Haddad diz que política de juros conduzida pelo BC não pode ‘jogar o país’ em uma recessão

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: EFE/André Borges
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na sexta-feira (7) que a política monetária – ou seja, a definição da taxa básica de juros da economia pelo Banco Central com base em um sistema de metas – “não pode jogar o país em uma recessão”.
Ele deu as declarações em entrevista à rádio Cidade, de Caruaru (PE).
“Depende da hora e depende da dose. Se está tendo um repique inflacionário, precisa corrigir. O remédio é aumentar a taxa de juros para coibir alta de preços, mas isso tem de ser feito da maneira correta, na dose certa. É como antibiótico, não pode tomar a cartela em um dia, não pode tomar nem menos e nem mais. Politica monetária tem que ter sabedoria. Não pode jogar o país em uma recessão”, declarou Haddad.
- Na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu a taxa de juros pela quarta vez seguida, para 13,25% ao ano, o maior patamar de juros reais do planeta, e indicou que deve realizar novo aumento de um ponto percentual em março deste ano.
- A lógica do Banco Central subir os juros, para conter a inflação, é justamente desaquecer a economia, que vem registrando taxas elevadas de crescimento.
- O objetivo do BC é tentar conter das expectativas de inflação para os próximos anos e, com isso, atingir as metas fixadas (centro de 3%, e teto de 4,5% ao ano). A instituição também admitiu que o preço alto dos alimentos deve se propagar e admite novo estouro da meta de inflação em junho.
- No fim do mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou, o fato de a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) presidida por Gabriel Galípolo ter mantido o ritmo de alta dos juros da economia. “O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra”, afirmou, na ocasião.
- Nesta semana, Lula disse acreditar que o Brasil precisa passar por um “processo educacional” para que os consumidores aprendam a desviar de preços mais altos no supermercado e substituir aquela compra por produtos similares. “Se você vai no supermercado e você desconfia que tal produto está caro, você não compra”, acrescentou.
Questionado sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que a população não deve comprar produtos considerados caros nos supermercados, Haddad não respondeu.
Disse apenas que, mesmo com secas no ano passado, inundação no Rio Grande do Sul e disparada do dólar no fim de 2024, os preços “ainda estão abaixo do que o presidente lula herdou do presidente Bolsonaro”.
“Vamos continuar tomando medidas de aumentar salário mínimo, corrigir tabela do IR, baixar o dólar, e melhorar a safra para combater os preços altos”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
No tripé macroeconômico utilizado na economia brasileira, não há meta formal para a taxa de câmbio, que é flutuante, ou seja, o dólar sobe e desce de acordo com o fluxo de oferta e demanda da moeda norte-americana.
Ao mesmo tempo, há metas para as contas públicas (política conduzida pelos Ministérios da Fazenda e Planejamento) e para a inflação (a cargo do BC, por meio da definição da taxa de juros).
Combate ao contrabando
Na entrevista à rádio Cidade, de Caruaru, o ministro Haddad também afirmou que os governadores do país se uniram e “passaram a cobrar ICMS de contrabandistas”.
“Melhorou situação do varejo. Todos governadores se uniram a passaram a cobrar dos contrabandistas, o que não era feito no governo anterior”, acrescentou o ministro da Fazenda.
Haddad se referiu à decisão dos estados, tomada em 2023, de iniciar a cobrança de ICMS, com alíquota de 17%, sobre as encomendas internacionais de outros países, para compras abaixo de US$ 50.
- Em agosto de 2024, o governo brasileiro, em conjunto com o Congresso Nacional, instituiu uma alíquota de 20% para as compras do exterior de até US$ 50.
- Ao mesmo tempo, os estados elevaram sua tributação, por meio do ICMS, também para 20%, com validade a partir de abril.
- Segundo cálculos dos varejistas, a partir de abril deste ano, quando começar a vigorar a nova alíquota do ICMS sobre encomendas de até US$ 50, a taxação subirá para 50%. Importadoras reclamaram, mas o varejo nacional defende a medida.
Com essas ações, de acordo com dados da Receita Federal, o número de encomendas internacionais feitas pelos brasileiros caiu 11% em 2024 na comparação com 2023. Apesar disso, a arrecadação do imposto de importação cresceu 40,7% em relação a 2023.