para a Turquia.

Stoltenberg disse que os termos do acordo envolvem a Suécia intensificar o ritmo dos pedidos de extradição de supostos militantes curdos requisitados pela Turquia e alterando as leis suecas e finlandesas para endurecer o tratamento a eles.

Stoltenberg disse que a Suécia e a Finlândia vão suspender suas restrições à venda de armas para a Turquia.

A Turquia levantou sérias preocupações de que a Suécia tem abrigado o que afirma serem militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que pegou em armas contra o Estado turco em 1984. Estocolmo nega a acusação.

O comunicado da presidência turca diz que o acordo de quatro vias alcançado na terça-feira significa “cooperação total com a Turquia na luta contra o PKK e seus afiliados”.

Também diz que a Suécia e a Finlândia “demonstram solidariedade com a Turquia na luta contra o terrorismo em todas as suas formas e manifestações”.

O presidente dos EUA, Joe Biden, que chegou a Madri antes de um jantar com seus colegas líderes da Otan, não abordou diretamente a questão em seus comentários públicos com o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez e o rei Felipe da Espanha.

Mas ele enfatizou a unidade da aliança, dizendo que a Otan está “tão galvanizada quanto acredito que já esteve”.

Biden deve ter um encontro com Erdogan durante a cúpula da Otan. Erdogan disse antes de partir para Madri que pressionaria Biden para comprar caças F-16.

Ele disse que discutiria com Biden a questão da aquisição de sistemas de defesa aérea S-400 da Rússia por Ancara – o que levou a sanções dos EUA – bem como kits de modernização de Washington e outras questões bilaterais.

A resolução do impasse marcou um triunfo para a diplomacia, pois os aliados da Otan tentam selar a adesão nórdica em tempo recorde como forma de consolidar sua resposta à Rússia – particularmente no Mar Báltico, onde a adesão finlandesa e sueca daria à aliança superioridade militar .

Nessa região nórdica, a Noruega, a Dinamarca e os três estados bálticos já são membros da Otan. A guerra da Rússia na Ucrânia, que Moscou chama de “operação militar especial”, ajudou a derrubar décadas de oposição sueca à adesão à Otan.

O presidente russo, Vladimir Putin, tem alertado o Ocidente de que a Rússia responderá se a aliança atlântica começar a reforçar a infraestrutura militar da Suécia e da Finlândia.

Putin cita repetidamente a ampliação pós-soviética da Otan para o leste em direção às fronteiras da Rússia como uma razão para a invasão da Ucrânia.

Em maio, o líder russo disse que a ampliação da Otan está sendo usada pelos Estados Unidos de maneira “agressiva” para agravar uma situação de segurança global já difícil.

A Rússia, disse Putin, não tinha problemas com a Finlândia ou a Suécia, então não havia ameaça direta da ampliação da Otan que incluísse esses países.

“Mas a expansão da infraestrutura militar neste território certamente provocaria nossa resposta“, afirmou Putin aos líderes da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que inclui Belarus, Armênia, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão.

“Qual será (essa resposta)? Veremos quais ameaças são criadas para nós”, disse. “Os problemas estão sendo criados sem motivo nenhum. Vamos reagir de acordo.”

A Rússia deu poucas pistas específicas sobre o que fará em resposta ao alargamento nórdico da Otan, as maiores consequências estratégicas da invasão russa da Ucrânia até hoje.

Um dos aliados mais próximos de Putin, o ex-presidente Dmitry Medvedev, disse em abril que a Rússia poderia mobilizar armas nucleares e mísseis hipersônicos no exclave russo de Kaliningrado se a Finlândia e a Suécia se juntassem à Otan.

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