Direita brasileira comemora vitória de Trump e vê fortalecimento do bolsonarismo
Dirigentes e parlamentares de direita viram na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos o fortalecimento do bolsonarismo no Brasil para 2026. O republicano foi eleito com maioria não apenas nos colégios eleitorais como também no voto popular.
Ainda na madrugada de quarta-feira (6), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou mensagem parabenizando-o. Horas depois, divulgou um longo texto em rede social, no qual disse: “Que a vitória de Trump inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho”.
“Talvez em breve Deus também nos conceda a chance de concluir nossa missão com dignidade e nos devolva tudo o que foi tirado de nós”, disse ainda o ex-presidente, que está inelegível até 2030.
Aliados de Bolsonaro avaliam que a vitória do republicano elevará a pressão sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) para reverter a inelegibilidade do ex-presidente.
Esse cenário, no entanto, dependeria de uma série de decisões e articulações hoje improváveis. Ainda assim, o tom de esperança perpassou ainda outros aliados de Bolsonaro e dirigentes de partido de direita.
O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP e ministro na gestão do ex-presidente, disse que os americanos votaram em Trump porque não houve melhora na vida deles durante o governo de Joe Biden e que a resposta dos brasileiros virá em 2026.
O senador e secretário-geral do PL Rogério Marinho foi mais contundente, ao dizer que a eleição americana pode repercutir na inelegibilidade do ex-presidente, sem explicar como.
“A eleição do Trump fortalece a luta pela liberdade e de valores conservadores de direita, acredito que o bom senso e a Justiça irão prevalecer e Bolsonaro poderá disputar as eleições em 2026”, disse.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, por sua vez, disse que Bolsonaro vai aumentar sua base de apoiadores com a eleição de Trump.
Líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes (RJ) declarou que o resultado da eleição representa “uma vitória dos valores conservadores”.
“Aqui no Brasil, estamos firmes em nossa luta por Deus, pátria, família e liberdade. Esta conquista nos fortalece e reforça a esperança de que em 2026 será a nossa vez, ao lado de Bolsonaro, para devolver ao Brasil os valores que a nação precisa”, afirmou em publicação nas redes sociais.
Ex-presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) disse que a vitória de Trump vai fortalecer o bolsonarismo no país, além de aumentar as chances de reverter a inelegibilidade de Bolsonaro, permitindo que ele seja candidato.
Reservadamente, aliados mais pragmáticos do ex-presidente admitem ver com dificuldade uma mudança nas condenações de Bolsonaro no âmbito jurídico, mesmo com a eleição de Trump.
A avaliação, no entanto, é que, no Legislativo, ganha força o movimento de direita bolsonarista como um todo e que isso pode ajudar a reverter a inelegibilidade com o apoio dos parlamentares.
Um dos nomes cotados para eventual sucessão de Bolsonaro na direita em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), compartilhou a foto do atentado sofrido por Trump durante a campanha.
“Trump eleito! Começamos o dia celebrando a vitória do conservadorismo, do patriotismo, da prosperidade, da liberdade. Olhamos para os Estados Unidos com esperança ao ver o movimento conservador superar um dos seus obstáculos mais desafiadores”, disse.
Nas redes sociais, bolsonaristas também exploraram a declaração de apoio do presidente Lula (PT) a Kamala Harris no último dia 1º, sobretudo a menção que ele fez à existência de um nazismo com “outra face” no mundo ao criticar Trump.
Na quarta-feira (6), o petista parabenizou o republicano pela vitória e lhe desejou boa sorte. “Desejando sorte a governo nazista?”, disse Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O parlamentar viajou para os Estados Unidos nos últimos dias para acompanhar as eleições e esteve no clube onde Trump acompanhou a apuração.
Três lideranças do centrão na Câmara ouvidas pela reportagem minimizam eventual impacto que a eleição de Trump possa ter na Casa. Eles dizem que esse fato dá ânimo para a mobilização de parlamentares bolsonaristas na Casa, mas rejeitam que isso vá alterar o dia a dia do parlamento ou garantirá aprovação de eventual anistia de Bolsonaro.
Integrantes de partidos da esquerda rejeitam qualquer relação da vitória do republicano com a Câmara. Líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE) diz que o resultado “não interfere em nada na pauta” da Casa e nega impulso a eventual anistia de Bolsonaro. “Não terá anistia! Isso está precificado. Nem a Câmara vai [aprovar] nem o STF aceita.”
Líder do PC do B, Márcio Jerry (MA) diz que a eleição americana terá eco no debate político, no plenário e na tribuna, mas não na pauta institucional da Câmara. “Isso não vai fazer a extrema direita brasileira ser nem mais forte nem mais fraca. Ela dá o ânimo subjetivo, de discurso e pregação, mas não [influencia] a agenda e pauta política da Casa e do país.”