Jogadores australianos criticam condições de trabalhadores no Catar antes da Copa do Mundo

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Bandeiras dos países que disputarão a Copa do Mundo são exibidas ao longo de uma rua em Doha, no Catar — Foto: REUTERS/Hamad I Mohammed

Por Lewis Jackson e Andrew Mills, Reuters

A seleção australiana de futebol se manifestou pedindo uma posição do governo do Catar sobre direitos humanos negados e criminalização de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo em um vídeo divulgado na quinta-feira (27), aumentando as críticas ao do anfitrião da Copa do Mundo semanas antes do início do torneio.

O Catar, o primeiro país do Oriente Médio a sediar uma Copa do Mundo, está sob intensa pressão internacional por seu tratamento a trabalhadores estrangeiros e leis sociais restritivas.

“Aprendemos que a decisão de sediar a Copa do Mundo no Catar resultou no sofrimento de inúmeros colegas de trabalho”, disse o meio-campista Jackson Irvine.

O vídeo, gravado por jogadores da seleção da Austrália, critica as condições de trabalho dos mais de 1,6 milhões de trabalhadores migrantes do Catar. Eles também pedem aceitação do relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, que são ilegais no país.

“Como jogadores, apoiamos totalmente os direitos das pessoas LGBTQIA+, mas no Catar as pessoas não são livres para amar as pessoas que escolhem”, disse o meio-campista Denis Genreau.

Os Socceroos, apelido do time australiano, reconheceram as reformas feitas até o momento, mas pediram mais, incluindo um centro para migrantes, solução para aqueles que tiveram direitos negados e a descriminalização de todas as relações entre pessoas do mesmo sexo.

Uma declaração separada da Football Australia reconheceu as reformas, mas disse que os jogos foram associados “ao sofrimento de alguns trabalhadores migrantes e suas famílias”.

Holanda enviará delegação

O governo holandês confirmou na semana passada que enviaria uma delegação para o Catar em novembro devido a preocupações com o tratamento dado aos trabalhadores migrantes.

“Escolhemos a cooperação com o Catar com vistas a uma mudança sustentável”, disse disse o ministro das Relações Exteriores holandês Wopke Hoekstra e o ministro dos Esportes Conny Helder em uma carta conjunta ao parlamento, acrescentando que eles temiam que ficar longe “limitasse a oportunidade de diálogo e cooperação”.

Fundo de indenização

A ideia de um fundo de indenização para as vítimas de acidentes de trabalho durante as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo do Catar foi defendida nos últimos meses por várias organizações de defesa dos direitos humanos, que fizeram um apelo aos patrocinadores do evento para que apoiassem essa proposta.

O secretário-geral adjunto da FIFA, Alasdair Bell, também declarou interesse na criação desse fundo. “É importante tentar ver que qualquer um que tenha se ferido devido a sua participação na Copa do Mundo seja compensado de alguma maneira”, disse.

O Catar criou sistemas de indenização aos trabalhadores, mas as medidas foram tardias e não beneficiaram a todos, segundo a Anistia Internacional.

A Anistia comemorou algumas das reformas sociais adotadas pelas autoridades do país, mas apontaram algumas lacunas legais na proteção dos trabalhadores, além de um problema recorrente de salários não pagos.

Uma das maiores críticas, segundo a Humans Right Watch, era em relação ao sistema conhecido como kafala, onde o trabalhador migrante só poderia mudar de emprego se tivesse permissão do seu atual empregador, um sistema que levava a uma forma de trabalho forçado. No Catar essa regra foi flexibilizada, dando maior liberdade aos estrangeiros.

Calúnias e críticas construtivas

Emir do Catar Tamim bin Hamad Al Thani participa de uma reunião com o presidente do Irã Ebrahim Raisi (que não aparece na foto) no Cazaquistão, em 13 de outubro de 2022 — Foto: Presidente do Irã/WANA via Reuters
Emir do Catar Tamim bin Hamad Al Thani participa de uma reunião com o presidente do Irã Ebrahim Raisi (que não aparece na foto) no Cazaquistão, em 13 de outubro de 2022 — Foto: Presidente do Irã/WANA via Reuters

Algumas das críticas que o Catar vem enfrentando são calúnias, disse o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani, em um discurso na terça-feira (25), mas sem especificar exatamente quais seriam os comentários caluniosos.

“Inicialmente, lidamos com o assunto de boa fé”, afirmou o xeque Tamim em um discurso político televisionado, acrescentando que algumas das críticas iniciais foram construtivas.

Mas, disse ele, uma campanha contra o Catar se expandiu para “incluir invenções e padrões duplos que foram tão ferozes que infelizmente levaram muitas pessoas a questionar as verdadeiras razões e motivos por trás da campanha”.

O governo introduziu reformas, incluindo regras para proteger os trabalhadores do calor e um salário mínimo mensal de 275 dólares, e diz que continua a desenvolver seu sistema de trabalho.

Os trabalhadores de outros países representam 85% da população de cerca de 3 milhões do Catar, que está entre os maiores produtores de gás natural do mundo e uma das nações mais ricas per capita.

O Código Penal do Catar proíbe a atividade homossexual para homens e mulheres e prevê, como pena máxima, até o apedrejamento. No entanto, O secretário-geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado do Mundial no Catar, Hassan Al Thawadi, disse ao ge que o país garante que os turistas homossexuais serão bem-vindos ao país durante a Copa do Mundo.

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