Dois policiais civis são presos sob suspeita de receber propina de traficantes

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Diversas viaturas da Policia Federal durante cumprimento de mandado - Divulgação/Polícia Federal

Dois policiais civis com mais de 30 anos de serviço foram presos na manhã da terça-feira (3) em operação da Polícia Federal e do Ministério Público que investiga corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro em São Paulo a partir do recebimento de propina por dois narcotraficantes internacionais, que também são alvos da ação.

Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva nas cidades de São Paulo e Arujá (SP).

A operação foi realizada pelo Ficco (Força Tarefa de Combate ao Crime Organizado) da Polícia Federal, em ação conjunta com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo) do Ministério Público de São Paulo, com apoio da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo.

Segundo a PF (Polícia Federal), dois narcotraficantes, que fazem parte da organização criminosa responsável pelo envio de diversas cargas de cocaína ao exterior, principalmente à Europa, pagaram suborno de R$ 800 mil a investigadores da Polícia Civil, em novembro de 2020. Outros pagamentos mensais teriam sido feitos até o primeiro semestre de 2021.

O pagamento da propina, segundo a investigação, foi intermediada por advogados dos narcotraficantes, e foi usada como moeda de troca para o arquivamento de uma investigação que estava em andamento no Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), e apurava a atuação da organização criminosa no tráfico internacional de drogas.

Os policiais civis presos integravam o Denarc à época, mas atualmente não fazem mais parte do departamento da Polícia Civil. Eles são suspeitos de terem recebido os depósitos em contas de pessoas jurídicas num esquema que envolveu mais de 20 laranjas ou testas de ferro ligados à dupla de policiais.

No inquérito policial também é apurado o crime de lavagem de dinheiro cometido pelos narcotraficantes, pelos policiais civis investigados e seus parentes e por pessoas usadas como laranjas. As investigações também apontam para indícios de envolvimento dos mesmos policiais civis com o tráfico de drogas apreendidas em atividades de repressão ao comércio ilícito dessas substâncias.

A quebra de sigilos bancário e telemáticos dos policiais revelou movimentações incompatíveis com seus rendimentos. Um deles declarou à Receita apenas um bem patrimonial no valor de R$ 100 mil, mas suas transações financeiras movimentaram mais de R$ 16 milhões entre 2017 e 2023.

O outro, servidor da Polícia Civil há 34 anos, com salário líquido de cerca de R$ 7.000, tinha 11 imóveis e movimentação financeira de mais de R$ 13 milhões entre 2017 e 2023.

A Justiça determinou o bloqueio de valores em contas bancárias de 23 pessoas físicas e 18 pessoas jurídicas até o limite de R$ 15 milhões, além do sequestro de veículos pertencentes aos investigados com valor aproximado de R$ 2,1 milhões, e de 12 imóveis em São Paulo, Atibaia e Guarulhos cujos valores de mercado estimados somam R$ 8 milhões.

Questionada na manhã da terça (3), a Secretaria da Segurança Pública afirmou que Corregedoria da Polícia Civil acompanha uma operação e “Caso seja comprovado qualquer desvio de conduta de policiais civis as medidas cabíveis serão tomadas”.

A Ficco é composta atualmente pela PF, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria de Segurança Pública do estado, Secretaria de Administração Penitenciária e Secretaria Nacional de Políticas Penais.

A operação foi batizada de Face Off, que remete a um filme americano, do ano de 1997, em que policial e criminoso “trocam de rosto”.

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