Disputa para sucessão de Pacheco no comando do Senado movimenta bastidores; entenda o cenário

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Faltando ainda seis meses para a eleição que vai escolher o novo presidente do Senado Federal, parlamentares já têm avaliado o lançamento de candidaturas para tentar colocar em xeque o favoritismo de Davi Alcolumbre (União-AP).

Quem for eleito vai comandar a Casa entre 2025 e 2026, substituindo o atual presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A eleição deve ocorrer no início de fevereiro do ano que vem.

Alcolumbre já presidiu o Senado entre 2019 e 2021. Além disso, foi uma das peças fundamentais na campanha de eleição e reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Na relação com o governo federal, Alcolumbre esteve ao lado de Jair Bolsonaro (PL) – mas também tem se mostrado próximo ao presidente Lula (PT).

O presidente da CCJ do Senado, senador Davi Alcolumbre (União-AP). — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O presidente da CCJ do Senado, senador Davi Alcolumbre (União-AP). — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

As indicações de que outros nomes poderão entrar em campanha têm mostrado, na avaliação de senadores, que o cenário amplamente favorável para Alcolumbre convive com focos de rejeição e descontentamento.

Além de servirem como termômetro para os posicionamentos dos parlamentares, as insinuações sobre novos candidatos na disputa podem servir para que bancadas negociem com Alcolumbre presenças maiores numa futura gestão da Casa.

Na oposição, estratégia é incerta

A oposição ainda está incerta sobre a possibilidade de ter um nome próprio na disputa. Senadores do grupo se dividem entre declarar apoio a Alcolumbre e lançar um representante da ala como candidato.

Líder do grupo na Casa, o senador Marcos Rogério (PL-RO) diz que os senadores de oposição devem avaliar melhor o posicionamento após as eleições municipais, marcadas para outubro.

Já o vice-líder do bloco no Senado, Eduardo Girão (Novo-CE) entende que o bloco deve se dividir: “Vamos trabalhar para ter um nome”.

Por outro lado, o líder da Minoria no Congresso, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), disse ao g1 que seu partido vai apoiar Alcolumbre na disputa.

“Davi Alcolumbre foi presidente do Senado por dois anos, durante o governo Bolsonaro, e soube manter o equilíbrio entre os Poderes, respeitou governo e oposição com proporcionalidade partidária”, diz Flávio.

O MDB, que presidiu a Casa por anos, também não fechou um posicionamento, que tem sido debatido pelo líder da sigla, Eduardo Braga (AM).

Membros do partido sinalizam que haveria desejo de Renan Calheiros (AL) em disputar mais uma vez o cargo.

Senador Renan Calheiros (MDB-AL) — Foto: Pedro França/Agência Senado
Senador Renan Calheiros (MDB-AL) — Foto: Pedro França/Agência Senado

Pacto feminino

Ao mesmo tempo, uma estratégia liderada pelas senadoras Soraya Thronicke (Podemos-MS) e Eliziane Gama (PSD-MA) para lançar uma candidatura feminina ao comando da Casa tem ganhado corpo. Em 200 anos, o Senado nunca teve uma presidente mulher.

Alinhadas, Soraya e Eliziane firmaram pacto para que somente a candidatura com maiores chances de rivalizar contra Alcolumbre prospere. O lançamento marcaria a terceira vez na história que uma mulher tenta se eleger presidente do Senado — Simone Tebet (MDB-MS) foi a única a disputar o cargo por duas vezes.

“A gente intensificou bastante a questão do fortalecimento do projeto da mulher na presidência do Senado. Eu conversei com a Soraya e a gente chegou nesse entendimento, foi muito importante, porque ela também lançou uma candidatura. E aí a gente pactuou de caminhar juntas nesse projeto, então eu acho que isso é uma etapa também importante, é um gesto importante em relação ao sentimento feminino”, disse a senadora Eliziane Gama em entrevista ao portal g1.

Além do desejo de ter a primeira mulher eleita para o comando de uma das Casas do Congresso, as senadoras também querem impulsionar a representatividade feminina e garantir espaço para mulheres na Mesa do Senado, responsável pela gestão legislativa e administrativa da Casa.

