Liberdade de imprensa: Quem é Julian Assange, ativista que Lula defendeu em seu discurso na ONU

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Presidente defendeu liberdade de imprensa, e citou jornalista australiano ao afirmar que profissional ‘não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente’

Julian Assange
Julian Assange — Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP

Em discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou ser fundamental preservar a liberdade de imprensa. Ele citou o jornalista australiano Julian Assange, e disse que o profissional “não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima”.

Fundador da WikiLeaks, em 2012 Assange pediu asilo à embaixada do Equador em Londres para evitar ser extraditado à Suécia, onde era acusado de estupro. O processo sueco foi encerrado, mas ele dizia temer estar sendo secretamente investigado nos Estados Unidos, o que se confirmou em 2018. Entenda por que o australiano se tornou uma pessoa incômoda para o governo americano.

WikiLeaks publica documentos americanos confidenciais

O WikiLeaks entrou em cena em 2010, quando passou a publicar informações secretas sobre a atividade militar americana no Iraque e no Afeganistão ao longo de vários meses. Em julho, publicou um arquivo com seis anos de documentos militares confidenciais sobre a guerra no Afeganistão. Depois, divulgou um segundo montante de relatórios secretos, desta vez sobre a Guerra do Iraque, em outubro.

No mês seguinte, publicou 250 mil telegramas diplomáticos confidenciais americanos que mostravam os bastidores das negociações entre Estados Unidos e aliados durante a “guerra ao terror” lançada pelo governo de George W. Bush depois do 11 de Setembro.

Nos anos recentes, Assange passou a ser criticado nos meios democratas nos Estados Unidos por supostamente procurar beneficiar a Rússia com vazamentos de material confidencial. Em 2016, ele divulgou, por exemplo, e-mails da campanha de Hillary Clinton obtidos quando hackers russos invadiram computadores do Comitê Nacional Democrata.

EUA condenam soldado Manning

Parte do material sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque foi entregue ao WikiLeaks pela soldado Chelsea Manning — na época Bradley Mannning —, presa e condenada em 2013 nos EUA a 35 anos de prisão por violação da Lei de Espionagem. Manning passou sete anos na cadeia, até ser indultada em 2017 pelo então presidente Barack Obama.

Investigação de estupro e pedido de extradição da Suécia

Entre agosto e setembro de 2010, Assange foi alvo de acusações de estupro e abuso sexual feitas por duas mulheres na Suécia, onde havia morado. A Suécia pediu a extradição dele ao Reino Unido, a fim de interrogá-lo. Ele disse temer que a Suécia o entregasse aos Estados Unidos e prometeu lutar contra o pedido de extradição.

Justiça britânica aprova extradição

Um tribunal britânico decidiu em novembro de 2011 que Assange poderia ser extraditado para a Suécia. Seus advogados contestaram essa decisão, argumentando que ele não receberia um julgamento justo se isso acontecesse. Ele perdeu seu último recurso na Suprema Corte da Grã-Bretanha em junho de 2012.

Equador concede asilo a Assange

Assange buscou refúgio na embaixada do Equador em Londres e recebeu asilo diplomático em agosto de 2012. A decisão deixou Assange confinado na missão: se ele deixasse o edifício, seria preso pela polícia britânica.

Painel da ONU decide a seu favor

O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, encarregado de verificar a implementação de tratados sobre direitos civis, determinou em janeiro de 2016 que a Grã-Bretanha e a Suécia haviam arbitrariamente detido Assange, e que deveriam restaurar sua liberdade de ir e vir e compensá-lo. O comitê disse que os promotores suecos não haviam acusado formalmente o australiano e que nunca haviam mostrado provas contra ele. A decisão foi desconsiderada pelos dois países, e Assange permaneceu na embaixada.

Interrogatório na embaixada

Promotores suecos, com a ajuda do Equador, interrogaram Assange por quatro horas na embaixada em Londres, em novembro de 2016. Seu advogado sueco, Per E. Samuelson, não foi convocado para comparecer, e a validade do depoimento foi questionada.

Um novo presidente equatoriano

Lenín Moreno é eleito presidente do Equador em 2017 e rompe com seu antecessor e ex-aliado Rafael Correa, que havia concedido o asilo a Assange. Moreno disse que deixaria o australiano permanecer na embaixada, mas passou a negociar o fim do asilo com o Reino Unido. Também chamou Assange de hacker, reduziu seu acesso à internet e o advertiu a não fazer declarações políticas.

Suécia arquiva investigação sobre estupro

Em maio de 2017, os promotores suecos anunciaram que encerrariam a investigação de estupro contra Assange. A procuradora-geral, Marianne Ny, deixou claro que isso não significava que ele estava sendo declarado inocente. Ny disse que prosseguir com o caso exigiria que Assange fosse notificado das acusações contra ele e que ele estivesse presente em um tribunal sueco, o que era impossível.

Na Grã-Bretanha, Assange ainda enfrenta um mandado de prisão por não comparecer à Justiça depois que sua extradição foi aprovada. A Polícia Metropolitana de Londres disse que o prenderia se ele tentasse deixar a embaixada. Os advogados do australiano tentaram derrubar o mandado de prisão duas vezes, mas em ambas foi derrotado na Justiça.

Equador concede cidadania

No início de 2018, o Equador anunciou que havia tomado medidas para acabar com o longo impasse diplomático, incluindo a concessão da cidadania a Assange em dezembro, alguns meses depois de ele ter solicitado. Dias depois, o Equador pediu que o Reino Unido concedesse imunidade diplomática a Assange para que ele pudesse deixar a embaixada, mas o pedido foi recusado. O governo equatoriano então disse que buscaria um mediador para ajudar a negociar um possível acordo que o liberaria para deixar o prédio.

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