Câncer infantil: conheça os sinais de alerta para a doença

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Foto: FatCamera/Getty Images

Por Lucas Rocha

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima o diagnóstico de quase oito mil novos casos de câncer infantojuvenil no Brasil para os próximos três anos (2023 a 2025). Apesar do alto número, a detecção precoce e o tratamento em centros especializados de atenção à criança podem garantir a cura e aumentar a qualidade de vida dos pacientes.

Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático).

De acordo com o Inca, também acometem crianças e adolescentes o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal), tumor de Wilms (tipo de tumor renal), retinoblastoma (afeta a retina, fundo do olho), tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos), osteossarcoma (tumor ósseo) e sarcomas (tumores de partes moles).

Assim como nos países desenvolvidos, no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, segundo o Inca.

“O grande problema é que muitos sinais iniciais se assemelham aos sintomas de doenças comuns da infância”, afirma a chefe do Setor de Oncologia Pediátrica do Inca, Sima Ferman.

Sinais de alerta para o câncer infantil

Febre por mais de sete dias sem causa aparente

Dor óssea, com aumento progressivo e duração por mais de um mês

Petéquias (manchas avermelhadas na pele), equimose (manchas arroxeadas) e palidez

Leucocoria (reflexo branco na pupila do olho quando exposta à luz), estrabismo e protusão ocular

Distúrbios visuais

Linfonodos (ou gânglios) aumentados

Dor de cabeça persistente e progressiva, primariamente noturna, que acorda a criança ou aparece quando ela se levanta de manhã, acompanhada de vômito ou de sinais neurológicos

Diagnóstico

Segundo estimativas do Inca, nos próximos três anos devem ocorrer, em média, 4,2 mil casos de câncer em meninos e 3,7 mil em meninas. Entre os diagnósticos, os casos de leucemia são os mais incidentes no público infantojuvenil.

Assim como acontece em casos de câncer em adultos, o diagnóstico precoce também aumenta as chances de cura entre os mais jovens. Medidas como a atuação efetiva da atenção básica no acompanhamento infantil, a vigilância e promoção de saúde e estratégias de divulgação de informações para profissionais e para a população contribuem para a descoberta da doença em estágios iniciais.

“Também é necessário o aumento da comunicação entre serviços primários e especializados”, avalia Sima. A especialista explica que um dos grandes desafios é que muitas crianças chegam para tratamentos em estágios avançados da doença. “Muitos com comorbidades, além do impacto adverso das condições socioeconômicas desfavoráveis na aderência ao tratamento”, afirma.

A tecnologista da Divisão de Vigilância e Análise de Situação, Marceli Santos, destaca uma grande diferença entre o câncer em adultos e crianças. Nos adultos, a doença pode estar relacionada ao estilo de vida, enquanto nas crianças não há medidas para ser evitado. “Logo, o diagnóstico precoce é fundamental para aumentar as chances de cura dos pacientes e diminuir os efeitos tardios relacionados ao tratamento”, explica.

Tratamento

O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com locais especializados para o atendimento de pacientes diagnosticados, como, por exemplo, as Unidades de Assistência de Alta Complexidade (Unacon) e os Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon).

Os Unacons são hospitais com recursos adequados para a prestação de assistência especializada de alta complexidade, como o diagnóstico definitivo e tratamento dos cânceres mais prevalentes no Brasil.

Já os Cacons são hospitais para a prestação de assistência de alta complexidade, não necessariamente apenas os cânceres raros e infantis.

Como falar sobre o câncer com crianças

O conhecimento sobre a doença é essencial para que os pequenos pacientes consigam ajudar no próprio tratamento. Especialistas da área de onco-hematologia do Hospital Federal da Lagoa (HFL), unidade do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro e referência no tratamento de câncer pediátrico, desenvolveram um método para falar sobre o diagnóstico.

“A criança tem o direito de comunicação de sua condição”, afirma a médica oncologista Soraia Rouxinol. “De frente para o paciente, para a sua família, nossa primeira frase sempre é: ‘o que você sabe sobre o que você tem’? E a gente deixa falar, deixa perguntar. Muitas perguntas vão surgindo ao longo do tratamento e a gente responde a todas, observando, claro, o conhecimento que a idade já permite ter, suas vivências pessoais e culturais, e até o jeito como a família conversa com ela. São crianças que a gente vai acompanhando de zero até 18 anos, até quase a vida adulta”, explica.

Com um diagnóstico sério como câncer, as crianças não podem deixar, por exemplo, de engolir os comprimidos a elas entregues. Além disso, precisam se sujeitar a longos tratamentos e se cuidar inclusive para não se machucar, o que pode levar a outras complicações.

A equipe estabeleceu como prática reunir o médico que acompanha o tratamento e um outro colega, como o psicólogo, para atuar como um observador. O método ali desenvolvido utiliza como base o protocolo S.P.I.K.E.S (Six-step Protocol for delivering bad news – Protocolo de seis passos para dar más notícias), mas avança adequando a conduta dos profissionais às particularidades de cada paciente e de sua família.

A comunicação da doença jamais ocorre em corredores, mas em uma salas reservadas. Jamais é feita com celulares da equipe ligados. Juntos, pais e equipe, vão estabelecendo como e quando contar à criança ou ao adolescente, o que pode demorar alguns dias, até os familiares se restabelecerem do choque inicial. Mas o tratamento começa de imediato, assim que há o diagnóstico. Por isso, o momento de contar a verdade não pode demorar demais.

“A gente prefere que a criança não assista a reação dos pais. Eles, os pais, podem se desesperar”, observa a psicóloga Patricia Barbosa, da área de onco-hematologia pediátrica. “E também não contamos para as crianças sozinhas com os profissionais. É importante nesse momento ter junto alguém de muito vínculo com elas. Por isso, damos um tempo para os pais se recuperarem um pouco da notícia, pensarem e construírem conosco a forma como contar. É fundamental dar esse tempo de reflexão a esses pais”.

Apoio

Diversos locais contam com o apoio de voluntários que dedicam seu tempo em prol de atividades recreativas e educativas para os pacientes.

A Área de Ações Voluntárias do Inca, por exemplo, conta com uma sala ampla de recreação infantil, onde as crianças podem brincar e participar de atividades educativas enquanto aguardam consultas e exames.

O projeto realiza de forma recorrente atividades com voluntários e funcionários vestidos de princesas e heróis. As atividades acompanham as crianças em momentos de exames radiológicos com o objetivo de evitar a sedação desnecessária.

 

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