‘Faz 10 anos e ela não voltou para gente’, diz avó de Fernanda Ellen após soltura do acusado

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Fernanda Hellen foi morta em 2013, em João Pessoa — Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Após 10 anos da morte da jovem Fernanda Ellen, em abril de 2013, o homem condenado pelo assassinato, Jefferson Luís Oliveira Soares, deixou a prisão e progrediu para o regime semiaberto. Para a família, a situação foi “revoltante”. “É triste saber que ele passou dez anos lá e voltou para casa. A morte faz dez anos e ela [Fernanda Ellen] não voltou para gente”, declarou a avó da vítima, Luzinete Cabral de Oliveira. Para o avô, Severino Ferreira, a notícia reabre uma ferida. “Ela acabou e ele está por aí”, diz.

A Vara de Execuções Penais de João Pessoa determinou a progressão da pena de 31 anos de Jefferson Luís Oliveira Soares para o regime semiaberto. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (Seap-PB), Jefferson vai ser monitorado por tornozeleira eletrônica. Fernanda tinha 11 anos quando foi morta.

A avó de Fernanda Ellen desabafa e diz que, com a soltura do acusado, tudo que viveu em em 2013, volta a passar pela sua cabeça. “Aquilo fica na mente. Tudo volta, e não quer sair […] As lembranças boas ficam, mas a saudade é grande”, diz. Ela lembra como Jefferson se comportou durante as buscas pelo corpo de Fernanda Ellen.

“Ele às vezes ficava olhando, perguntando, vendo tudo na televisão e vendo a angústia da gente. Totalmente frio. Botava cartazes nos postos. Ninguém suspeitava”, relata dona Luzinete Cabral.

Jefferson Luís Oliveira Soares foi progrediu do regime fechado para o regime semiaberto um dia depois da data de aniversário de Fernanda Ellen, quando ela completaria 22 anos.

Entenda a progressão de regime do acusado de matar Fernanda Ellen

Em 12 de abril deste ano, a juíza Andréa Arcoverde Cavalcanti, da Vara de Execuções Penais de João Pessoa, já havia determinado a remissão de 216 dias da pena total de 31 anos, estabelecida em 2013 pelo crime de latrocínio, roubo seguido de morte, no caso Fernanda Ellen. Dez anos da pena já foram cumpridos no regime fechado.

A remissão aconteceu, conforme a lei, pelo fato de Jefferson Soares ter trabalhado na Penitenciária Romeu Gonçalves de Abrantes, conhecida como PB1, nos períodos de novembro de 2014; janeiro a maio de 2015; agosto a dezembro de 2016 e janeiro a novembro de 2017. Jefferson deixou o PB1 na quinta (18).

O advogado criminalista Getúlio Souza explica que a situação está exposta em lei.

“A remissão de pena está esculpida na Lei de Execuções Penais. Se o reeducando trabalha ou estuda, a cada três dias ele consegue remir um dia da sua pena”, detalha.

O sistema penal brasileiro determina três tipos de regime quando um réu é condenado: regime fechado, semiaberto e regime aberto. O advogado Getúlio Souza explica que, quando condenado, o preso precisa, gradativamente, voltar para a sociedade, conforme prevê o sistema de ressocialização brasileiro.

No caso em questão, Jefferson Soares passará a ser monitorado com uma tornozeleira eletrônica. Dessa forma, ele não precisa cumprir uma das determinações do regime semiaberto, que é o retorno ao presídio durante à noite. Jefferson Soares poderá dormir em casa, mas será monitorado 24 horas por dia.

“Ele saiu do cárcere de privação total da sociedade. Ele pode trabalhar o dia inteiro e retornar para a sua casa, com monitoramento eletrônico. Dessa forma, ele cumpre todos os requisitos de estar no presídio, mas em sua casa”, detalha o advogado. Caso descumpra alguma medida, Jefferson pode retornar ao presídio e ter a pena revista.

Jefferson Soares foi condenado pelo assassinato de Fernanda Ellen em 2013 — Foto: Walter Paparazzo/G1
Jefferson Soares foi condenado pelo assassinato de Fernanda Ellen em 2013 — Foto: Walter Paparazzo/G1

Relembre o caso Fernanda Ellen

Fernanda Ellen Miranda Cabral de Oliveira foi vista pela última vez saindo da escola de blusa rosa e short azul, após buscar o boletim e comemorando a aprovação. No dia seguinte, a família da estudante registrou o desaparecimento de Fernanda na Delegacia da Criança e do Adolescente.

