Lira não prorroga CPI do MST e comissão é encerrada sem votar relatório final

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Arthur Lira. Foto: 06/10/2022 REUTERS/Adriano Machado

por Mayara da Paz

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), não atendeu ao pedido de prorrogação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as invasões do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Com isso, o colegiado encerrou os trabalhos sem votar o parecer final do relator Ricardo Salles (PL-SP). O documento, que contava com 11 pedidos de indiciamento, sequer foi analisado pela comissão. Leia mais sobre o relatório abaixo.

Oficialmente, a CPI foi encerrada na terça-feira (26), quando havia uma expectativa para que o parecer final fosse votado.

A sessão, porém, foi cancelada. Isso porque, na semana passada, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) pediu vista, ou seja, mais tempo para analisar o parecer de Salles.

Pelo regimento interno da Câmara, o prazo de vista é de duas sessões plenárias. Logo, o relatório só poderia ser votado na próxima quinta-feira (28), prazo além do limite determinado pelo presidente da Câmara.

A cúpula da Comissão chegou a pedir uma nova prorrogação a Lira, mas a solicitação não foi atendida.

O colegiado deu início aos trabalhos ainda em maio, com um prazo inicial de 120 dias para conduzir as investigações.

Os deputados, porém, não avançaram como o esperado, e a CPI só ganhou um novo fôlego depois que o presidente da Câmara prorrogou o prazo para entrega do relatório final para essa terça.

Pacote contra invasões de terra

Ao confirmar o encerramento da CPI nesta quarta-feira (27), o presidente do colegiado, deputado Zucco (Republicanos-RS), prometeu entregar a Lira um pacote de projetos de lei, batizado de “Invasão Zero”, que já conta com o apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Segundo ele, entre as propostas, estão:

  • A vedação da concessão de benefícios sociais, crédito agrícola ou nomeação para cargos públicos para quem participa de invasões, além do impedimento em participar de programas relacionados à reforma agrária;
  • A classificação como “terrorismo” os atos violentos contra propriedades públicas e privadas;
  • A autorização para que a polícia realize ações sem a necessidade de ordem judicial para retomada de propriedades invadidas.

“Cabe ao setor produtivo se manter mobilizado, apoiar e pressionar este Parlamento para que essas propostas sejam aprovadas em regime de urgência”, disse Zucco.

O que dizia o relatório de Salles

Na última semana, Ricardo Salles propôs o indiciamento de 11 pessoas, entre elas o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias e o líder da Frente de Luta Campo e Cidade, José Rainha.

Para ele, os membros dos movimentos, que chama de “facções”, atentam contra produtores rurais e contra os “próprios integrantes” das organizações.

“As informações disponíveis comprovam que não há, ao menos nesse momento, necessidade de se aumentar as áreas destinadas à reforma agrária, mas, sim, premência de ajustar e viabilizar, pela ótica da eficiência, da meritocracia e da produtividade, os milhares de assentamentos já existentes”, escreveu Salles no documento.

O relatório também sugeria projetos para:

  • Aumentar a pena do crime de esbulho possessório, quando há perda da posse de um terreno por meio de violência;
  • Impedir participantes de invasões de serem beneficiários ou fornecedores do Programa de Aquisição de Alimentos;
  • Criar delegacias especializadas em conflito agrário.

Nesta quarta, Salles disse que mesmo que o relatório não tenha sido votado pela comissão, o documento será entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Procuradoria-Geral Eleitoral e ao Tribunal de Contas da União (TCU).

De acordo com ele, o colegiado teve bons avanços, “ainda que manobras regimentais e cooptação governamental” tenham feito com que o relatório não tenha sido votado.

“Se tivesse sido submetido à votação ontem, teria sido aprovado. Mas as manobras regimentais não permitiram que isso acontecesse”, afirmou.

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