Francesa drogada pelo marido para ser violentada por estranhos contraiu 4 infecções sexualmente transmissíveis

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Gisèle Pélicot — Foto: Christophe SIMON / AFP

Gisèle Pélicot, a francesa que foi drogada pelo marido por 10 anos para que estranhos a estuprassem, contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis em consequência dos abusos.

A revelação foi feita pela perita responsável pela avaliação clínica e ginecológica dela durante o quarto dia de julgamento de Dominique Pélicot, ex-marido da vítima, e mais 50 homens, acusados de serem os autores dos estupros.

“Ela escapou milagrosamente da contaminação pelo HIV e pelas hepatites B e C, mas contraiu quatro doenças sexualmente transmissíveis, necessitando de tratamento com antibióticos, incluindo um por via intramuscular”, afirmou a médica.

A perita ainda contou que acompanha Gisèle desde 2020, dois meses após a revelação dos fatos, e ressaltou o sofrimento vivido por ela ao longo dos últimos anos:

“Ela também deve lidar com o sofrimento de seus filhos. Ela se preocupa com as consequências psicológicas e com as consequências em sua relação com sua filha.”

Filha chama pai de criminoso

Na sexta-feira (6), inclusive, foi a vez de Caroline, filha do casal, testemunhar. Ela, que chorou no segundo dia de audiência ao ouvir que o pai tinha fotos suas nua, afirmou que ele é “um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos” e, novamente às lágrimas, relembrou o dia em que descobriu os crimes do pai:

“Minha mãe me disse: ‘Passei quase o dia inteiro na delegacia. Seu pai me drogou para me estuprar com estranhos’. Liguei para meus irmãos. Nos sentimos indefesos, choramos. Não entendemos o que estava acontecendo. Sofremos uma dor que não desejo a ninguém”.

Em 2022, Caroline lançou o livro “Et j’ai cessé de t’appeler papa” – em português “Deixei de te chamar de pai”. Em seu depoimento nesta sexta, ela falou sobre a decepção que sofreu.

“Amava meu pai, amava a imagem do homem que eu achava que conhecia. Um homem saudável, amável, respeitado. Descobri que o homem que era meu pai, em que eu tinha total confiança, que achava que era íntegro, que respeitava sua filha, que estava orgulhoso dela e que sempre a havia animado, na verdade havia me fotografado nua sem eu saber”, lamentou.

Caroline, de preto, ao lado da mãe, Gisèle, dos irmãos e da cunhada, de branco — Foto: Christophe SIMON / AFP
Caroline, de preto, ao lado da mãe, Gisèle, dos irmãos e da cunhada, de branco — Foto: Christophe SIMON / AFP

Francês também tinha fotos das noras nuas

Quem também testemunhou em juízo na sexta-feira (6) foi a nora de Dominique, que também teve fotos suas tiradas durante o banho sem autorização.

Ela contou que, após tantas revelações, todos estão preocupados com os possíveis crimes cometidos por ele contra os netos, com quem ele era carinhoso e passava muito tempo a sós.

O casal ficou junto por 50 anos e teve três filhos e sete netos.

Entre as imagens descritas por Céline, esposa de David, um dos filhos, está uma dela nua e grávida de gêmeas em 2011, na qual é feito um zoom em suas partes íntimas.

“A quem pertencem e onde estão agora, ou estarão dentro de 5, 10 anos?”, questionou.

Céline também lembrou um dia em que seus filhos encontraram a avó inconsciente por volta das 11h da manhã, “tentaram sacudi-la, mas ela não reagiu e só acordou por volta das 17h”. Para ela, “todos os netos da família perderam sua inocência”.

Os investigadores também mostraram fotos de Aurore, ex-companheira do filho Florian. Vítima de abusos na infância, ela aparece nas imagens na piscina e nua em um banheiro. Entre elas, uma das partes íntimas do sogro sobre seu maiô com a legenda ‘Minha nora imunda’.

“Senti tanta raiva ao ver a falta de respeito com que um ser humano pode ser tratado”, afirmou Aurore.

Ambas, atualmente com 48 e 37 anos, respectivamente, pensavam, no entanto, que faziam parte da “família ideal” e “carinhosa”, com um sogro “prestativo”, apesar de seus ataques de raiva ocasionais.

Gisèle deu depoimento forte

Ela falou pela primeira vez sobre tudo que sofreu na quinta-feira (5), no quarto dia de julgamento do ex, Dominique Pélicot, e mais 50 homens, supostos autores dos abusos.

“Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro; dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício. Quando vemos essa mulher, drogada, maltratada, morta na cama… Claro que o corpo não está frio, está quente, mas eu estou como se estivesse morta. Esses homens estão me contaminando, aproveitando-se de mim”, declarou.

