Falta um coordenador político para a campanha de Bolsonaro

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Jair Bolsonaro. Foto: Igo Estrela

Por Ricardo Noblat

Não é por burrice que o presidente Jair Bolsonaro é contra o passaporte da vacina que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, tornou obrigatório para os estrangeiros que queiram entrar no Brasil – é por cálculo político.

Bolsonaro está cansado de saber que a maioria dos colegas de Barroso é a favor da medida e que deverá confirmá-la em julgamento previsto para os próximos dias. Ao combatê-la de véspera, ele quis faturar alguns pontos junto à sua base radical.

Todos os seus gestos daqui para frente só terão esse objetivo. É preciso deter a sangria de votos que são seus e que aos poucos poderão migrar para o ex-juiz Sérgio Moro. E reforçar o discurso de que a Justiça o sabota e conspira para enfraquecê-lo.

Bolsonaro tem agora um partido, o PL do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto, que lhe dará abrigo, dinheiro para gastar e tempo de propaganda eleitoral no rádio e televisão. Falta-lhe, no entanto, alguém que se preste ao papel de coordenador de sua campanha.

Não teve nada disso em 2018, mas aquela foi a eleição mais atípica desde a redemocratização. Não se repetirá. O candidato tem a palavra final em tudo que o afete diretamente, mas não funciona como coordenador da própria campanha. É o que a história ensina.

Isso é muito mais verdade no caso de um candidato que exerça outras atividades, como é o caso dos que governam. Bolsonaro foi um franco atirador antes de se eleger. Não é mais. Por mais que trabalhe pouco, terá de seguir trabalhando, embora não goste.

Entre seus dons não está o de hábil articulador político. Não tem paciência para a conversa sedutora ao pé do ouvido, nem jogo de cintura para conciliar o que parece inconciliável a princípio. É bom de palanque, mas ruim de se comunicar pela telinha.

 

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