“É possível ser mediador entre o bem e o mal?”: Zelensky pede que Israel escolha seu campo na guerra
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, fez um esperado discurso nesse domingo (20) destinado ao governo israelense. O chefe de Estado pediu que Israel se posicione diante da ofensiva russa visando seu país e apoie explicitamente Kiev. “É hora de tomar uma decisão… a indiferença mata”, disse.
Com informações de Michel Paul, correspondente da RFI em Jerusalém
Foi por meio de um vídeo via Zoom que o presidente ucraniano falou com os deputados do Knesset, o Parlamento israelense. Durante seu discurso, Zelensky atacou diretamente a posição de Israel, considerada ambígua.
“Porque Israel não impõe sanções substanciais à Rússia”, disse o ucraniano. “Nós pedimos sua ajuda. Do que se trata? Indiferença? Acordo ou mediação?”, metralhou o chefe de Estado. “É possível fazer a mediação entre países, mas não entre o bem e o mal”, insistiu.
O pronunciamento foi transmitido ao vivo em telões em Tel-Aviv. Durante seu discurso, Zelensky, que tem origem judaica, como cerca de 200 mil pessoas na Ucrânia, disse que a invasão russa era uma tragédia “para o s judeus do mundo inteiro”, e fez alusões ao Holocausto. “O Kremlin utiliza a terminologia nazista. Os nazistas falavam de ‘solução final’ ao abordar a situação dos judeus. Vocês não podem se esquecer nunca disso. E agora Moscou fala de uma ‘solução final’ para Kiev”, comparou.
“A Ucrânia fez a sua escolha há 80 anos e nós temos Justos que esconderam judeus. Agora é hora de Israel fazer a sua escolha. A indiferença mata”, lançou.
Israel equilibrista
O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, tentou assumir um papel de mediador entre a Ucrânia e a Rússia, se reunindo com Vladimir Putin em Moscou logo após o início da ofensiva militar. Ele também conversou várias vezes por telefone com o presidente ucraniano.
No entanto, mesmo se apoiou a Ucrânia durante a Assembleia Geral Extraordinária no início do mês,o governo israelense é prudente ao se posicionar entre os dois países. Tentando encontrar um equilíbrio entre o Ocidente e Moscou, o Estado hebreu preferiu não impor sanções contra a Rússia.
Ao contrário de boa parte dos países ocidentais, Israel evitou tentar punir os oligarcas russos considerados próximos de Kremlin, muitos deles que também possuem a nacionalidade israelense, como Roman Abramovitch, o dono do time de futebol inglês Chelsea. O país se contentou em dizer que não vai permitir que Moscou e os oligarcas “driblem” as sanções. Israel também anunciou que vai instalar uma clínica no oeste da Ucrânia na próxima semana.