Folha diz que “bolsonarismo pode dar vigor à política” e recua
Por Paulo Moura
Em editorial publicado na quinta-feira (30), a Folha de S.Paulo pegou seus leitores de surpresa ao afirmar que “o bolsonarismo pode dar vigor à política brasileira” ao se opor ao petismo. O periódico condicionou esse cenário, porém, ao abandono do que chamou de “violência, atitude antidemocrática e polarização irracional”.
A frase levou o jornal a figurar entre os assuntos mais comentados do Twitter. Como resultado, a Folha acabou por recuar, substituindo o parágrafo por outro que soasse menos favorável ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
– O bolsonarismo até poderia, se abandonasse a violência e o autoritarismo, liderar uma oposição saudável ao PT. Esse não é, infelizmente, o desfecho mais provável – diz o novo parágrafo do editorial intitulado Bolsonaro de volta.
Ao final do texto, a Folha disse ainda ter errado ao publicar a primeira versão do editorial, “com uma conclusão diferente da aprovada para a edição impressa”.
– O texto foi corrigido – concluiu.
O restante do texto, porém, permaneceu inalterado: o editorial inicia avaliando que Bolsonaro teve uma “recepção fria”, mas que manteve seu “potencial de líder da oposição”. O jornal prossegue dizendo que a viagem do ex-presidente aos Estados Unidos para evitar passar a faixa presidencial “soou mal entre seus eleitores moderados” e que os “ataques tresloucados de 8 de janeiro ampliaram a fadiga com o radicalismo”.
– Se existe algum simbolismo nessa chegada melancólica, ele diz pouco sobre o futuro de Bolsonaro. Dono de capital eleitoral imenso, ele ainda se apresenta como o principal nome da direita nacional – analisa o jornal.
Em sua avaliação, a Folha ainda afirma que “quebrar protocolos é uma das marcas do bolsonarismo” e que o ex-presidente burla regras para “lapidar sua identidade de personagem antissistema”, mas que na verdade não se diferenciaria de outros políticos.
O jornal prossegue citando os inquéritos contra o ex-chefe do Executivo que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que poderiam deixá-lo inelegível, mas avalia que a corrente política que ele propagou deve se manter por muitos anos.
– Vêm daí, e não da recepção esvaziada ou das declarações de Bolsonaro, as incertezas quanto a seu futuro. Incertezas essas que, aliás, não se estendem ao bolsonarismo, corrente que parece capaz de se manter forte por muito tempo – assinalou a Folha.