Gisèle Pélicot — Foto: Christophe SIMON / AFP
Gisèle Pélicot — Foto: Christophe SIMON / AFP

Além do ex-marido, que já confessou ser culpado de todas as acusações e pode pegar até 20 anos de prisão, mais 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos e perfis diversos, respondem pelos crimes que estão sendo julgados; 18 deles estão em prisão preventiva.

Na terça, ao serem questionados pelo juiz, 35 réus se declararam inocentes e 13, culpados. Um deles está foragido e outro não compareceu ao tribunal.

Ao ser questionada sobre os 35 que alegam inocência, Gisèle não poupou os abusadores e ressaltou o fato de nenhum deles ter denunciado o que ela vinha sofrendo.

“Que eles reconheçam os fatos, o contrário é insuportável. Que eles tenham, pelo menos uma vez na vida, a responsabilidade de reconhecer seus atos. Estes senhores permitiram-se entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Estupraram-me com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida”, afirmou.

A divulgação do caso ao público foi uma escolha de Gisèle, de 72 anos. Segundo um de seus advogados, ela renunciou ao seu direito ao anonimato para que “isso nunca mais aconteça” e porque um julgamento a portas fechadas era “o que seus agressores queriam”.

Segundo a imprensa que acompanha o caso, durante todo seu depoimento, que durou duas horas antes de um intervalo para almoço, a francesa se mostrou firme. No entanto, ao juiz, ela admitiu:

“Dentro de mim sou um campo de ruínas. A fachada é sólida, mas por trás dela…”

Gisèle Pelicót descobriu os estupros no dia 19 de setembro de 2020. Após o marido ser flagrado filmando sob as saias de três mulheres em um supermercado, ela foi intimida a depor na delegacia e um policial a mostrou uma das imagens encontradas no computador de Dominique.

“Em 50 anos não tivemos uma vida linear, mas sempre nos mantivemos unidos. Problemas financeiros, problemas de relacionamento, problemas de saúde… Sempre apoiei meu marido. Tenho um sentimento de nojo, tínhamos tudo para sermos felizes, tudo. Não entendo como ele conseguiu chegar a isso”, lamenta.

Ex-marido e mais 50 homens são julgados por crime

A maioria dos 50 coacusados pelos crimes esteve apenas uma vez na casa do réu principal, na cidade de Mazan, no sul da França. Dez deles estiveram até seis vezes no local.

O marido da vítima não pedia dinheiro em troca. Os acusados não sofrem patologias psicológicas significativas, embora tenham um sentimento de “onipotência” sobre o corpo feminino, segundo especialistas.

Muitos afirmam que acreditavam estar participando das fantasias do casal. Segundo o marido, “todos sabiam” que sua esposa estava drogada sem o seu consentimento.

Segundo a investigação, “cada um dispunha de seu livre arbítrio” e poderia ter “partido” ao perceber a situação.

Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal vivia na região de Paris, mas principalmente a partir de 2013, ao se mudarem para Mazan, até 2020.

O ex-funcionário da empresa de energia elétrica EDF administrava um ansiolítico forte à esposa e determinava que os homens, contatados no site de encontros coco.fr – já desativado – não a acordassem.

Também os orientava a não usar perfume ou tabaco, aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que fossem esquecidas no quarto.

Filha foi às lágrimas ao ouvir que pai tinha fotos suas nua no computador

Caroline sendo amparada pelo irmão, ao lado da mãe — Foto: Christophe SIMON / AFP
Caroline sendo amparada pelo irmão, ao lado da mãe — Foto: Christophe SIMON / AFP

Dominique Pélicot também tinha fotos da filha, Caroline, nua, em seu computador. A revelação ocorreu na terça-feira (3), segundo dia de julgamento dele em Avignon, no sul da França, e levou Caroline aos prantos.

Segundo a imprensa, que acompanha o caso, ela abandonou a sala de audiência tremendo e às lágrimas, acompanhada dos dois irmãos, e só retornou 20 minutos depois.

A mãe dela, Gisèle, permaneceu durante todo o relato dos fatos no local. À sua frente, o ex-marido e principal agressor parecia impassível enquanto os crimes eram narrados.

As fotos foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta intitulada “Em volta da minha filha, nua”.

Ao jornal “Le Parisien”, esta semana, Caroline confessou seu medo de que o pai também pudesse ter convidado homens para estuprá-la depois que soube da foto em que aparece com “a calcinha de outra pessoa”:

“Estou convencida de que fui drogada, mas ele nunca vai admitir”.

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