Em outubro, Milei enviou instrução ao Ministério das Relações Exteriores afirmando que seriam instados a se retirar todos os diplomatas que apoiassem qualquer declaração, resolução ou projeto endossando a Agenda 2030 da ONU ou objetivos da entidade.
Esse comunicado foi enviado aos diplomatas após a demissão da chanceler Diana Mondino por apoiar resolução da ONU contra o embargo de Cuba pelos Estados Unidos.
Parte do governo brasileiro minimiza essa possibilidade, afirmando que a Argentina precisaria enfrentar e se indispor com todo o G7 e países em desenvolvimento para fazer isso.
Mas alguns interlocutores acreditam que essa é uma possibilidade real.
Outros integrantes do governo brasileiro afirmam que a oposição da Argentina à taxação de grandes fortunas na declaração do G20 já havia estremecido ainda mais a relação entre os dois países.
Segundo interlocutores, o governo Milei sabia que imposto para bilionários é uma questão prioritária para o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O governo brasileiro enviou um recado nesse sentido.
Além de taxação, os argentinos se opuseram a trechos sobre igualdade de gênero e à Agenda 2030 da ONU. Outra fonte de irritação no governo brasileiro é a oposição da Argentina à agenda de regulação da internet.
Esse tema e a taxação de fortunas são vistos como influência direta das ideias do bilionário Elon Musk sobre Milei, que vem tentando se alinhar cada vez mais ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
Se a Argentina conseguir melar a declaração na cúpula em que o Brasil é anfitrião, isso teria um impacto negativo significativo na relação bilateral, nas palavras de um integrante do governo. O Brasil também espera repercussões dessa ofensiva anti multilateralista de Milei na reunião do Mercosul, em 5 e 6 de dezembro no Uruguai.
Os negociadores reunidos na cúpula do Rio haviam chegado a um acordo provisório sobre o texto, com apoio de todos os países, menos a Argentina.
Mas essa última versão foi reaberta após ataques maciços da Rússia contra a Ucrânia no domingo (17) e a decisão do presidente Joe Biden de autorizar os ucranianos a usarem armas americanas em ataques no interior do território russo, que era uma linha vermelha estabelecida pelo líder russo, Vladimir Putin.