Cartão-postal de João Pessoa, Hotel Tambaú segue fechado e vive briga judicial

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Vista aérea do Hotel Tambaú em 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

O Hotel Tambaú, um dos principais cartões-postais da orla de João Pessoa, foi inaugurado no início da década de 1970 e foi um marco arquitetônico e turístico da cidade. Mas o hotel teve que ser leiloado para pagamento de dívidas da Rede Tropical de Hotéis, que pertencia à antiga Varig. Após ser arrematado duas vezes, ele está fechado por causa de uma briga judicial que se prolonga desde 2021.

O hotel foi construído nas areias da praia de Tambaú na década de 1970. Até então, a área era bem diferente. A historiadora Maiara Belo explica que até antes da década de 50, a área era majoritariamente ocupada por pescadores. Com a construção da Avenida Epitácio Pessoa, que liga o Centro à praia, houve uma reforma urbana, em que a elite que vivia na região central – onde a cidade nasceu – começou a migrar para a orla.

“Ele [o Hotel Tambaú] é pertencente a uma escola arquitetônica chamada modernista, que ela tem esse viés de mostrar esse processo de urbanização que o país inteiro passava. Então as características da forma desse hotel, traz exatamente essa referência. É aquele lugar de soberania, prosperidade, de austeridade, aquele lugar de confiança. Então mostra que o país, que a região, ela tá em auge, em pleno desenvolvimento”.

“Ele é implementado como um hotel de luxo, de alto padrão e ele se torna uma referência de hospedagem para os grandes nomes do Brasil e nomes internacionais”, detalha a historiadora.

Hotel Tambaú foi construído na década de 70, nas areias da praia de Tambaú — Foto: Acervo Arion Farias
Hotel Tambaú foi construído na década de 70, nas areias da praia de Tambaú — Foto: Acervo Arion Farias

São ao todo 173 apartamentos, quase todos com vista para o mar ou para os jardins internos. Seu projeto arquitetônico é assinado por Sérgio Bernardes.

O hotel fazia parte da Rede Tropical de Hotéis, que pertencia à antiga Varig. A partir de 2006, passou por diversas dificuldades, até fechar as portas em 2020. Em 2020 e 2021, houve leilões para pagamento de dívidas da rede e o local chegou a ser arrematado duas vezes, mas houve questionamentos na justiça.

Hotel Tambaú, em João Pessoa — Foto: Felipe Gesteira/Secom-JP/Arquivo
Hotel Tambaú, em João Pessoa — Foto: Felipe Gesteira/Secom-JP/Arquivo

Entenda passo a passo a briga judicial que envolve o Hotel Tambaú, de acordo com os autos do processo

  1. Hotel Tambaú é arrematado em leilão por R$ 40,02 milhões pelo grupo A. Gaspar, do Rio Grande do Norte, em outubro de 2020
  2. Grupo A. Gaspar desiste do leilão e vencedor é o segundo colocado, o jornalista e advogado paraibano Rui Galdino, que deu um lance de R$ 40 milhões
  3. Rui Galdino afirma que na verdade o seu lance foi de R$ 15 milhões, e não de R$ 40 milhões, e também desiste do leilão
  4. Juiz convoca um segundo leilão
  5. Rui Galdino volta atrás e diz que pagaria os R$ 40 milhões do primeiro leilão
  6. Rui Galdino paga sinal e a comissão do leiloeiro para adquirir o hotel e divide o restante em 12 vezes, mas não paga as parcelas
  7. Grupo A. Gaspar vence segundo leilão com lance de R$ 40,6 milhões, em fevereiro de 2021
  8. Grupo A. Gaspar paga a primeira parcela devida para adquirir o hotel e divide o restante em 80 vezes
  9. Rui Galdino é substituído no processo pelo político e empresário paraibano André Amaral, sócio da Ampar Hotelaria
  10. Em junho de 2022, Ampar quita as parcelas atrasadas e as pendentes do lance feito por Rui Galdino no primeiro leilão, paga impostos como ITBI e taxas do Patrimônio da União e formaliza documentações para se consolidar como dona do Hotel Tambaú
  11. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro anula o segundo leilão e confirma o resultado do primeiro leilão, com a vitória do segundo colocado Rui Galdino
  12. Grupo A. Gaspar argumenta que a Ampar não participou do leilão e recorre da decisão do TJ-RJ ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)
  13. A. Gaspar segue pagando as parcelas devidas do segundo leilão
  14. Processo segue no STJ aguardando julgamento
Piscinas do Hotel Tambaú eram cercadas pelos apartamentos — Foto: Kleide Teixeira/Jornal da Paraíba/Arquivo
Piscinas do Hotel Tambaú eram cercadas pelos apartamentos — Foto: Kleide Teixeira/Jornal da Paraíba/Arquivo
Piscinas do Hotel Tambaú em 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
Piscinas do Hotel Tambaú em 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

Mesmo com toda essa briga judicial, o advogado da Ampar, Valberto Azevedo, defende que o desfecho será favorável à Ampar porque, como todos os custos da arrematação já foram pagos e os documentos do hotel já estão no nome da empresa, perde-se o objeto da discussão. “Consumada a alienação, extinguem-se as ações”, argumentou.

