Homem dá enxadada em peixe amazônico em condomínio de luxo no Pará

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Pirarucu morto em condomínio de luxo na região metropolitana de Belém (Foto: @erikamorhy no Twitter) - @erikamorhy no Twitter

Por TIMÓTEO LOPES

BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Um pirarucu com cerca de cem quilos —a espécie é um dos maiores peixes de água doce do planeta— foi morto neste domingo (23) por um grupo de pessoas em um condomínio de luxo em Ananindeua (PA), na região metropolitana de Belém.

Em vídeo gravado por uma moradora do condomínio, é possível ouvir risos de homens que participam da pesca seguida de agressões contra o pirarucu, espécie nativa ameaçada de extinção. VEJA VÍDEO CLICANDO AQUI.

Um homem diz: “Dá na cabeça dele para ele morrer. Mata esse peixe aí na água”. Quando o pirarucu é retirado do lago, um outro homem com uma enxada aplica vários golpes na cabeça do animal.

O caso aconteceu no residencial Lago Azul, onde mora o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) e sua família. O peixe foi morto em uma área externa do condomínio, junto ao lago onde foi capturado.

Após o abate, o pirarucu foi levado pelos moradores. As imagens geraram revolta em condôminos e também nas redes sociais.

A prática de pesca amadora pelo sistema “pesque e solte” é regulamentada e fiscalizada por órgão estadual competente. O caso, porém, pode configurar crime de maus-tratos a animais.

Segundo a ONG WWF Brasil, a exploração não sustentável do pirarucu fez com o que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) criasse, em 2004, uma instrução normativa que regulamenta a pesca da espécie na Amazônia.

A atividade foi proibida em alguns meses do ano —no Pará, a restrição vale de dezembro a maio— e foram estabelecidos tamanhos mínimos para a captura e comercialização.

Professor de aquicultura do Instituto Federal do Pará, Alex Lobão afirma que o pirarucu —cujo comprimento quando adulto pode variar de dois a três metros, com peso entre 100 e 200 kg— é uma das espécies mais comercializadas da Amazônia.

“O alto valor de mercado e a facilidade de captura fizeram com que houvesse grande pressão de pesca sobre essa espécie, sendo hoje necessários instrumentos legais para seu controle e captura, uma vez que a pesca predatória da espécie pode provocar uma diminuição drástica dos estoques pesqueiros”, afirma.

A administração do residencial Lago Azul classificou o episódio de “cena dantesca” e disse que a prática da pesca esportiva não é regulamentada no condomínio, ainda que os moradores possam “pescar e soltar” os peixes no local.

O condomínio afirmou que registrou um boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia em Ananindeua. Também disse que todos os condôminos envolvidos já foram identificados e serão penalizados com multa de mais de R$ 1.200 reais por morador.

“A administração reitera que a cena dantesca não pode voltar a se repetir”, diz ainda, em nota.

A Polícia Civil do Pará não se manifestou sobre o caso até a conclusão desta reportagem.

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