Fora da cadeia, Alexandre Nardoni teme ser hostilizado e opta por reclusão em mansão de três andares do pai

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Alexandre Nardoni na cadeia e a filha, Isabella Nardoni — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Por Ullisses Campbell

Fora da Penitenciária de Tremembé há duas semanas, Alexandre Nardoni, de 45 anos, tem evitado sair de casa. Segundo amigos e parentes, ele “morre de medo” de ser hostilizado na rua. Livre há um ano, Anna Carolina Jatobá, de 40 anos, já foi maltratada três vezes em espaços públicos, como um shopping, em uma loja de material de construção e até na churrascaria. Ainda assim, ela não tem evitado lugares públicos.

O casal foi condenado pelo assassinato de Isabela Nardoni, de 5 anos, morta após ser jogada da janela do sexto andar pelo pai em 2008. O pai pegou 31 anos de cadeia, enquanto a madrasta foi sentenciada a 26 anos por ter esganado a menina. Eles alegam inocência até hoje.

O receio do casal Nardoni de ser hostilizado não ocorre à toa. Quando chegaram no Fórum de Santana para enfrentar o Tribunal do Júri, em 2010, eles quase foram linchados pela população, que gritava eufórica “assassinos!”. Na época, o advogado do casal, Roberto Podval, chegou a apanhar de populares por defender pessoas acusadas de matar uma criança.

Na sua primeira saidinha Tremembé, ocorrida em 29 de abril de 2019, Alexandre Nardoni parou em um posto de gasolina na Via Dutra (BR-116), na altura de Taubaté, para esperar pela esposa, que não via fazia 10 anos. Logo, populares começaram a olhar de cara feia para ele. Assim que Jatobá chegou, ele deu um abraço frio nela e pegou a estrada novamente. A cena foi registrada por uma câmera da TV Record.

Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá em imagens de 2024 — Foto: Reprodução
Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá em imagens de 2024 — Foto: Reprodução

Uma das exigências da Justiça para que o casal Nardoni cumpra o restante da pena em liberdade é que eles tenham endereço e emprego fixo. Ambos foram contratados pelo pai dele, o advogado Antônio Nardoni, de 71 anos. Ele é dono da empreiteira Marc Empreendimentos e Participações Ltda., com sede na rua Doutor César, bairro de Santana, Zona Norte de São Paulo. “Alexandre recebeu uma proposta de trabalho para atuar nas funções de supervisão e acompanhamento de obras, bem como na supervisão das manutenções em obras já acabadas e que demandem algum reparo, entre outras atividades”, diz a carta da empresa do pai enviada à Justiça.

Disfarce e festa à vista

Atualmente, Alexandre Nardoni tem saído de casa para o trabalho e vice-versa. Para não ser reconhecido na rua, ele tem usado óculos escuros, boné e dirige um carro com película 100% escura. Nos momentos de folga, tem ficado na mansão de três andares do pai, no bairro de Tucuruvi, Zona Norte de São Paulo. O imóvel tem piscina e Nardoni tem recebido alguns amigos em casa.

Ele também estaria preparando uma festa para comemorar seu aniversário de 46 anos, marcada para o dia 26 de junho. Essa não seria a primeira vez que ele participaria de uma celebração. Há dois meses, ele e Jatobá foram a um casamento como padrinhos vestindo roupas de gala. Para evitar exposição, os convidados foram orientados pelo cerimonial a não fazer fotografias do casal de assassinos.

Na empresa do pai de Nardoni, Jatobá conseguiu emprego de auxiliar administrativa. Mas ela deixou claro no seu processo de execução penal que é um trabalho temporário. Ela pretende cursar faculdade e abrir um ateliê de costura para fabricar roupas para cães e gatos. Esse era o mesmo plano de Elize Matsunaga, quando deixou Tremembé em livramento condicional em 2022. No entanto, ela foi trabalhar como motorista de aplicativo e depois em uma empresa de obras e reformas, onde conheceu seu atual namorado, um pintor de paredes. O casal vive na cidade de Franca, interior de São Paulo.

Casal não mora junto

Apesar de negarem a separação, Nardoni e Jatobá não dividem o mesmo teto. Em seu processo de execução penal, ele declarou recentemente três endereços onde pode ser encontrado. O dois primeiros ficam no bairro de Santana. Ele também disse à Justiça que pode ser encontrado no endereço onde sua filha foi assassinada, na Vila Mazzei, Zona Norte da capital.

Já Anna Carolina Jatobá declarou em seu processo de execução penal que cumpre regime aberto em um apartamento localizado também no bairro de Santana. O GLOBO apurou que esse imóvel foi um presente dado pelo sogro, Antônio Nardoni, para que ela pudesse recomeçar a vida ao lado dos dois filhos, um de 17 e outro de 19 anos. Segundo o Ministério Público, ambos estavam em casa quando Isabella foi jogada pela janela. Os dois foram criados pela avó paterna, Maria Aparecida Alves Nardoni, que morreu em fevereiro aos 67 anos no Hospital São Luiz, vítima de choque séptico, infecção intestinal, insuficiência renal aguda, cirrose hepática e diabetes. Na época, Nardoni estava preso e conseguiu autorização da Justiça para participar do funeral da mãe.

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