Após as eleições do último domingo na Alemanha, os resultados oficiais anunciados pela autoridade eleitoral alemã confirmaram a vitória do Partido Social-Democrata (SPD). O atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, é o favorito para assumir o cargo ocupado por Angela Merkel, que está no poder desde 2005.
Scholz, inclusive, disse ter um mandato claro para formar um governo, buscando uma aliança com os Verdes e os Liberais-Democratas, naquela que poderá ser a primeira coalizão de três partidos na Alemanha desde os anos 1950. Enquanto não houver uma definição, Merkel continua como chanceler.
Mesmo com a indefinição sobre o nome do futuro primeiro-ministro alemão, os resultados obtidos nas eleições do último domingo já mostram como deve ser a relação entre o governo da Alemanha e o do Brasil – na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido).
Professor da Faculdade das Américas (FAM) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Elias Justino Bartolomeu Binja ressalta que, antes de mais nada, a Alemanha passa por uma transição entre a liderança de um partido conservador para um de centro-esquerda. “Esse é um indicativo importante, que mostra o desejo do povo alemão por mudança”, avaliou.
Sobre a relação com o Brasil governado por Bolsonaro, o professor ressaltou que é precoce fazer “afirmações contundentes” agora. No entanto, com a provável participação dos Verdes na coalizão, é possível dizer que os ideias alemães deverão ser contrários ao do mandatário brasileiro. “Há um indicativo de que as relações não serão amistosas, como nós gostaríamos. O Brasil gostaria de ter boas relações com a Alemanha. Temos uma comunidade alemã significativa no país. É algo histórico. Além disso, tem a questão econômica. Os alemães têm a economia mais forte do bloco europeu. Seria um parceiro econômico importantíssimo”, destacou Elias, que completou: “Mas é preciso esperar o término das negociações entre os partidos alemães para entender como será a liderança da Alemanha após a saída de Merkel”, pontuou.
Já o professor Edson Violim Júnior, que também leciona na FAM e é mestre em História pela PUC-SP, salientou que os resultados das eleições alemãs foram desastrosos para a extrema-direita alemã. Ele ainda recordou que Martin Schulz, ex-líder do SPD, sigla de Scholz, chegou a visitar o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na prisão em Curitiba. “Em 2013, na festa dos 150 anos do SPD, Lula foi um dos principais oradores”, pontuou.
Edson também chamou a atenção para a “quase certa” interferência dos Verdes na coalização. “Eles [os Verdes], por exemplo, defenderam, em 2020, que o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul deveria ser interrompido. O partido também defende regras sociais, ecológicas e de direitos humanos, ou seja, uma crítica contundente e clara ao governo Bolsonaro”, analisou.
“Além disso, a agenda do novo parlamento também deve priorizar questões ambientais, distanciando-se do Brasil. Desde 2019, os repasses da Alemanha para o Fundo Amazônia estão congelados por causa do desmatamento. A Alemanha tem interesses econômicos no Brasil, com fábricas da Volkswagen e da Mercedes em nosso território, mas a postura de Bolsonaro dificulta uma maior aproximação entre as duas nações”, finalizou.
Quem são os Verdes?
Segundo informações da DW, um dos maiores veículos de comunicação da Alemanha, o partido, que é oficialmente chamado de Aliança 90/Os Verdes, foi fundado na Alemanha Ocidental em 1980 “por movimentos pacifistas que se opunham a presença de armas nucleares na Europa”.
Atualmente, com uma pauta ambiental incisiva, eles cresceram em popularidade no país – o que mostra uma preocupação gigante dos alemães com o meio ambiente- e ficaram em terceiro lugar nas últimas eleições (atrás do PSD e da União Democrata Cristã). Tal posição e o salto de 8,9% para 14,8% dos votos, em quatro anos, praticamente asseguram a participação do partido na coalizão que irá liderar a Alemanha.
Como é escolhido um chanceler na Alemanha?
O parlamento alemão (Bundestag) é o responsável por eleger o novo primeiro-ministro do país. Na prática, só é possível governar com a maioria no parlamento. Por isso, é preciso formar uma coalizão para se chegar a um nome.
Como o PSD foi o partido que conquistou mais cadeiras no Bundestag (206, o equivalente a 25, 7%), Olaf Scholz é o favorito para assumir o cargo. No entanto, a oficialização depende de uma negociação que pode demorar meses. A ideia é que a situação seja definida antes do Natal.
Além de Scholz, Armin Laschet, candidato do partido de Merkel (União Democrata Cristã), também teve votos suficientes para tentar formar uma coalizão. Porém, a própria chanceler já parabenizou o PSD pela vitória, indicando que o social-democrata deve, de fato, assumir o poder.