O jurídico da construtora A. Gaspar informou que não vai comentar processos em andamento.

Risco de desapropriação

Em dezembro de 2021, em meio a denúncias de abandono do equipamento, a prefeitura de João Pessoa declarou o Hotel Tambaú como sendo de utilidade pública, para fins de desapropriação. Esse fato, inclusive, foi usado por Rui Galdino no início para justificar o não pagamento das parcelas do arremate do hotel.

Imagem aérea do Hotel Tambaú em janeiro de 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
Imagem aérea do Hotel Tambaú em janeiro de 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

A partir do decreto, o poder público ficou autorizado a adotar as providências necessárias ao processo indenizatório do hotel. Porém, até a publicação desta reportagem, nenhum ato de desapropriação foi feito.

O advogado da Ampar, no entanto, opina que o poder público não tem expertise em atividade hoteleira e tem outras prioridades no momento.

“Além disso, se houver desapropriação, tinha que ser pelo preço real do prédio. A avaliação dele hoje é inestimável, mas seria algo em torno de R$ 300 milhões e tem que pagar à vista. Então a retomada do Hotel Tambaú deve ser levada adiante pela iniciativa privada com apoio do poder público”, avaliou Valberto Azevedo.

Fachada do Hotel Tambaú, em João Pessoa, quando ainda estava em funcionamento; Rede Tropical de Hoteís fazia parte da Varig, que foi à falência — Foto: Rizemberg Felipe / Jornal da Paraíba /Arquivo
Fachada do Hotel Tambaú, em João Pessoa, quando ainda estava em funcionamento; Rede Tropical de Hoteís fazia parte da Varig, que foi à falência — Foto: Rizemberg Felipe / Jornal da Paraíba /Arquivo

Denúncias de abandono no Hotel Tambaú

Enquanto a decisão não sai, a empresa mantém suspenso o trabalho de levantamento que vai embasar um futuro projeto de reforma. O Ministério Público recebeu denúncias de abandono e solicitou que órgãos ambientais verificassem o local para saber se há riscos para o meio ambiente ou para a saúde pública. O Centro de Zoonoses mandou equipes ao hotel.

Imagem aérea do Hotel Tambaú em janeiro de 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
Imagem aérea do Hotel Tambaú em janeiro de 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

“Além da inspeção, a gente faz também a parte da visita técnica. Então ela é bem mais vasta, ela abrange todos os tipos de pragas urbanas. Então nós levamos os lavicidas, as bombas costais, fizemos esse amparato de reconhecimento de toda a área e também o trabalho preventivo com relação tanto aos entulhos, aos móveis que ainda havia. É importante dar ênfase que com relação a focos de Aedes, não foram localizados. Então a gente fez um trabalho preventivo”, detalha Polyana Dantes, diretora do Centro de Zoonoses.

A Secretaria de Meio Ambiente de João Pessoa informou que fiscalizou a estrutura e que o relatório técnico está sendo elaborado. A Sudema informou que a última licença de operação para o local, foi emitida em 2010 e não está mais vigente.

Imagem interna do Hotel Tambaú em 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
Imagem interna do Hotel Tambaú em 2025 — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

Gustavo Amaral, um dos sócios da Ampar, explica que, atualmente, mantém no espaço uma equipe de 11 pessoas para fazer a vigilância. “Fazemos também a limpeza, aqui a gente tem um problema com o crescimento de matos, a gente não pode deixar a água parada, tem muitos lugares aqui, calhas, piscina, muitos lugares que podem poçar água. Então, continuamente, a gente fica mantendo a limpeza do equipamento”, completa.

Visita do ministro do Turismo

Ministro do turismo Celso Sabino visitou o Hotel Tambaú ao lado do senador Efraim Filho e dos sócios da Ampar — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
Ministro do turismo Celso Sabino visitou o Hotel Tambaú ao lado do senador Efraim Filho e dos sócios da Ampar — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

O ministro do Turismo, Celso Sabino, fez uma visita ao Hotel Tambaú no dia 25 de fevereiro de 2025. Na avaliação do ministro, o equipamento está com a estrutura preservada e pronto para ser adaptado para que volte à ficar à disposição dos turistas da Paraíba.

Ele ainda afirmou que o hotel atende às características para ser contemplado com recursos do Fundo Geral do Turismo (Fungetur), porém o imbróglio judicial precisa ser encerrado.

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