Barbárie de Queimadas: livro reconta caso de estupro coletivo e feminicídios

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O livro 'Era Apenas Um Presente Para Meu Irmão - A Barbárie de Queimadas' foi lançado na noite da terça-feira (22), em Campina Grande. — Foto: Foto: reprodução/TV Cabo Branco.

O estupro coletivo e os feminicídios de duas mulheres na cidade de Queimadas, na Paraíba, um crime que causou indignação nacional, virou tema de um livro. ‘Era Apenas Um Presente Para Meu Irmão – A Barbárie de Queimadas’ foi escrito por Bruno Ribeiro, e teve lançamento na terça-feira (22) em Campina Grande. A obra reconta os acontecimentos do caso que ocorreu em 2012 a partir de entrevistas feitas pelo autor.

De acordo com Bruno, a obra reconta como os criminosos pensaram no crime. Onde eles definiam o ocorrido como uma brincadeira e eles não seriam presos. O nome do livro é uma referência ao fato do crime ter sido pensado por Eduardo dos Santos Pereira como um presente para o irmão no aniversário dele.

Bruno entrevistou mais de 100 pessoas com algum tipo de relação com o caso, sejam elas de forma direta ou de forma indireta.

Em entrevista à TV Paraíba, Bruno contou que o livro fez parte de sua vida, onde ele saia para os lugares, conhecia as pessoas da cidade e ia fazendo entrevistas. Bruno define a obra como uma colcha de retalhos dos acontecimentos retirados dos depoimentos dos entrevistados.

Bruno espera que o livro traga alguma reflexão para as pessoas e consiga ser, em suas palavras, “um grão de areia na luta para recapturar Eduardo de Santos Pereira”, que foi o mandante do crime e que está foragido, desde que fugiu do presídio PB1, em João Pessoa, no ano de 2020.

Relembre o caso

O crime aconteceu na madrugada do dia 12 de fevereiro de 2012, em uma casa no Centro de Queimadas. Os irmãos Luciano e Eduardo dos Santos Pereira organizaram a festa, convidando as vítimas para o evento, o aniversário de um deles.

O que as mulheres não imaginavam é que seriam vítimas de um estupro coletivo dos homens, que seria um “presente” para o aniversariante. Para realizar o crime, Eduardo e Luciano forjaram um assalto e entraram encapuzados na residência durante a festa.

Os envolvidos nos abusos combinaram que, durante a festa de aniversário, três deles apagariam o sistema de energia e invadiriam a casa com máscaras de carnaval se passando por assaltantes para poder render as vítimas e, depois que elas fossem amarradas e vendadas, todos iriam estuprá-las.

Das sete mulheres que estavam na casa, duas não foram alvo do crime. As esposas de Luciano e Eduardo.

Enquanto era estuprada, a professora Izabella Pajuçara, de 27 anos, se debateu e conseguiu identificar Eduardo como um dos estupradores. Em depoimento, um dos suspeitos revela os pedidos da vítima que reconheceu o agressor e pediu para não ser estuprada. “Tanto que eu fiz por você! Não faça isso não! Pare, minha mãe não aguenta isso não”.

A partir daquele momento, os abusos foram interrompidos, e os homens fugiram de carro levando Izabella Pajuçara e a recepcionista Michele Domingos, de 29 anos, que também estava no quarto no momento e, portanto, teria ouvido a fala da amiga reconhecendo o estuprador.

Michele chegou a pular do carro em movimento, mas recebeu quatro tiros, sendo dois na cabeça, em frente à igreja Matriz, no Centro de Queimadas. Ela ainda foi levada ao hospital da cidade, mas não resistiu aos ferimentos. Já Izabella foi encontrada com uma meia dentro da boca na estrada que liga Queimadas a Fagundes, dentro do carro usado na fuga dos criminosos. Ela foi atingida por três disparos.

Izabella Pajuçara e Michelle Domingos foram mortas depois de estupro coletivo no caso que ficou conhecido como Barbárie de Queimadas, na PB — Foto: Reprodução/Fantástico
Izabella Pajuçara e Michelle Domingos foram mortas depois de estupro coletivo no caso que ficou conhecido como Barbárie de Queimadas, na PB — Foto: Reprodução/Fantástico

Quando o dono da festa foi dar queixa do assalto na delegacia, a polícia começou a desconfiar da reação dele. “Como é que um crime tão bárbaro que aconteceu na sua residência, durante um aniversário de um irmão seu, meia hora depois você está sorrindo?”, questionou o delegado regional André Luis Rabelo de Vasconcelos. Um dos suspeitos, de 28 anos, chegou a ir ao velório de Izabella, onde foi preso.

Condenações

Em 2014, Eduardo dos Santos Pereira foi condenado a 108 anos de prisão. Ele foi considerado culpado por dois homicídios, formação de quadrilha, cárcere privado, corrupção de menores e porte ilegal de arma, além dos cinco estupros. Por estes crimes, ele foi condenado a 106 anos e 4 meses de reclusão. Além disso, ele recebeu uma pena de 1 ano e 10 meses de detenção pelo crime de lesão corporal de um dos adolescentes envolvidos no crime.

Luciano dos Santos Pereira, irmão de Eduardo, foi condenado a 44 anos de prisão. Ele é o único que segue em regime fechado. Jacó Sousa foi sentenciado a 30 anos de reclusão, por estuprar duas mulheres e participar no abuso das outras três vítimas. Ele foi assassinado quando voltou à cidade do crime, depois de ter direito à liberdade condicional.

Eduardo dos Santos Pereira é acusado de ser o mentor da Barbárie de Queimadas e está foragido — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco
Eduardo dos Santos Pereira é acusado de ser o mentor da Barbárie de Queimadas e está foragido — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

Diego Rego Domingues foi liberado para cumprir a pena de 26 anos e seis meses no regime semiaberto, na Penitenciária de Segurança Média de Mangabeira, em João Pessoa.

Fernando de França Silva Júnior, vulgo ‘Papadinha’, foi condenado a 30 anos de prisão. Luan Barbosa Cassimiro deve cumprir 27 anos de reclusão, pela violência sexual praticada contra uma vítima e participação no estupro das quatro demais. Já José Jardel Sousa Araújo foi condenado a 27 anos.

Fuga de Eduardo

O mentor da Barbárie de Queimadas, Eduardo dos Santos Pereira, está foragido há mais de dois anos da Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes de João Pessoa, conhecida como PB1.

Em 2020, ano da fuga, Eduardo trabalhava na cozinha do PB1. Era por volta das 20h quando um policial penal esqueceu um molho de chaves no local onde o detento trabalhava. Eduardo pegou as chaves, abriu o almoxarifado e saiu pela porta lateral do presídio.

Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, o policial penal que teria esquecido as chaves foi indiciado, mas o Ministério Público da Paraíba (MPPB), até agora, não ofereceu denúncia contra ele.

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