Eleições francesas: esquerda hesita em escolher candidatura única para ter chances contra Macron

Christiane Taubira. © AFP - JULIEN DE ROSA
A pouco mais de três meses das eleições presidenciais francesas, as discussões se aceleram à esquerda para a definição da melhor estratégia para chegar ao segundo turno. No penúltimo dia de 2021, o jornal Libération publica uma pesquisa sobre “o que esperam os eleitores de esquerda”.
A sondagem mostrou que 65% deles acham é uma boa ideia a realização de prévias abertas para a definição de um nome que una os diferentes partidos. Mas ao mesmo tempo, 52% acham que aquilo que divide a própria esquerda é mais importante do que os pontos de união dos militantes progressistas. Para 30%, as diferenças políticas entre as diversas correntes são “irreconciliáveis”.
Essas barreiras se refletem nos índices de popularidade de cada um dos seis pré-candidatos declarados até agora, além de outros três de extrema esquerda. O nome mais popular, da ex-ministra da Justiça Christiane Taubira, acaba de ser lançado e desponta com 39% de preferêncua, na pesquisa feita pela Viavoice para o jornal francês.
Já a candidata do tradicional Partido Socialista, a prefeita de Paris Anne Hidalgo, conta com apenas 23% de apoio, no último lugar entre os pretendentes da esquerda à sucessão do atual presidente, Emmanuel Macron.
Macron, aliás, aparece bem colocado na pesquisa revelada pelo Libération, em terceiro lugar: 34% dos consultados se dizem dispostos a reeleger o chefe de Estado, que comanda um governo com nomes principalmente da direita e do centro, mas incluindo da esquerda.
Discórdias sobre melhor estratégia
O jornal conservador Le Figaro também dá destaque para as divisões na esquerda francesa. “Tem aqueles que defendem a todo preço a união da esquerda, constatando que nenhum candidato será capaz de chegar, hoje, ao segundo turno. E tem os outros, que avaliam que essas tentativas de negociação (…) são contraprodutivas e podem desmobilizar o eleitorado já no primeiro turno”, diz o texto publicado na edição desta quinta-feira (30).
O diário frisa que o candidato ecologista, Yannick Jadot, e o da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, são os mais refratários a eventualmente abrir mão de concorrer em nome de uma candidatura única à esquerda. Ambos já recusaram deixar o caminho para Christiane Taubira.
“Mas a pressão pela união vem também de dentro”, ressalta o Figaro, lembrando que uma liderança dos ecologistas, Sandrine Rousseau, “não hesita em dizer em alto e bom tom que a esquerda dividida e dispersa não terá sucesso”.
No Partido Socialista a questão é mais que delicada. Um alto dirigente da sigla confessou ao jornal que abrir mão da candidatura de Anne Hidalgo poderia consolidar “a morte do partido”, em agonia desde a presidência de François Hollande. Seria a primeira vez que os socialistas estariam de fora de uma eleição francesa.