Hugo Motta cita ‘injustiças’ em condenações do 8/1 e descarta atuar contra PL da Anistia

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O líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) - Gabriela Biló/Folhapress

O líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB), afirmou na terça-feira (29) que não assumiu compromisso contra o projeto de lei que concede anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro e defendeu a criação da comissão especial para debater a proposta.

Na segunda (28), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), retirou o projeto da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa e criou a comissão especial para debatê-lo. Na prática, com a decisão, o processo de discussão do projeto começará praticamente do zero.

Motta se disse favorável à iniciativa e descartou que isso deve ser atrelado à eleição do novo comando da Câmara, marcada para fevereiro, afirmando não ser “justo” misturar uma coisa com a outra.

“Não vejo um assunto, por mais importante que seja, como é o PL da Anistia, como o único ponto a ser levado em consideração, até porque nós não estamos assumindo compromisso contrário ao PL da Anistia. Estamos dizendo que é um tema que será debatido e discutido. E o presidente da Câmara decidiu, até por essa complexidade, ter uma comissão para discutir só esse tema”, disse.

“Tenho defendido o equilíbrio, o distensionamento e a convergência. E essas matérias, por mais difíceis que sejam, teremos a cautela necessária, o equilíbrio necessário, para conduzir essas discussões e, com isso, dar uma contribuição ao nosso país”, afirmou.

Ele também se referiu aos ataques golpistas como um “triste episódio”, mas deu uma indireta ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), ao citar “injustiças” cometidas eventualmente com penas elevadas.

“Essa comissão terá capacidade de, com muita responsabilidade, discutir o tema que é tão importante não do ponto de vista político, mas também do ponto de vista da relação com o Poder Judiciário.”

“Nós tivemos um episódio triste, que foi o 8 de janeiro, mas também não podemos permitir que injustiças sejam cometidas com pessoas que têm levado condenações acima daquilo que seria o justo para com a participação ou não dessas pessoas no ato”, afirmou.

Em seguida, Motta disse que o Brasil precisa, de uma vez por todas, “passar esse assunto a limpo e não permitir que isso aconteça novamente”. “Foi um triste episódio de agressão às instituições democráticas do país.”

A discussão do projeto de lei da anistia tem sido lembrada nas negociações para a sucessão de Lira. Isso porque o PL, partido de Jair Bolsonaro, quer a aprovação da proposta, enquanto o PT do presidente Lula é contra.

Motta também afirmou que a criação da comissão não significa que o PL não irá apoiá-lo na disputa e disse que tem conversado com o líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), com o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e com o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Vamos respeitar os espaços do PL e valorizar a bancada.”

Uma ala do PT admite, nos bastidores, que um aceno de Motta à aprovação do projeto da anistia pelo 8/1 pode inviabilizar apoio da sigla ao seu nome. No último dia 17, em reunião com petistas, o líder do Republicanos se esquivou de questionamentos sobre qual seria sua posição acerca da proposta.

Questionado sobre o apoio do PT e se há um prazo para que isso ocorra, Motta disse respeitar as dinâmicas internas de cada legenda e que a “ansiedade e precipitações” podem atrapalhar o processo.

“Temos a confiança, com as conversas que tivemos, de que o PT caminhará conosco nessa disputa, assim como respeitamos e confiamos no apoio do PL.”

A bancada do Republicanos se reuniu na sede da legenda em Brasília para lançar o nome do deputado na disputa pela sucessão de Lira na presidência da Câmara. Mais cedo na terça (29), o próprio Lira oficializou apoio ao nome de Motta na eleição da Mesa Diretora.

Motta foi alçado à disputa após uma reviravolta, com a desistência do presidente de seu partido, Marcos Pereira (Republicanos-SP).

No pronunciamento, o deputado estava acompanhado de Pereira e de parlamentares da bancada. No início de sua fala, agradeceu publicamente o presidente do partido por ter alçado o seu nome na disputa, citando “grandeza” do correligionário e afirmando que ele é o “principal fiador dessa construção”.

Pereira disse que a bancada do partido na Câmara tem a certeza de que Motta “reúne todas as condições para conduzir a presidência da Câmara em defesa da atuação parlamentar e no diálogo harmônico e permanente com os demais Poderes”.

À tarde, na terça (29), Motta recebeu o apoio público do PP, partido de Lira, em reunião com participação do presidente da Câmara, do presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), e do ministro do Esporte do governo Lula, André Fufuca. Segundo o líder da bancada, o apoio ao nome de Motta foi “unânime e por aclamação”.

Motta afirmou que o PL da Anistia deverá começar a ser analisado neste ano, mas não descarta que sua conclusão possa ficar para o próximo presidente da Câmara. “A Casa tem o seu funcionamento regimental, é um tema que começará a ser tratado este ano. Se possível a sua conclusão da discussão e votação tramitar antes do recesso, caso não seja possível, ficará para a próxima gestão.”

Hoje, também são candidatos os líderes Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD). Antes, Elmar era considerado o favorito para ter a chancela de Lira, já que os dois mantinham relação estreita de amizade.

Com as mudanças, Elmar rompeu com Lira e se aliou a Brito, considerado o nome mais governista entre os três. A ideia deles é fazer um bloco aliado ao Executivo, sem a participação do PL de Bolsonaro, para garantir governabilidade nos últimos dois anos do mandato do petista.

Mais cedo na terça (29), ao declarar apoio a Motta, Lira deu um recado aos partidos, citando “acordos que foram firmados” previamente —nos bastidores, o parlamentar diz que há acordos com PT e PL de apoiarem o seu candidato.

“Com esse meu gesto, espero dar início à concretização de conversas que foram feitas e acordos que foram firmados com diversas legendas partidárias em torno desse mesmo projeto de convergência”, disse.

Ele também afirmou que o candidato com maiores condições políticas de construir convergências é Motta, “nome que demonstrou capacidade de aliar polos aparentemente antagônicos com diálogo, leveza e altivez”.

Deputados do PT afirmaram à reportagem que o partido não deverá se posicionar nesta semana, porque ainda há uma ala que defende que este não é o momento certo para isso. Apesar disso, reconhecem que a tendência é o partido caminhar com Motta, para evitar disputa na base de apoio de Lula no Congresso.

A bancada do PT se reuniu na terça (29) com Elmar e Brito, separadamente, a exemplo de como fizeram com Motta no último dia 17.

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