Eleição na Venezuela: Governo exige retirada de diplomatas de sete países latino-americanos

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Nicolás Maduro, líder da Venezuela. Foto: EFE/ Rayner Peña R.

O governo da Venezuela anunciou na segunda-feira (29) a retirada de pessoal diplomático da Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai do país, bem como a saída dos seus próprios representantes nestas nações. A decisão ocorre após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ter declarado o presidente Nicolás Maduro vencedor das eleições realizadas no domingo (28), sem apresentar atas da votação, num resultado não reconhecido pelos governos dos países citados.

“A República Bolivariana da Venezuela expressa a sua mais firme rejeição às ações e declarações intervencionistas de um grupo de governos de direita, subordinados a Washington e abertamente comprometidos com os postulados ideológicos do fascismo internacional, tentando reanimar o fracassado Grupo de Lima. Estes governos tentam ignorar os resultados eleitorais das eleições presidenciais de domingo, 28 de julho de 2024, que deram a vitória a Nicolás Maduro Moros como presidente da República Bolivariana da Venezuela para o novo período constitucional 2025-203”, diz o comunicado do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil.

“Ante este precedente nefasto que atenta contra nossa soberania nacional, decidimos retirar todo o corpo diplomático de nossas missões na Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai, bem como expulsar de imediato seus representantes do território venezuelano”, continuou. Caracas declarou ainda que se reserva o direito de tomar medidas legais e políticas para proteger sua soberania e autodeterminação.

Em resposta ao anúncio, o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alberto Van Klaveren, classificou a medida como típica de um “regime ditatorial”.

— É uma decisão lamentável e verdadeiramente inédita. Não me lembro de uma medida com essas características. Revela o isolamento em que se encontra o governo venezuelano neste momento, e é muito notável a medida que tomou — disse à CNN Chile o chanceler. — O que mais me surpreende é que uma medida dessa natureza deixa uma grande quantidade de cidadãos venezuelanos em absoluta indefensibilidade.

O presidente chileno, Gabriel Boric, afirmou anteriormente que o país não vai reconhecer nenhum resultado que não seja verificável. Boric disse que os resultados anunciados pela autoridade eleitoral venezuelana são “difíceis de acreditar” e também exigiu “total transparência das atas e do processo”.

Do Panamá, o presidente José Raúl Mulino anunciou antes mesmo da decisão do governo chavista que retiraria o corpo diplomático do país e suspenderia as relações bilaterais com a Venezuela se não houver uma revisão dos números.

Por sua vez, o presidente argentino, Javier Milei, expressou sua oposição ao governo de Maduro em sua conta no X, chamando-o de ditador. Ele afirmou que “os venezuelanos decidiram acabar com a ditadura comunista” e declarou que “a Argentina não reconhecerá outra fraude”, afirmando que a “liberdade está avançando” na América Latina (uma alusão ao nome de seu movimento ultraliberal).

O Peru também se manifestou contra o resultado. Mais cedo, na segunda-feira (29), o chanceler peruano, Javier González-Olaechea, anunciou na rede social X que chamará o embaixador do Peru na Venezuela para consulta “dados os gravíssimos anúncios oficiais das autoridades eleitorais venezuelanas”.

Para o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, “não se pode reconhecer uma vitória se não se confia na forma e nos mecanismos utilizados para alcançá-la”. Em uma publicação no X, acrescentou: “Era um segredo aberto. Eles iam ‘ganhar’ sem prejuízo dos resultados reais. O processo até ao dia da eleição e da contagem foi claramente falho.”

Na mesma linha, o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, afirmou em uma mensagem no X que “repudia categoricamente a proclamação de Nicolás Maduro como presidente da República Bolivariana da Venezuela, que consideramos fraudulenta”.

‘Golpe de Estado’

O resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) na madrugada da segunda-feira (29), com 80% das urnas apuradas, indicou a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos, com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, Edmundo González Urrutia. A oposição denuncia não ter tido acesso a 100% das atas de votação, e contesta o resultado final, apontando que González Urrutia é o verdadeiro vencedor.

Com a negativa da oposição, Maduro afirmou ser alvo do que classificou como uma “tentativa de impor um golpe de Estado na Venezuela”.

— Estão tentando impor um golpe de Estado fascista e contrarrevolucionário na Venezuela mais uma vez — disse Maduro no CNE, onde foi proclamado vencedor das eleições. — Eles estão ensaiando os primeiros passos malsucedidos para desestabilizar a Venezuela e impor novamente um manto de agressão e danos ao país.

França, Espanha e União Europeia pediram “transparência total” no processo. Por sua vez, pouco após a divulgação do resultado eleitoral, governos aliados ou simpáticos ao regime chavista parabenizaram Maduro, reconhecendo o resultado divulgado pelo CNE. Entre os países que reconhecem a reeleição estão Cuba, Nicarágua e Rússia. A China, que mantém laços estreitos com Caracas, também parabenizou o chavista.

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