Citi diz que Lula está mais bem posicionado para vencer eleições e vê espaço para Bolsa continuar subindo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a reunião ministerial no Palácio do Planalto, na terça-feira (26). - Gabriela Biló/Folhapress
Para o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece ser o candidato melhor posicionado para vencer as eleições de 2026.
A análise considera pesquisas de intenção de voto e de popularidade, como as do último DataFolha, e pondera também as projeções para a economia no próximo ano, que deverá ser marcada por queda de juros e melhora da trajetória inflacionária.
Segundo Porto, a aprovação líquida de Lula ronda a faixa de 5 pontos percentuais negativos –não é um ponto de partida confortável, afirma, mas é mais competitivo do que o do ex-presidente Jair Bolsonaro à época do pleito de 2022.
“Ele sai na frente em termos de capacidade de reeleger em relação a Bolsonaro em 2022, que perdeu a eleição por dois pontos percentuais”, afirmou ele a jornalistas nesta terça-feira (9), “e o ciclo econômico para Lula tende a ser mais benigno do que foi com Bolsonaro”.
À época da última disputa presidencial, o BC (Banco Central) enfrentava a inflação do pós-pandemia através de um ciclo de altas da Selic. A taxa básica de juros iniciou 2021 em 2% ao ano e terminou em 9,25% ao ano; ao fim de 2022, estava em 13,75%.
Hoje, afirma Porto, “há um cenário de inflação cadente em que o BC deverá poder cortar os juros a partir de janeiro, com a economia entrando em um processo de reaceleração gradual”.
Pesa, ainda, a dificuldade da direita em formar uma oposição unificada. A pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na última sexta-feira (5) enfraqueceu, na visão do mercado, o nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa –e, por consequência, aumentou as chances de uma reeleição do governo Lula, cuja política fiscal é vista como expansionista pelos operadores.
O cenário-base do Citi é de que, diante do ponto de partida favorável de Lula nas eleições, a trajetória da dívida pública seguirá inalterada. Isto é, vai girar em torno de 80% a 90% do PIB entre 2027 e 2029, último horizonte de previsão. Porto, no entanto, pondera que, a depender das promessas de campanha dos candidatos de ambos os espectros políticos, essa previsão poderá mudar para cima e para baixo.
Outra hipótese-base do Citi é a de que o investidor global –cuja entrada no mercado acionário brasileiro resultou na sucessão de recordes do Ibovespa em 2025– continuará com o mesmo nível de tolerância a risco visto ao longo deste ano.
Mantidas a tolerância e a trajetória de dívida, a expectativa é que a Bolsa brasileira continue em trajetória ascendente.
“Ao longo de 2025, o ambiente internacional foi o principal fator que impulsionou o Ibovespa. Se compararmos com outras Bolsas da América Latina, vemos que a do México andou praticamente os mesmos 35% que a do Brasil andou”, diz Eduardo Miszputen, chefe de mercados globais do Citi.
Esse movimento de diversificação para mercados emergentes deve continuar no próximo ano, à luz do ciclo de corte de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) –a previsão do Citi é que a taxa básica por lá encerre 2026 na banda de 3% e 3,25%, 0,75 ponto percentual a menos do que a faixa atual.
“E continuamos achando que a Bolsa brasileira está barata do ponto de vista de precificação individual dos ativos. Acreditamos que a Bolsa pode continuar se valorizando e chegue a 180 mil pontos, 200 mil pontos. Isso, obviamente, também depende do ambiente macroeconômico, do apetite por risco, da eleição e dos cenários que os investidores internacionais colocam à mesa para olhar para esses ativos como prioridade”, afirma Miszputen.
Ele ainda pondera que o investidor local está pouco alocado na Bolsa, em especial ao se considerar o impulso da renda fixa com a Selic em 15% ao ano e os estímulos para aportes no mercado de crédito privado. “Se tivermos um ambiente que proporcione uma taxa de juros real mais baixa, devemos voltar a ver uma realocação dos investidores locais para Bolsa, o que pode trazer uma valorização alguns anos mais para frente.”
Os riscos para a concretização desse cenário, portanto, são o de uma corrida eleitoral com promessas de gastos aquém do esperado –o Citi espera que o arcabouço fiscal seja respeitado ao longo do próximo ano– e de manutenção do atual apetite por risco dos investidores internacionais.
Esse último, segundo Leonardo Porto, está condicionado também às empresas de tecnologia dos Estados Unidos: caso haja uma reprecificação dos ativos ligados à inteligência artificial, temor que tomou conta do mercado internacional nos últimos meses, é possível que o apetite por ativos mais arriscados seja inibido, respingando em mercados como o brasileiro.