Somente duas mulheres estão entre os 11 membros da atual Mesa, ocupando duas vagas de suplência. Ao todo, desde 1826, quando o Senado começou a funcionar, as mulheres ocuparam 21 postos na gestão da Casa.

Senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O pacto das senadoras passa por uma avaliação de que, embora o jogo pareça estar liquidado por Alcolumbre, há espaço para conquistar apoios entre os críticos ao senador.

Elas se valem, por exemplo, de análises que criticam a falta de alternância no grupo que tem comandado a Casa nos últimos anos — Davi Alcolumbre presidiu o Senado entre 2019 e 2020, e elegeu o aliado Rodrigo Pacheco em 2021 e em 2023.

De acordo com Soraya, elas também se baseiam em uma série de críticas de bastidores às gestões de Alcolumbre e Pacheco e em um suposto histórico de falta de transparência de decisões tomadas pelos dois.

“A atuação do Davi fez os senadores terem saudade de Renan Calheiros[, que presidiu o Senado por três vezes]. Não vale mais o Regimento Interno do Senado, o que vale é o RIDA [Regimento Interno de Davi Alcolumbre]. Ele faz as leis e as regras, e todo mundo abaixa a crista”, diz Soraya Thronicke.

As parlamentares relatam já terem recebido sinalizações de apoio de senadoras da bancada feminina e de senadores espalhados por partidos.

“Tem voto em todo lugar. Tem homens conosco. Não é uma campanha de mulherzinha para eles diminuírem a gente”, afirma Soraya.

Apesar da disposição em encontrar votos, Soraya e Eliziane entendem que, pelo atual cenário, haverá espaço somente para uma candidatura feminina.

As duas definiram, no último mês, que vai prosperar o nome que reunir mais apoios. Na prática, isso significa que uma abrirá mão da candidatura em nome da outra.

“Nós vamos nos unir em quem disparar na frente. Uma vai acompanhar a outra. Eu abro mão. Não é ego. Nós não queremos uma candidatura feminina. Nós queremos uma cadeira feminina na presidência do Senado e ponto final”, declara Soraya Thronicke.

“Ninguém aqui é bobo, ninguém nasceu ontem. Não tô aqui para fazer um discursinho de dez minutos no Dia D, não. Tô aqui para fazer. E eu vou, retiro a minha [candidatura] se algum contra Davi se superar, e voto nele. Eu tô entrando para ser a número 1. Porém, é importante que todos saibam que isso não é uma ilusão, que tem estratégia”, declara Soraya Thronicke.

Estratégia

De acordo com a senadora Eliziane, no PSD, além dela, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) também manifestou o seu desejo de concorrer à presidência do Senado.

A decisão sobre qual parlamentar será apoiado pela sigla caberá ao líder do partido no Senado, senador Otto Alencar (PSD-BA).

Em entrevista ao portal g1, Eliziane disse que Otto sinalizou que a decisão será tomada depois das eleições municipais, mas que ela preferia que isso acontecesse antes.

A empreitada das senadoras contra a favoritíssima candidatura de Davi Alcolumbre passa por uma estratégia de corpo a corpo com senadores.

Senadora Eliziane Gama (PSD-MA) — Foto: Pedro França/Agência Senado
Senadora Eliziane Gama (PSD-MA) — Foto: Pedro França/Agência Senado

Contando com apoio financeiro e logístico de seu partido, Soraya planeja dar início a uma série de encontros presenciais com cada um dos senadores, de preferência em suas bases eleitorais. Ela espera colocar a campanha na rua após o segundo turno das eleições municipais.

Soraya avalia que a disputa de 2025 poderá se traduzir em uma espécie de “referendo” à força de Alcolumbre na Casa.

“A insatisfação contra o Davi pode ser igual ao momento em que o Davi ganhou contra o Renan [Calheiros]. Não foi ele que ganhou, foi Renan que perdeu [na eleição para a presidência da Casa em 2019]. Agora, pode ser que Davi perca. Então não interessa se for Eliziane, se for Soraya, quem quer que seja”, avalia Soraya.

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