Cai premiê de Portugal: o escândalo com cassinos que derrubou Luís Montenegro

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Luís Montenegro

por BBC

O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, perdeu o cargo após a votação de uma moção de desconfiança no Parlamento na terça-feira (11/3). Agora, novas eleições devem ser convocadas no país.

Esta seria a terceira eleição em geral em apenas três anos.

Foram 142 votos contrários e 88 favoráveis a Montenegro, sem abstenções.

A crise que derrubou Montenegro foi desencadeada por um escândalo envolvendo uma empresa de consultoria de propriedade de sua família, o que provocou acusações de conflito de interesse.

O presidente Marcelo Rebelo de Sousa é quem deve decidir pela dissolução da Assembleia da República e convocação de novas eleições.

Embora Rebelo de Sousa não seja obrigado a dissolver a Assembleia, ele deixou claro que o faria se o governo perdesse a votação nesta terça-feira.

Antes mesmo da votação no Parlamento, Rebelo de Sousa admitiu que se o governo caísse, “a primeira data possível” para o país ir às urnas seria entre 11 e 18 de maio.

Luís Montenegro é o líder do Partido Social Democrata (PSD) e da Aliança Democrata (AD), que o alavancou ao poder.

O primeiro-ministro comandava um governo frágil, de minoria, desde abril de 2024 – os partidos de oposição, PS e Chega, controlavam 128 dos 230 assentos do Parlamento, contra 80 do PSD.

O caso que pesa contra Montenegro

O caso foi desencadeado por revelações feitas pelo jornal português Correio da Manhã.

As reportagens afirmam que a mulher e os filhos de Luís Montenegro são sócios de uma empresa de consultoria de proteção de dados e compra e venda de imóveis chamada Spinumviva.

Entre os clientes da companhia estaria um grupo de cassinos, cujos contratos de concessão devem ser renovados pelo governo até o final deste ano.

A empresa também foi acusada de se beneficiar de uma lei aprovada em 2024 que mudou as regras sobre construção de casas em áreas rurais.

O primeiro-ministro foi o fundador e detinha a maior parte da companhia até 2022, quando deixou a Spinumviva e transferiu suas cotas para os familiares um mês depois de ter sido eleito presidente do PSD.

Críticos, porém, afirmam que ainda haveria conflito de interesse, já que Montenegro é casado em comunhão parcial de bens e ainda poderia se beneficiar dos lucros da empresa.

O líder da oposição socialista, Pedro Nuno Santos, acusou Montenegro de “receber pagamentos de empresas” enquanto era primeiro-ministro porque os clientes da Spinumviva mantiveram pagamentos à consultoria.

No final de fevereiro, o jornal Expresso noticiou que a Spinumviva recebe do grupo Solverde, uma empresa de cassinos e hotéis, pagamentos mensais de 4.500 euros desde julho de 2021.

Segundo a reportagem, a empresa da família de Montenegro prestava serviços de com­pliance e proteção de dados pessoais ao grupo hoteleiro.

O jornal Correio da Manhã também já havia revelado que Montenegro foi advogado da Solverde no passado.

A companhia confirmou que o primeiro-ministro teria trabalhado como seu representante jurídico entre abril 2018 e maio de 2022, antes de entrar para a política.

Durante esse período, a Solverde teria negociado com o governo português uma prorrogação de seus contratos de concessão para a exploração de jogos de cassino nas regiões do Algarve e Espinho.

O contrato de concessão chegará ao fim neste ano, ou seja, o governo de Montenegro seria o responsável por decidir o futuro da empresa se não tivesse sido destituído nesta terça-feira.

Crise política

Antes da moção de desconfiança, o líder do partido de oposição Chega, André Ventura, havia entrado com um pedido de moção de censura, uma outra iniciativa parlamentar que pode levar à queda do governo.

A solicitação de abertura não foi aceita, já que em um primeiro momento o PS votou contra, para não provocar eleições.

Durante os debates sobre o pedido, Luís Montenegro deu explicações sobre o caso ao Parlamento e negou conflito de interesses, dizendo que criou a empresa com o objetivo de passá-la para os filhos.

Naquele momento, a relação da Spinumviva com o grupo de cassinos Solverde ainda não havia sido revelada pela imprensa portuguesa e o primeiro-ministro se recusou a divulgar a lista de clientes da companhia da família por questões de “sigilo”.

Mas depois das informações serem publicadas, Montenegro e seu partido anunciaram a abertura do debate da moção de censura contra seu próprio governo.

“O país precisa de esclarecimento político, e este é o momento”, afirmou o primeiro-ministro após o anúncio, acrescentando que a “antecipação das eleições é um mal necessário”.

Durante o desenrolar do caso nas últimas semanas, a Ordem dos Advogados abriu uma investigação e a Procuradoria-Geral da República revelou estar analisando uma denúncia anônima sobre os acontecimentos.

Notícias sobre a compra de imóveis por Luís Montenegro e pelos seus filhos também levaram o primeiro-ministro a pedir uma auditoria sobre suas declarações de rendimentos.

Segundo observadores, o caso reforçou a percepção da população de que a corrupção é generalizada na política portuguesa.

As últimas eleições gerais de Portugal, realizadas há um ano, foram desencadeadas pela renúncia em novembro de 2023 do primeiro-ministro socialista, António Costa, após uma investigação sobre supostas ilegalidades na gestão de grandes projetos de investimento verde por sua gestão.

Costa — que estava no cargo desde 2015 e que conquistou uma surpreendente maioria absoluta nas eleições gerais de 2022 — não foi acusado de nenhum crime.

Ele disse que, embora sua consciência estivesse limpa, sentiu que não tinha escolha a não ser renunciar porque os “deveres de primeiro-ministro não são compatíveis com qualquer suspeita de minha integridade”.

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