Bolsonaro ataca Moraes e retoma ofensiva contra sistema eleitoral após virar réu no STF

Bolsonaro faz pronunciamento no Senado após STF torná-lo réu - Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou o ministro Alexandre de Moraes ao comentar a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de torná-lo réu nesta quarta-feira (26) e retomou a ofensiva contra o sistema eleitoral, iniciada antes mesmo de se eleger presidente da República em 2018.
Ele fez um pronunciamento de quase 50 minutos em frente ao Senado e, ao repetir ataques às urnas eletrônicas e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), voltou a falar a favor do voto impresso e a criticar a sua inelegibilidade até 2030.
A principal linha de defesa do ex-presidente é reforçar que há uma perseguição política contra ele, que busca tirá-lo da disputa eleitoral, desde 2022 até 2026. Ele disse que as acusações são graves e que há algo “pessoal” contra ele, sem citar nomes.
Em diferentes momentos de seu discurso, ele mencionou Moraes, relator do inquérito que levou-o à condição de réu nesta quarta e presidente do TSE durante as eleições de 2022.
“Eu aprendi desde jovem que a alma da democracia é o voto. E o voto contabilizado. Por que você não pode tomar conhecimento desse inquérito? O que que tem lá dentro? O que que o ministro Alexandre Moraes quer esconder?”, questionou.
“Tô sendo acusado de tentativa de golpe. As pessoas devem ter percebido da forma tão incisiva como o ministro Alexandre Moraes conduz… É algo esquisito por aí. (…) O TSE influenciou, jogou pesado contra eu e a favor do candidato Lula”, completou.
Ele utilizou seu pronunciamento para negar participação na tentativa de golpe. Bolsonaro lembrou ter pedido a desmobilização de seus apoiadores defensores da intervenção militar e reafirmou que colaborou com a transição de governo.
O ex-presidente repetiu que, em entrevista ao Roda Viva, o atual ministro da Justiça, José Múcio, disse ter recorrido a Bolsonaro no final de 2022 para conversar com os então comandantes das Forças Armadas.
“Eu espero hoje botar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim. A acusação é muito grave, e são infundadas”, afirmou Bolsonaro.
Falou também da viagem que fez aos Estados Unidos no final 2022, quando se recusou a entregar a faixa a seu sucessor, Lula. De acordo com ele, não há crime em não passar a faixa.
“Quer botar 30 [anos de cadeia] em mim. Se eu estivesse devendo qualquer coisa eu não estaria aqui. Fui para os Estados Unidos graças a Deus porque, se estivesse aqui em 8 de janeiro, estaria preso ou morto, que é o sonho de alguns porque preso eu vou dar trabalho”, afirmou.
“Eu sou golpista? [Em] 8 de janeiro estava nos Estados Unidos. Uma das cinco acusações é destruição de patrimônio. Só se for por telepatia.”
Mais cedo, quando deu maioria na Primeira Turma do STF para torná-lo réu sob acusação de liderar uma trama golpista em 2022, Bolsonaro publicou um texto no X, antigo Twitter.
Ele disse que a Justiça quer tirá-lo da disputa eleitoral em 2026 e que vê um “teatro processual”.
“O tribunal tenta evitar que eu seja julgado em 2026, pois querem impedir que eu chegue livre às eleições porque sabem que, numa disputa justa, não há candidato capaz de me vencer”, afirmou quando já havia maioria pela decisão no tribunal.
“A julgar pelo que lemos na imprensa, estamos diante de um julgamento com data, alvo e resultado definidos de antemão. Algo que seria um teatro processual disfarçado de Justiça —não um processo penal, mas um projeto de poder que tem por objetivo interferir na dinâmica política e eleitoral do país”, completou.
Bolsonaro acompanhou o julgamento da admissibilidade do caso no gabinete do filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no Senado.
Durante o dia, aliados visitaram-no no local. A senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) fez uma oração com o ex-presidente e divulgou uma foto rindo ao lado dele.
Na publicação, Bolsonaro republicou imagem de reportagem do jornal Folha, que mostrou que a ação da trama golpista tem rito 14 vezes mais rápido que a do mensalão.
Na véspera, o ex-presidente manteve sigilo até uma hora antes de iniciar o julgamento sobre onde acompanharia a sessão, para logo aparecer na corte e se sentar na primeira fileira.
O gesto simbolicamente repete o do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no ano passado, quando se sentou à mesa da defesa em julgamento em Nova York. Em casos penais, a presença do acusado é obrigatória nos EUA. No Brasil, não.
A Primeira Turma do STF decidiu nesta quarta-feira (26), por unanimidade, receber a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) e tornar réus Bolsonaro e outros sete acusados de integrarem o núcleo central da trama golpista de 2022.
A decisão do Supremo abre caminho para julgar o mérito da denúncia contra o ex-presidente até o fim do ano, em esforço para agilizar o julgamento e evitar que o caso seja contaminado pelas eleições presidenciais de 2026.
O recebimento da denúncia também impacta a situação política de Bolsonaro. Com o avanço do processo que pode levá-lo à prisão, aliados do ex-presidente se dividem sobre a antecipação da escolha de um candidato para a corrida eleitoral do próximo ano.