Derrota de Kamala azeda Partido Democrata e aponta ineficiência de campanha

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© Reuters/EVELYN HOCKSTEIN. Kamala Harris

Kamala Harris e o Partido Democrata reconheceram, na noite de quarta-feira (6), sua derrota nas urnas. Donald Trump venceu as eleições e voltará ao cargo para outro mandato.

Encerrou-se com isso o sonho democrata de ter a primeira mulher na Presidência. Em vez disso, os EUA escolheram o candidato mais velho de sua história —e o primeiro presidente condenado em ações criminais.

O próximo passo dos democratas será entender o que deu errado. Sabia-se que a disputa seria acirrada, mas as projeções dão a vitória dos republicanos em todos os estados-chave, além de liderar o voto popular.

A imprensa americana relata que, nos bastidores, a liderança democrata já troca acusações. A principal delas é de que Kamala não conseguiu convencer os eleitores de que reverteria uma profunda crise econômica.

Kamala tampouco teve sucesso em outros temas fundamentais do pleito, entre eles a imigração ilegal e a proibição do aborto. Essas foram, por outro lado, duas apostas do Partido Republicano durante sua campanha.

Outra crítica é à sua escolha de vice-presidente. Kamala optou por Tim Walz. Dizem que, se tivesse ido com o popular governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, Kamala poderia ter levado o estado-pêndulo.

Há desaprovação também a Biden, dentro do partido. Afirmam que o presidente demorou demais para desistir de sua candidatura, depois de aparições públicas desastrosas, em que penou para expressar suas ideias.

Todas essas considerações vêm, é claro, depois do resultado, que saiu na quarta-feira (6). Mas eram em grande medida preocupações de analistas políticos desde o início da corrida. Muitos já alertavam para o crescente risco desse fiasco eleitoral.

A noite de terça (5) tinha começado bem para a democrata. Seus apoiadores se reuniram na Universidade Howard, em Washington, em um clima de celebração. Sabiam que a disputa era difícil, mas pareciam confiantes.

Criada logo após a abolição da escravidão, em 1867, Howard é uma universidade de maioria negra. Foi onde Kamala se formou em 1986 —mais uma razão para os alunos torcerem pela vitória, que seria histórica.

O público dançou no gramado, e a Miss Howard cantou o hino nacional, seguida pelo coral da universidade. Faltava apenas Kamala ir ao palco, como esperado, e oferecer uma mensagem de otimismo para os eleitores.

A contagem dos votos, no entanto, foi frustrando as expectativas dos democratas. Nos telões armados no gramado, a rede CNN dava conta dos avanços do republicano Trump, que levou um estado após o outro.

Por volta de 0h do horário local (às 2h em Brasília) na quarta (6), o público começou a debandar. Estava claro, àquela altura, que Kamala perderia o pleito em lugares estratégicos, como Carolina do Norte e Pensilvânia.

Pouco depois, um dos líderes da campanha de Kamala tomou o microfone e anunciou que a candidata não iria mais comparecer ao evento. Parte da imprensa, na sequência, publicou as primeiras projeções de vitória de Trump.

Biden acompanhou esses desdobramentos na Casa Branca. Impopular, o veterano desapareceu das últimas semanas de campanha. Dizia-se que apenas atrapalharia Kamala.

Washington, que é uma cidade de maioria democrata, amanheceu pasma. Moradores —alguns dos quais tinham ido dormir sem saber da vitória de Trump— trocavam mensagens de luto e preocupação quanto ao país.

O resultado veio bastante mais cedo do que o esperado. Em 2020, o pleito levou dias para se resolver. Daí, em parte, a surpresa de quem nem cogitava que isso pudesse ocorrer durante a madrugada seguinte ao dia final de votações.

Democratas têm que lidar não só com a derrota —mas uma derrota enorme. Os republicanos vão controlar o Senado também. A disputa na Câmara segue em aberto. Se vencerem ali, controlarão todo o governo.

As primeiras projeções dão conta de que Trump garantiu essa vitória ao preservar seu apoio entre homens e brancos sem diploma de ensino superior. Trump angariou votos também entre latinos e homens negros.

Funcionou a estratégia de prometer sanar a inflação, a imigração ilegal e as guerras. São temas que movem a população. Ao que parece, mais do que a mensagem de Kamala, que focou o aborto e o perigo que Trump representa para a democracia.

Está claro, a esta altura, que não funciona dizer para os eleitores que o candidato rival é um risco para a democracia do país. A julgar pelo pleito, o eleitorado está mais preocupado com questões mais imediatas.

Nos próximos dias, analistas vão destrinchar os resultados para entender o que isso significa para o país —e em que direção caminha. Tudo indica que as mensagens de Trump convenceram a maioria dos EUA.

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