Lula e Bolsonaro disputam versões sobre pesquisas, salário e Jefferson

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Bolsonaro e Lula. Fotos: PR/Estevam Costa // Ricardo Stuckert/ PT

Por Raphael Veleda

Em período decisivo para a corrida presidencial, as palavras de ordem nas campanhas dos candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são euforia e confiança. O plano é trabalhar para abafar pontos fracos e amplificar as boas notícias, ainda que seja necessário criá-las. Nesse processo, cada militância se apega à sua própria versão sobre os temas constantes no debate público.

Essas versões costumam ser muito diferentes umas das outras. O caso Roberto Jefferson é um exemplo. Para os bolsonaristas, o presidente afastado do PTB deve responder pelos seus atos; ele teria se radicalizado, mesmo contra a vontade de Bolsonaro e seus aliados – que até ensaiaram defendê-lo no domingo (23/10), mas o abandonaram após o candidato à reeleição classificá-lo como bandido.

Para os lulistas, o político preso após atirar contra policiais federais é um dos aliados mais próximos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e cumpria, com sua resistência à prisão, um plano da campanha bolsonarista para denunciar uma suposta perseguição judicial.

Campanhas e militâncias também travam uma guerra por Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16 milhões de cidadãos aptos a votar. Os candidatos à Presidência da República vencedores nesse estado sempre foram eleitos – o que torna essa unidade federativa simbólica e estratégica.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva ficou na frente de Bolsonaro em Minas no primeiro turno, mas por uma diferença pequena: cerca de 500 mil votos. Desde então, o mandatário conseguiu um apoio engajado do governador reeleito do estado, Romeu Zema (Novo), e tem viajado a cidades mineiras mais de uma vez por semana (como Lula também tem feito, aliás).

Nessa disputa acirrada, ambas as campanhas vazam para a imprensa e para influenciadores digitais supostos dados de suas pesquisas internas (que não são registradas no TSE e não deveriam ser levadas a público), sempre mostrando um cenário mais positivo para seus respectivos candidatos.

As pesquisas registradas também são motivo de discórdia entre as militâncias. Em um cenário agravado pela desconfiança em relação aos institutos de pesquisa após erros nas previsões de primeiro turno, cada militância se apega aos levantamentos que se mostram mais favoráveis para seus candidatos e tentam descredibilizar os demais.

Apoiadores de Lula, por exemplo, começaram a semana celebrando os levantamentos Atlas e Ipec, que mostraram estabilidade na disputa, com o petista na frente, ou ligeiro aumento da vantagem do candidato sobre Bolsonaro.

Já os bolsonaristas preferem se apegar aos números da pesquisa Brasmarket, também divulgados na segunda, que mostram Bolsonaro liderando a disputa – e abrindo vantagem em comparação à semana anterior.

A disputa de preferências continuou na terça (25/10): os petistas celebraram a estabilidade com Lula na liderança na pesquisa Ipespe, e os bolsonaristas comemoraram o empate técnico entre o mandatário e Lula, no levantamento do Paraná Pesquisas.

O próprio Bolsonaro disse, em entrevista na segunda (24/10), que segue sem acreditar nas pesquisas, mas disse que os trackings internos de seu partido já indicam um empate técnico entre ele e Lula. “Pessoal passa, meus técnicos, que a gente está num empate técnico. Mas eu sempre digo: não podemos confiar em pesquisas. Porque, coincidentemente, todas as pesquisas jogam contra mim desde 2018. E não foi diferente agora”, declarou em entrevista à diretora-executiva do portal, Lilian Tahan.

Visões econômicas distintas

Nos programas eleitorais obrigatórios e nas inserções da campanha de Bolsonaro no rádio e na TV, o Brasil é um país com economia decolando e perspectivas de melhoras ainda mais chamativas em caso de reeleição. No material de campanha de Lula, o país está quebrado, a inflação dos alimentos está fora de controle, e as perspectivas são desastrosas, sobretudo para os mais pobres, se Bolsonaro seguir no poder.

A batalha do momento na economia está em torno do salário mínimo. O marketing petista já havia passado a campanha toda lembrando que o governo Bolsonaro não concedeu aumento real (acima da inflação) sobre o salário mínimo e ampliou a artilharia acerca do tema após o ministro da Economia, Paulo Guedes, aventar a possibilidade de mudar o cálculo para o reajuste.

Com a ajuda de Janones, que gravou vídeo acusando o governo Bolsonaro de buscar reduzir o valor real do salário mínimo, o assunto ganhou força e obrigou o próprio candidato à reeleição a reagir e, como Lula, prometer que dará aumentos reais, caso vença a eleição.

Toda essa batalha de versões se dá sob o escrutínio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte tem sido intensamente acionada pelas campanhas para barrar falas dos candidatos e interferir nas redes sociais (o que irrita militantes de ambos os lados).

Só neste início de semana, o TSE já determinou que Lula e seus aliados excluam vídeos em que acusam Bolsonaro de querer reduzir o salário mínimo. A Corte Eleitoral também estabeleceu que a campanha de Bolsonaro deve remover do ar vídeos que ligam o petista à criminalidade, por uma visita dele ao Complexo do Alemão, no Rio.

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