Israel vai invadir Rafah mesmo sem apoio dos EUA, diz Netanyahu a Blinken

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Benjamin Netanyahu — Foto: Amir Cohen/REUTERS

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse na sexta-feira (22) que Tel Aviv continua determinada a enviar tropas para a cidade de Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza onde mais de 1 milhão de palestinos fogem da guerra, e o faria sem o apoio dos Estados Unidos, se necessário.

A declaração foi feita por meio de um comunicado após um encontro com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Bibi, como o premiê é chamado, disse ter afirmado ao americano que não há como derrotar o Hamas sem entrar em Rafah. “Eu disse a ele que espero fazer isso com o apoio dos EUA, mas, se precisarmos, faremos sozinhos”, afirmou.

O departamento de Estado, por sua vez, divulgou uma nota na qual afirma que o secretário “reafirmou o compromisso dos EUA com a segurança de Israel” e “discutiu esforços para chegar a um acordo para um cessar-fogo de pelo menos seis semanas”. “Blinken enfatizou a necessidade de proteger os civis em Gaza e de aumentar e sustentar a assistência humanitária, inclusive por meio de rotas terrestres e marítimas”, diz o comunicado assinado pelo porta-voz Matthew Miller.

A jornalistas, porém, o secretário subiu o tom ao afirmar que uma ofensiva em Rafah teria o potencial de isolar mais ainda Israel. Segundo ele, uma operação terrestre na cidade “arriscaria matar mais civis, causar mais estragos na assistência humanitária e isolar ainda mais Israel ao redor do mundo, colocando em perigo sua segurança e posição a longo prazo”.

Esta é a sexta viagem do americano ao Oriente Médio desde o início da guerra, no dia 7 de outubro de 2023, e acontece em meio a um dos períodos de maior tensão entre os dois aliados em décadas. Nas últimas semanas, o presidente dos EUA, Joe Biden, chamou a campanha de Israel na guerra em Gaza de “exagerada” e disse que o conflito teve um grande impacto na vida dos civis.

Do lado de fora do hotel em que a equipe de Blinken está hospedada, dezenas de pessoas se reuniram para pedir um cessar-fogo que inclua a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza. “Estamos trabalhando para trazê-los para casa”, disse o americano, enquanto cumprimentava os presentes. Segundo a agência de notícias Reuters, ele também se encontrou com famílias dos reféns americanos-israelenses dentro do hotel.

Tom Schapiro, 27, um dos manifestantes que estavam na porta do hotel disse se opor a uma ofensiva em Rafah. “Queremos encerrar a guerra. Não queremos prolongá-la”, afirmou. “Blinken pode pressionar o governo a fazer um acordo, tenho certeza de que ele tem algum espaço para isso. E se isso significar não enviar armas, deveria fazê-lo. Para nós, os reféns são a coisa mais importante.”

Antes da reunião entre os Bibi e Blinken, que durou cerca de 40 minutos e antecedeu um encontro com o gabinete de guerra, o secretário disse que abordaria a crescente divisão entre os dois países e pressionaria o premiê a tomar medidas urgentes para permitir a entrada de mais ajuda humanitária no território palestino, onde um cenário de morte em massa por fome é iminente, de acordo com a ONU.

A visita incluiu também um encontro com o príncipe herdeiro da Árabia Saudita, Mohammed bin Salman, na quarta (20), e conversas com ministros e autoridades de nações árabes no Cairo, na quinta (21).

Inicialmente, a viagem a Israel nessa nova rodada de diplomacia na região não estava nos planos, mas o país foi incluído na última quarta. Reuniões paralelas também estão ocorrendo na capital do Qatar, Doha, com o objetivo de garantir um cessar-fogo no conflito —no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os esforços para uma trégua naufragaram mais uma vez, desta vez com o veto de Rússia e China a uma resolução proposta pelos EUA.

Blinken afirmou que, apesar de ter sido “cinicamente vetada pela Rússia e China”, a resolução, que tinha como foco demonstrar à comunidade internacional” a “urgência de alcançar um cessar-fogo”, recebeu apoio. Washington vetou três vezes textos que pediam um cessar-fogo no Conselho de Segurança desde o início da guerra.

Última cidade de Gaza que ainda não foi alvo de uma operação terrestre maciça das forças israelenses, Rafah se tornou uma questão central para o desgaste entre a Casa Branca e o governo de Netanyahu. Biden chegou a dizer em entrevista que a abordagem do premiê em relação à guerra “mais prejudicava do que ajudava” Israel e que Rafah representava “uma linha vermelha”, um limite intransponível à ação de Tel Aviv.

Superlotada, a cidade abriga hoje cerca de 1,5 milhão dos 2,2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, e os relatos de desabastecimento e fome devido à restrita ajuda humanitária diante do bloqueio imposto por Israel se avolumam.

Autoridades dos EUA afirmam que o número de entregas de ajuda por terra precisa aumentar rapidamente. “100% da população de Gaza está passando por níveis severos de insegurança alimentar aguda. Não podemos, não devemos permitir que isso continue”, disse Blinken em uma coletiva de imprensa na quinta.

Israel nega os múltiplos relatos de fome na região. O coronel israelense Moshe Tetro, por exemplo, disse que o Exército não acredita na possibilidade de escassez de alimentos no território. “Até onde sabemos, por nossa análise, não há fome em Gaza. Há uma quantidade suficiente de alimentos entrando todos os dias”, disse ele a jornalistas.

ISRAEL ANUNCIA TOMADA DE 800 HECTARES DA CISJORDÂNIA

No mesmo dia da visita de Blinken, o governo de Israel anunciou a apreensão de 800 hectares de terras no Vale do Jordão, na Cisjordânia. Trata-se da maior apreensão de terras em território palestino desde os acordos de paz de Oslo em 1993, segundo a organização israelense contrária à ocupação Peace Now.

O ministro israelense das Finanças, o ultradireitista Bezalel Smotrich, declarou que a área em questão, no norte do Vale do Jordão, é “terra do Estado”. Israel ocupa a região desde a guerra dos Seis Dias, em 1967.

“Alguns em Israel e no mundo tentam minar nossos direitos sobre Judeia e Samaria, mas estamos promovendo assentamentos com base em trabalho duro e de forma estratégica em todo o país”, argumentou Smotrich, que vive em uma colônia, utilizando a terminologia israelense para a Cisjordânia.

Os assentamentos israelenses nos territórios palestinos são ilegais, segundo a legislação internacional.

Com Reuters e AFP

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