Entenda investigações contra Braiscompany e por que empresa é suspeita de calote milionário
A Braiscompany é uma empresa fundada e sediada em Campina Grande, no Agreste da Paraíba. A empresa se envolveu em uma polêmica financeira com suspeita de atraso de pagamentos de ativos digitais. Os próprios clientes da empresa denunciaram o suposto golpe nas redes sociais e deram início ao caso, que já rendeu envolvimento do Ministério Público da Paraíba e Polícia Federal.
A empresa, idealizada pelo casal Antônio Ais e Fabrícia Ais, era especializada em gestão de ativos digitais e soluções em tecnologia blockchain. Os investidores convertiam seu dinheiro em ativos digitais, que eram “alugados” para a companhia e ficavam sob a gestão dela pelo período de um ano. Os rendimentos dos clientes representavam o pagamento pela locação dessas criptomoedas.
A Braiscompany prometia um retorno financeiro ao redor de 8% ao mês, uma taxa considerada irreal pelos padrões usuais do mercado. Milhares de moradores de Campina Grande investiram suas economias pessoais na empresa, motivados pelo boca a boca entre parentes, amigos e conhecidos. Antônio Neto Ais, o fundador da companhia, disse em uma live que gerenciava R$ 600 milhões de 10 mil pessoas.
O início das denúncias
No final de dezembro de 2022, o ator paraibano Lucas Veloso denunciou a empresa nas redes sociais. O artista disse que sofreu um prejuízo por não ter o retorno financeiro prometido pela empresa. O valor seria investido em forma de patrocínio para o filme de Lucas.
Antônio Ais negou a informação, mas depois de Lucas, outros clientes começaram a relatar atrasos nos pagamentos dos investimentos. A advogada Larissa Gatto afirmou, em fevereiro deste ano, que representa 35 clientes da empresa e alega que essas pessoas perderam pelo menos R$ 1,8 milhões.
De acordo com a Braiscompany, os primeiros atrasos foram causados por um aplicativo que estava em fase de testes e deixou os pagamentos lentos. Em seguida, a empresa culpou a corretora de criptoativos, Binance, passou a travar as operações e limitar a capacidade de pagamento.
Empresa é alvo de operações da Polícia Federal
A Braiscompany foi alvo de uma operação da Polícia Federal no dia 16 de fevereiro, que teve como objetivo combater crimes contra o sistema financeiro e o mercado de capitais. As ações da PF aconteceram na sede da empresa e em um condomínio fechado, em Campina Grande, e em em João Pessoa e em São Paulo. A operação foi nomeada de Halving.
No dia 23 de fevereiro, aproximadamente R$ 15,3 milhões foram bloqueados de contas de pessoas vinculadas à Braiscompany. De acordo com a PF, os sócios da Braiscompany movimentaram cerca de R$ 1,5 bilhão nos últimos quatro anos, e estão foragidos.
Os sócios da empresa Braiscompany, Antônio Neto Ais e Fabrícia Ais, tiveram os seus pedidos de prisões temporárias convertidas em preventivas no dia 24 de fevereiro. Assim os seus nomes foram incluídos na lista de procurados da Interpol, a polícia criminal internacional que age em todo mundo. A informação foi confirmada pela Polícia Federal na Paraíba.
Em setembro deste ano a empresa foi alvo da 4ª operação da Polícia Federal para combater lavagem de dinheiro decorrente dos crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais.
Fundadores estão foragidos há 9 meses
Além da taxa de retorno financeiro muito acima do regularmente praticado no mercado, boa parte da atração exercida pela Braiscompany está ligada à imagem de seu fundador, Antônio Inácio da Silva Neto. Ele adotou suas três primeiras iniciais como sobrenome e se apresenta como Antônio Neto Ais.
O empresário mantinha um Instagram com fotos bem produzidas, registros ao lado de celebridades e vídeos motivacionais. Quando o golpe estourou, sua rede social registrava 900 mil seguidores, que consumiam conteúdo sobre uma vida de luxo e sucesso individual.
Neto Ais é casado com Fabrícia Ais, que é sócia e co-fundadora da empresa. Os dois estão foragidos desde fevereiro deste ano.
Em setembro, tivemos acesso ao relatório da Polícia Federal que afirma que ambos fugiram do país pela fronteira terrestre com a Argentina. Eles utilizaram os passaportes da irmã e do cunhado de Fabrícia.
Explicações em live e posicionamento da Binance
Em fevereiro deste ano, Neto Ais fez uma live no Instagram para apresentar suas justificativas sobre a suspensão de pagamentos de dividendos para os clientes. Ele afirmou que a corretora de criptomoedas Binance, a maior do mundo, estava realizando bloqueios constantes, o que teria impacto nas atividades da empresa.
A Binance é uma espécie de bolsa para transações entre ativos virtuais ou para converter dinheiro convencional em criptos.
Procurada, a Binance enfatizou, à época, que “atua em total colaboração com as autoridades para coibir que pessoas mal intencionadas utilizem a plataforma”. Em nota, a corretora informou, por meio da assessoria de imprensa, que “não realiza quaisquer ações em contas que não sejam devidamente embasadas nos termos e condições, contratos e políticas vigentes e aceitos por todos os usuários. Todos os usuários da Binance no mundo têm acesso 24h, 7 dias por semana, à Central de Suporte da Binance, que oferece atendimento em dezenas de idiomas”.
“A exchange ressalta que tem uma equipe de investigação de renome mundial, com ex-agentes que trabalham em constante coordenação com autoridades locais e internacionais no combate a crimes cibernéticos e financeiros, inclusive no rastreamento preventivo de contas suspeitas e atividades fraudulentas.”
Em março deste ano, Antônio Ais publicou uma nova nota e afirmou que o crescimento e sustentabilidade da empresa foram interrompidos por causa da queda do bitcoin e do mercado criptomoedas. Leia a nota na íntegra.
“Todavia, vários fatores começaram a prejudicar nosso crescimento e sustentabilidade: a queda do bitcoin e do mercado cripto como um todo; fatores como a quebra da FTX; sem falar na pressão de autoridades e entidades, nas quais a verdade sobre este assunto chegará o tempo, e tudo virá à tona”.
Antonio Ais também reitera a sua responsabilidade no caso e afirma ter tomado decisões erradas, apesar de não detalhar quais foram. Ele também comenta que foi “otimista em relação ao Brasil” e cita a realidade do país como fator determinante na situação da empresa.
“Errei em algumas decisões, talvez tenha sido muito otimista em relação ao Brasil (…). Empreender no Brasil é um desafio. Empreender inovando, o desafio é ainda maior”.
Por fim, Antonio Neto Ais pede perdão aos clientes lesados e diz que deseja “dias melhores a todos” e “que a verdade prevaleça”.