Como acusação falsa no WhatsApp virou tormento para motorista de app

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Reverton Almeida, motorista de aplicativo vítima de fake news. Foto: Reprodução

Por Paula Gama

Depois de um dia comum de trabalho, o motorista de aplicativo Reverton de Almeida, de 36 anos, teve sua vida revirada. O drama começou no dia 22 de agosto de 2023, quando, depois de deixar um passageiro em seu destino, foi avisado por um amigo que estava sendo acusado de ser um sequestrador. Dias depois, mesmo após ter procurado a polícia para informar ter sido vítima de fake news, o profissional ainda tem medo de sair de casa para trabalhar ou mesmo andar pelas ruas do bairro em que mora há 25 anos.

O que mudou a vida de Reverton foi uma mensagem de áudio espalhada em grupos de WhatsApp, seguida de uma foto dele, enviadas por um homem cujo amigo teria sido vítima de sequestro.

“Esse pilantra sequestrou um parceiro nosso e levou para Santos. Fez vários Pix na conta do mano e do passageiro que estava junto. Fez um arrastão lá”, dizia o áudio.

Segundo o autor da mensagem, que ainda não foi identificado, um passageiro de aplicativo suspeitou de Reverton e jogou a foto dele nas redes sociais, quando uma suposta vítima teria o reconhecido.

“Um camarada meu estava na Vila Maria, ia pegar ele, quando o camarada chegou no endereço, ele disse que estava em outra rua. Meu camarada achou suspeito e vazou, só que jogou na rede a foto. O cara que foi sequestrado disse ‘ah, foi esse cara que me pegou’. Qualquer coisa, se ver esse pilantra, ajuda ‘nois’ pegar esse vagabundo”, finalizou a mensagem de voz.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para entender melhor o caso. A Polícia Civil disse que localizou o boletim de ocorrência de calúnia, tendo a pessoa citada pela reportagem como vítima, registrado na última quinta-feira (24) pela Delegacia Eletrônica e encaminhado ao 19º Distrito Policial (Vila Maria).

“Por se tratar de um crime de ação penal pública condicionada, a vítima foi orientada quanto ao prazo de representação criminal para prosseguimento das investigações”. A Polícia disse que não foram encontrados outros registros no nome de Reverton até o momento. Portanto, nenhuma investigação por sequestro ou outros crimes.

Medo de sair de casa

Motorista de aplicativo há cinco anos, Reverton afirma que não esperava passar por uma situação parecida. “Fiquei sabendo quando um amigo policial me enviou a foto e o áudio, dizendo que caiu em um grupo com outros agentes. Na hora, achei que fosse brincadeira. Até que caí em mim quando ele me orientou a fazer um Boletim de Ocorrência”, conta.

Na delegacia, o escrivão perguntou se ele tinha alguma inimizade. Na hora, ele disse imediatamente que não, mas agora acredita que alguém possa ter armado para prejudicá-lo.

“Não faço ideia de quem seja, mas no áudio o homem disse que eu estava na região de Vila Maria, em São Paulo, onde moro há mais de 25 anos. Estou trancado em casa com minha família, incluindo minha esposa grávida de seis meses, pois as pessoas dizem que ‘vão me pegar’ nos grupos.”

Nos aplicativos em que trabalha, o motorista não recebeu nenhuma punição, denúncia ou reclamação – pelo contrário, diz que mantém notas altas, mas ainda tem medo de pegar corridas e ser reconhecido por alguém que viu a fake news na internet.

“No domingo, saí de casa, de touca e boné, disfarçado, e um rapaz me perguntou se eu era o rapaz acusado de sequestrador. Ainda estou com medo. Torcendo para isso passar logo.”

Pena para quem cria fake news

O Código Penal brasileiro tem três tipificações para situações ligadas a mentiras e boatos: calúnia, injúria e difamação. A pena prevista para esses crimes vai de seis meses a dois anos e multa, que pode variar de acordo com os danos causados.

Reverton Almeida disse que a família está com medo de sair de casa
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