No dia 11 de janeiro, uma ação integrada envolvendo pelo menos 70 homens da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Fundac fez uma varredura em uma mata no Alto do Mateus e depois para a área da Ilha do Bispo, bairro vizinho.

O suspeito, Jefferson Luís Oliveira Soares, só veio a ser detido após três meses do desaparecimento da estudante, no dia 8 de abril de 2013. Ele se parecia com o retrato falado feito por uma prostituta, com quem a polícia encontrou o celular de Fernanda. Jefferson tentou fugir ao ver a mulher, que faria o reconhecimento, e foi detido.

Fernanda Ellen foi morta por estrangulamento após o suspeito tentar conseguir dinheiro para consumir drogas. De acordo com a confissão, Jefferson Soares, de 25 anos, manteve o corpo da menina durante dois dias embaixo de sua cama até conseguir oportunidade de enterrá-la no quintal de casa, enrolada na piscina de plástico da sua filha.

A estudante não tinha dinheiro, apenas o celular, que foi trocado por cinco pedras de crack.

A Polícia Civil e a Polícia Militar iniciaram escavações em busca de um corpo, no mesmo dia. Apesar da confissão, o corpo encontrado estava em alto estado de decomposição e só foi comprovado que o corpo encontrado era realmente de Fernanda Ellen, através da análise da arcada dentária e da reconstrução facial, realizado pelo Instituto de Polícia Científica (IPC) da Paraíba.

O corpo da estudante foi liberado pelo IPC no final de abril quando foi sepultado 112 dias depois da data do desaparecimento. A cerimônia, que teve um culto e homenagens, foi curta devido ao estado em que o corpo foi encontrado.

O resultado do julgamento saiu em setembro do mesmo ano do crime. Jefferson Soares foi condenado a 31 anos de prisão em regime fechado pelo crime de latrocínio, roubo seguido de morte. A juíza Anna Carla Falcão entendeu que o acusado matou a estudante para roubar o celular dela, por isso ele não foi a júri popular, como acontece nos casos de homicídio.

Fernanda Ellen sonhava em ser médica

Pais da estudante Fernanda Ellen — Foto: Jorge Machado/G1
Pais da estudante Fernanda Ellen — Foto: Jorge Machado/G1

A estudante Fernanda Ellen sonhava em ser médica. Gostava de se maquiar e fotografar, então também desejava fazer um curso de modelo. Ela completaria 22 anos em maio de 2023. Mas aos 11 anos de idade, Fernanda foi encontrada morta, na casa de um vizinho da família, em João Pessoa.

Nanda, como era chamada, era muito carinhosa, alegre e fazia amizade facilmente com todos que conhecia. O sonho da menina era fazer faculdade de medicina. A mãe da menina falou com o g1 quando o crime completou 10 anos.

“Ela falava muito sobre isso, mas só para ter a experiência. O sonho dela mesmo era ser médica. Hoje com certeza já estaria na faculdade, porque ela era muito dedicada, mas infelizmente esse sonho foi interrompido”, relembra Elizângela Miranda, mãe de Fernanda Ellen.

A mãe de Nanda relata que seguir em frente sem a filha foi muito difícil. Toda família ficou abalada, mas precisaram criar forças para continuar por causa do filho mais novo, que na época do crime tinha 3 anos. “É uma lacuna que não é preenchida nunca”, conta Elisângela.

Fazer as coisas rotineiras sem Fernanda foi um longo processo para a família de Fernanda. Por muitas vezes o irmão mais novo ia até o quarto da menina procurando por ela e a mãe até hoje acorda às 5h da manhã, como fazia para organizar as coisas do colégio. O pai, Fábio Júnior, caminhoneiro, até hoje precisa tomar remédios e voltar para a estrada foi complicado.

“A gente passou muito tempo sem sair de casa porque a gente não conseguia ir a determinados lugares que lembravam ela. Eu não me sinto à vontade em fazer feira ou a papelaria sem Fernanda”, relata Elizângela, pois eram os locais que mais costumavam ir juntas.

Elizângela escolheu lembrar dos momentos bons com a filha, como quando assistiam filmes juntas, para que essa saudade amenizasse um pouco. Dez anos já se passaram e muitas pessoas esqueceram, mas Elizângela e Fábio convivem com as memórias diariamente.

Perto do suspeito completar um terço da pena determinada pela justiça, a mãe afirma que é revoltante pensar na possibilidade de Jefferson Soares ganhar as ruas. “Será que a vida da minha filha vale só 10 anos?”, se pergunta.

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