Lula diz que governo de coalizão dificulta presença de negros e mulheres no primeiro escalão

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu jornalistas para café da manhã no Palácio do Planalto na terça (23) - Gabriela Biló /Folhapress

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na terça-feira (2) que o governo de coalizão dificulta a presença de negros, mulheres e pessoas com deficiência no primeiro escalão. Durante entrevista à rádio Sociedade, na Bahia, Lula afirmou que o governo é um “conjunto de forças políticas que não combinam no programa ideológico”, e que os partidos muitas vezes não indicam pessoas desses setores da sociedade para cargos no governo.

— Já é muito representado, mas aquém do que as pessoas precisam. Eu, sinceramente, acho que a gente precisa fazer mais. Acho que tem muitas atividades que poderiam incluir a sociedade brasileira inteira. Acontece que você tem um governo de coalizão. Você tem um governo com conjunto de forças políticas que não combinam no programa ideológico. Então, quando você pede para essas pessoas indicarem um ministro, nem sempre eles indicam um ministro que seria saudável para a participação de todas as pessoas — afirmou Lula.

Apesar das declarações, Lula optou por demitir mulheres do primeiro escalão do seu governo em reformas ministeriais para abrir espaço para partidos do Centrão. Daniela Carneiro, ex-comandante do Ministério do Turismo, foi demitida por Lula para dar espaço ao ministro Celso Sabino (União-PA). Ana Moser, que comandava o Ministério dos Esportes, saiu do governo para dar o cargo a André Fufuca (PP-MA).

Além disso, desde que chegou ao governo, Lula tem sido criticado por ter indicado dois homens para as vagas disponíveis no Supremo Tribunal Federal. O ministro Flávio Dino, último indicado por Lula, ocupou a cadeira da ministra aposentada Rosa Weber, reduzindo o número de mulheres na Suprema Corte.

Na semana passada, o presidente já havia afirmado, durante uma entrevista, que é “mais difícil” encontrar mulheres e pessoas negras para determinados cargos, após ser questionado sobre a falta de diversidade no governo. O petista argumentou que a sub-representatividade é consequência do fato de que estes grupos não tiveram participação “mais contundente” na política brasileira.

— Está faltando mulher, isso é um problema crônico que é meu dia a dia. Discuto isso todo dia com a Janja. Como a mulher não teve uma participação ativa por muito tempo, fica mais difícil você encontrar mulher para determinados cargos e fica mais difícil você encontrar negros para determinados cargos — disse o presidente na ocasião.

A pimeira-dama Janja da Silva, já chegou a reclamar publicamente da falta de representatividade.

— Toda vez que eu chego lá num evento no Supremo, eu vou direto para ela. Porque eu sempre entro naquela sala, e é uma sala muito masculina. Aquilo me incomoda muito, e aí eu sempre busco a ministra Cármen lá. Eu espero, realmente, é um espaço muito difícil, mas eu espero que ainda esse espaço possa ser de mais mulheres – afirmou Janja.

Ainda para atender ao Centrão, Lula demitiu a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, para indicar o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

Lula manteve no primeiro ano de governo a participação feminina em funções de confiança da estrutura federal na mesma proporção da gestão anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em setembro de 2023, último mês com informações disponíveis, as mulheres representavam 40,9% dos 37.618 cargos comissionados executivos (CCE) e funções comissionadas executivas (FCE). Os primeiros são de livre nomeação, enquanto os FCEs são exclusivos para servidores concursados, distribuídos a critério da gestão federal. Em dezembro do ano passado, esse índice era de 40%, em um universo de 36.378 cargos de confiança, patamar também próximo ao de setembro de 2019 (40,1%), no primeiro ano do governo Bolsonaro.

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