Lula afaga militares e elogia ação das Forças Armadas contestada por ambientalistas

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Lula participa da assinatura do termo de compromisso para implementação da Escola de Sargentos em Pernambuco, no Recife - Ricardo Stuckert / PR / Divulgação

por José Matheus Santos

O presidente Lula (PT) fez afagos aos militares durante agenda na sexta-feira (19) no Recife. O petista enalteceu ações ambientais das Forças Armadas ao mencionar a área onde será construída uma Escola de Sargentos na região metropolitana da capital pernambucana.

“Sei da vocação e da capacidade de luta dos nossos ambientalistas. Sei de tudo isso, mas o que a gente tem que fazer é agradecer alguma coisa. Se não fosse o Exército ter essa área, ainda teria alguma árvore aqui? Ou seria tudo transformado em favela e ocupação desordenada?”, disse Lula.

A construção da escola, que ficará no território de Abreu e Lima, no Grande Recife, é contestada por ambientalistas. As críticas estão relacionadas à derrubada de árvores. A pedra fundamental da obra foi lançada em 2022 pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lula visitou a sede do Comando Militar do Nordeste e acompanhou a troca de comando entre generais. A presença de Lula é um gesto ao Exército. O evento contou com a participação do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que também é pernambucano.

Além da troca de comando, Lula participou da assinatura do termo de compromisso para construção da Escola de Sargentos, na região metropolitana do Recife.

Em seu discurso, Lula minimizou o desmatamento. “Temos que agradecer o que vocês fizeram. Eu fui a Marambaia na semana passada. Fico pensando que, se não fosse a Marinha, aquilo teria virado um resort, quem tava lá não era quilombola e pescador, era os grãs finos do mundo inteiro fazendo casa para fazer sombra dentro do mar e depois ir tomar sol fora da praia porque não consegue mais tomar sol na praia”, acrescentou.

O terreno reservado para as obras, no município de Abreu e Lima, dentro do Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti, do Exército, fica dentro da APA (Área de Proteção Ambiental) Aldeia-Beberibe e concentra nascentes que abastecem o principal reservatório de água do Recife, além de um dos raros remanescentes de mata atlântica do estado.

Segundo o Fórum Socioambiental de Aldeia, trata-se do maior bloco deste bioma ao norte do rio São Francisco.

Uma lei complementar de 2011 determina que empreendimentos militares para preparo e emprego das Forças Armadas estão isentos de licenciamento ambiental.

Essa agenda de Lula a Pernambuco é tida pelos militares como um aceno de que o presidente arbitrou a disputa a favor do Exército diante de questionamentos dos ambientalistas.

A escola ficará em uma área usada pelo Exército desde a década de 1940. O terreno tinha um canavial anteriormente e foi reflorestado pelo Exército. A instituição vai sediar a formação de novos sargentos para o Exército. O megaprojeto é avaliado em R$ 1,74 bilhão.

Quando a escola começar a funcionar, cerca de 6.000 pessoas, entre alunos e corpo administrativo, farão parte. A folha salarial é estimada em mais de R$ 211 milhões por ano.

O campo de instrução que abrigará a obra tem 7,4 mil hectares (mais de 46 parques do Ibirapuera), e o Exército alega que a escola ocupará no máximo 2% da área, e que a porção a ser desmatada será ainda menor.

A ida a Pernambuco faz parte de uma série de viagens de Lula pelo Brasil de olho nas eleições municipais. O petista decidiu iniciar o giro doméstico por bastiões eleitorais do PT: Bahia, Pernambuco e Ceará.

Durante o périplo pelo Nordeste, três das quatro agendas são ligadas às Forças Armadas.

Além do evento da sexta-feira (19), na quinta (18), em Salvador, o presidente lançou um centro aeroespacial, vinculado à Aeronáutica.

E, do Recife, o petista seguiu para Fortaleza, para o lançamento do futuro campus do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) na capital cearense.

Na quinta (18), Lula anunciou, em Ipojuca (PE), a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, que faz parte do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e é vista no mercado como favorável à Petrobras, por ampliar sua produção de combustíveis.

Nos eventos no Recife e em Ipojuca, Lula esteve acompanhado da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), que tem feito acenos ao presidente em indícios de uma possível aproximação futura. Também estavam presentes a senadora Teresa Leitão (PT-PE), e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), com quem o presidente jantou na noite de quinta (18).

Participaram dos dois eventos a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

A refinaria foi um dos símbolos do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e teve peso importante no maior prejuízo já registrado pela estatal, em 2014, fruto de baixas contábeis em investimentos que não tinham viabilidade econômica.

A viagem pelos três principais estados do Nordeste abriu a série de roteiros que Lula promete fazer neste ano pelo Brasil. O presidente externou a aliados que quer viajar mais pelo Brasil em 2024, após priorizar a agenda internacional em 2023, o primeiro ano do mandato atual.

 

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