Caso Júlia: Adolescente teria mudado de comportamento semanas antes de ser morta, diz família

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Pai e tia de Júlia dizem que a menina estava mais fechada. Período coincide com a data em que o suspeito teria perguntado a vizinhos sobre funcionamento de câmeras na frente do prédio da família.

Francisco Lopes, padrasto de Julia — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

Júlia dos Anjos tinha 12 anos e teria sido morta pelo padrasto, em João Pessoa — Foto: Arquivo pessoal

A família da adolescente Júlia dos Anjos, de 12 anos, que teria sido morta pelo padrasto, que confessou o crime, contou nesta quarta-feira (13) que a menina havia mudado de comportamento cerca de duas semanas antes do crime. O suspeito, Francisco Lopes, demonstrou frieza ao ser ouvido pela polícia e, após ter a prisão preventiva decretada na audiência de custódia, foi levado para o Presídio do Róger, em João Pessoa.

“Tanto eu quanto o pai dela percebemos uma diferença, há duas semanas. Eu falava com ela: ‘oi madrinha’, e ela respondia ‘oi’. ‘Como foi na escola?’ e ela: ‘foi legal’. [Antes] quando eu falava com ela, ela fazia chamada de vídeo, onde ficava 30 a 40 minutos, fazia jogos à distância com meus filhos. [Agora] ela estava bem no limite, não esticava o diálogo. Na hora a gente não percebe, mas depois a gente vai vendo e vai entendendo que ela estava se fechando”, disse Joseane Araújo, tia de Júlia, em entrevista à TV Cabo Branco.

O pai de Júlia, Jeferson Brandão, que mora no Paraná e veio de Curitiba para João Pessoa para ajudar nas investigações do então desaparecimento da menina, também falou que ela apresentava diferença no comportamento. Ele acredita que o motivo seria algum sofrimento que ela estaria passando.

“Você vê que minha filha era guerreira. Aguentar tudo sozinho e ter que transmitir para todo mundo que tava tudo bem. Isso me dá um sentimento de revolta, uma criança de 12 anos ter que suportar isso e ter que ir nos lugares e fingir que estava tudo bem”, contou.

Cacimba onde corpo de Júlia foi encontrado — Foto: Silvia Torres/TV Cabo Branco

A última vez que Júlia foi vista com vida foi na quinta-feira (7). Ela passou cinco dias desaparecida até que, na terça-feira (12), o padrasto foi preso após confessar que teria matado a menina e jogado o corpo em uma cacimba próxima a casa onde ela morava. O corpo foi retirado do local no mesmo dia e segue no Instituto de Polícia Científica (IPC), onde passa por exames para identificação, devido ao estado avançado de decomposição.

A polícia segue apurando o crime e não descarta investigar o envolvimento de outras pessoas no caso. “Nós não nos negaremos a trazer para o inquérito, e até abrir uma nova portaria, se for o caso, para apurar eventual atitude criminosa de quem quer que seja”, diz o delegado Rodolfo Santa Cruz, titular da delegacia de homicídios da capital.

Crime premeditado e suposto abuso sexual

Francisco Lopes, padrasto de Julia, deu entrevista à TV Cabo Branco na segunda-feira (11) sobre o desaparecimento da menina; nesta terça-feira (12), ele foi preso pela morte — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

A data em que a família falou que notou a mudança no comportamento da menina coincide com um fato que leva os parentes de Júlia a acreditar que o crime teria sido premeditado. No último dia 23 de março, segundo familiares, o padrasto de Júlia teria procurado um locador do prédio onde a família mora e perguntado sobre o circuito de segurança e descobriu que as duas câmeras na frente do prédio estavam desligadas.

O delegado Rodolfo Santa Cruz disse que a polícia investiga essa situação sobre as câmeras e informou, nesta quarta-feira, que recebeu a informação de que Francisco teria confessado um abuso sexual durante a audiência de custódia.

“As investigações não estão encerradas porque não houve o relatório de conclusão de inquérito, faltam os laudos, em razão da notícia de que, em audiência de custódia, ele teria confessado uma relação sexual abusiva com uma jovem de 12 anos, o que caracteriza o estupro de vulnerável. Então a gente precisa verificar o que tem lá nas imagens da audiência de custódia. A gente precisa aguardar o que o laudo vai dizer, então ainda tem o que se apurar”, disse Rodolfo.

No início da tarde desta quarta-feira, Francisco falou pela primeira vez após confessar o crime. Ao deixar a carceragem da Central de Polícia de João Pessoa, após audiência de custódia, ele tentou se justificar.

“Isso para mim foi um surto, reconheço que foi um surto que eu tive. Eu sei que a família dela não vai me perdoar nunca, pelo ato que eu fiz. O mínimo que eu posso fazer é isso, pedir perdão”.

Francisco Lopes ainda pediu apoio a irmã dele, Edileuza Lopes, que segundo a polícia foi a primeira pessoa que ele pediu para falar após confessar o crime.

“A única pessoa que eu tenho por mim é ela. Minha irmã, não me abandone, que eu sou seu único irmão”, disse o suspeito.

Edileuza, também conversou com a TV Cabo Branco e falou sobre quando o irmão confessou o crime para ela.

“Quando ele me contou, foi um choque, porque eu levei ele na delegacia para a gente ir atrás de um local seguro para ele. […] Ele olhou para mim e disse: ‘minha irmã, eu gosto muito de você, mas preciso te contar uma coisa’. Eu falei bem natural: ‘fale’. E ele disse: ‘Foi eu que matei Júlia’. […] Aí eu entrei em desespero lá. O delegado e o pessoal me ampararam, porque eu sabia que ia ser uma luta forte a partir daquele dia que ele confessou o crime”, disse Edileuza.

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